Pedro Bial em vertigem, por Pablo Villaça

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Análise de Pablo Villaça, crítico de cinema, sobre os ataques de Pedro Bial ao excelente "Democracia em Vertigem", de Petra Costa, indicado ao Oscar 2020 na categoria "Melhor Documentário":

Finalmente assisti a Democracia em Vertigem, de Petra Costa. Vou escrever sobre o filme, mesmo com atraso, mas o que quero comentar agora são as declarações de Pedro Bial sobre ela e o filme.

Em primeiro lugar, Bial diz que Democracia em Vertigem é uma obra de ficção. Desafio o jornalista a explicitar quais seriam as tais "mentiras" do filme. Não estou falando sobre suas INTERPRETAÇÕES do que é relatado, mas dos fatos em si.

A única "mentira" - com boa vontade - é a foto dos revolucionários mortos pela ditadura, que apagou armas que apareciam na imagem original. Armas que, como se descobriu depois, haviam sido PLANTADAS pelos militares. Ou seja: a foto alterada reflete mais a verdade que a original.

Aliás, até por precaução, fui buscar artigos que afirmavam apontar as "mentiras" do doc. "LISTAMOS X MENTIRAS DE DEMOCRACIA EM VERTIGEM", afirmavam. E aí você vai ler e são itens como "a eleição do PT representava a esperança do povo mais humilde - MENTIRA". Nesse nível.

Mas o que mais me incomodou - aliás, digo mais: revoltou - foi Bial dizer que "é uma menina querendo dizer para a mamãe dela que ela fez tudo direitinho, que ela está ali cumprindo as ordens de mamãe, a inspiração de mamãe". Isso, além de estúpido, é de um sexismo colossal.

Eu DUVIDO que se o filme tivesse sido dirigido por um homem, Bial tentaria atacar o realizador dessa maneira. Ele usa dois clichês misóginos ao mesmo tempo: o de que as mulheres não são capazes de pensar por conta própria e o que precisam da aprovação alheia.

É um ataque feio feito por um jornalista que há muito se tornou defensor ferrenho dos interesses dos patrões e, no processo, se esqueceu de uma lição fundamental de sua profissão: a de que os FATOS devem sempre falar mais alto do que as opiniões pessoais. É um vexame, sua fala.

O simples fato de Democracia em Vertigem ter sido distribuído (e contado com dinheiro da Netflix) é algo cujas implicações Bial ignora. Em produções do tipo, a exigência na checagem de fatos é gigante - até por autoproteção legal. A Netflix é uma empresa pública, não limitada.

E isso é um fator que diferencia um Democracia em Vertigem de um 1964: O Brasil Entre Armas e Livros, que, feito por um think tank (ou "think"), não tem a obrigação de se apegar a esse detalhe bobo que é a tal VERACIDADE FACTUAL. Outro fator é a ética dos cineastas, claro.

Vou escrever sobre o doc agora. Mas tinha que dizer esse "que vergonha, Pedro Bial" em público antes de começar. Ele devia olhar em torno de si mesmo, para seu camarim na

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