Enfim só, por Silvia Mendonça

Saindo, deixo uma crônica minha, que considero bem divertida. Espero que gostem!

ENFIM, SÓ!
Por Silvia Mendonça

Mulher não tem jeito: o primeiro homem que aparece, vai logo transformando em príncipe encantado, certa de que o sujeito vai amá-la, protegê-la e respeitá-la até que a morte os separe. Faltou alguma coisa? Não, acho que as palavras são estas, ditas (ou sussurradas) no altar, no cartório, ou no escuro do quarto, tanto faz. Depois de um tempo (não importa quanto), a união precipitada (e mal interpretada) desaba diante de uma toalha molhada em cima da cama. Se for ele quem deixou o objeto fora do lugar (e sempre é), aproveita para dar o fora. E você fica sozinha (quantas vezes com esta?), remoendo o que foi que deu errado, de novo.

Mas, passada a tempestade, a fase do chá de camomila, do ombro dos amigos e dos lenços de papel, você respira aliviada. Percebe que deixou de ser a ex de alguém e começa a desfrutar as vantagens de voltar a ser solteira. Pode pôr o pé na estrada, arrumar novos amigos (os antigos e comuns costumam ser péssimos conselheiros), namorar, fazer tudo o que queria e sempre pôde antes de se meter em mais uma barca furada.

No início, a cama, sem ele, parecia imensa, vazia? Agora, como é prazeroso poder se esparramar sobre ela, que é toda sua novamente, não é? E, convenhamos: trocar os vídeos do Jean-Claude Van Damme (apesar de ele ser um gato) por Tomates Verdes Fritos é delicioso. Mas aí o carro quebra. Ou você ouve da amiga: "Ih, está faltando homem no mercado". (E está mesmo, principalmente do seu tipo preferido, o sapo). Pausa para refrear o pânico: "Será que vou dar conta da situação", começa a se perguntar. Claro que vai. E por dois bons motivos: primeiro, você já passou pelo mais difícil (que foi se livrar do "mala sem alça"); segundo, é só acompanhar meu raciocínio.

Essa lorota de no mercado faltar Homem (atenção, revisor o h é maiúsculo, mesmo), de existirem mulheres a mais, não vão ser problemas para quem chegou até aqui, intacta, sem perder as esperanças. Ou vai? Acalme-se! Saiba que em oito dos 27 estados brasileiros a população masculina é maior do que a feminina. Está certo que, em Goiás, existem 10% a mais de mulheres do que homens. Porém, é a mesma diferença registrada no Rio de Janeiro e Distrito Federal. Em São Paulo, o número cai para 5,1%. O Maranhão e Rio Grande do Norte registram índices ainda menores: 4,3% e 3.2%, respectivamente. Portanto, estas estatísticas não devem assustar uma mulher tão determinada a não ficar sozinha.

Ficou mais animada? Tenho certeza que sim, apesar de temer que ainda não esteja preparada para fazer uma boa escolha. Mas, enfim, vamos continuar o raciocínio – e as boas novas: a maior parte desse excedente é composto de mulheres de terceira idade, o que não é o seu caso (ou é?). Bem, felizmente (para muitas, infelizmente) nós vivemos mais. Na faixa dos 80 anos, há cerca de três mulheres para cada homem da mesma idade. E não estou tirando esses números da cartola. Quem os afirma é a assistente social Iwonka Blasi, do Paraná, autora do livro Os Grandes Mitos da Feminilidade (Editora Rosa dos Tempos). Até os 50 anos de idade, segundo ela, existe um homem para cada mulher. Viu como o desespero não era necessário?

Mas será que toda mulher precisa de um novo marido? A advogada uruguaia Fany Puyesk, autora do Manual para Divorciadas (L&P Editores), afirma que sim. "Existem divorciadas que procuram loucamente por um homem livre. Um homem livre será certamente um novo marido, mais cedo ou mais tarde", escreveu ela. Fany acha que as mulheres, ao procurar "desesperadamente" por um homem disponível, se esquecem da vida que tinham antes com o ex. "Do que se privam ao não ter maridos? Se privam das brigas, dos roncos, da família dele, de que lhes perguntem onde estão seus óculos. Se privam de serem livres", responde. Ufa, seja bem-vinda, Fany. Alguém, em seu juízo perfeito resolveu colocar no papel o óbvio.

Aprenda, com nossa nova amiga, uma lição para o resto de sua vida: aguente a ansiedade e a aflição da solidão para não jogar a rede no primeiro que aparecer – ou a toalha cedo demais. Eu sei que teoria e prática, principalmente nesse assunto, caminham longe uma da outra. E que depois da separação, a única coisa que a gente consegue imaginar é o surgimento de um salvador, de alguém que possa livrar-nos daquela dor insuportável dos primeiros tempos. Quando essa pessoa aparece o que é que a infeliz faz: gruda nele 24 horas ao dia. Resultado: ele simplesmente desaparece. Entendeu o recado? Arrisque-se a sair com os amigos despreocupadamente, a se divertir sem maiores expectativas ou correndo o risco de ficar vesga, tentando comer com os olhos todo marmanjo que cruzar o seu caminho.

Outro erro comum das descasadas é usar o padrão de vida – que depois da separação costuma despencar em queda livre – como desculpa para encontrar alguém de imediato. Esqueça esse argumento, passe a controlar o orçamento doméstico na ponta do lápis (afinal, você aprendeu matemática na escola para quê?) e busque opções no campo profissional. Tomar essas atitudes (entre outras) é fundamental na vida de solteira. Muito melhor do que ficar chorando sobre o leite derramado (que horror!) ou ficar se fazendo de vítima impotente.

As pequenas situações práticas a assustam? Você morre de medo de que algo aconteça com o carro ou que surja algum problema no banco? Não acredito que não seja capaz de lembrar-se de que existem mecânicos e gerentes justamente para resolver estes pequenos dramas domésticos. Mas não aposte mais do que o necessário, por favor.

Sei que você está curiosa para saber por que falo com tanta autoridade sobre o tema. É que já passei por situações parecidas e, como diz o ditado, gato escaldado tem medo de água fria (ou quente, quando a gente, descuidadamente, queima a perna na banheira do motel, tão embevecida com o sujeito ao nosso lado).

Quando os maridos se foram, o carro não quebrou, aprendi a ir ao banco e manipular aquela maquininha dos deuses (o caixa eletrônico, sua tonta) e, se o encanamento do apartamento entupia, fazia uma consulta aos vizinhos do prédio. Agora, se tudo falhar, sempre se pode recorrer a um amigo. Ou ao zelador. Eles são ótimos em ajudar uma mulher sozinha a resolver probleminhas domésticos. E só!

Crônica publica no Caderno 2, do jornal goiano Diário da Manhã.
Também publicada em sites e blogs voltados para o universo feminino.

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