Trecho da coluna de Luis Fernando Verissimo no Globo hoje quinta-feira 26/III - (...) Até pouco tempo era fácil interpretar panelaços, ouvidos sempre em zonas de alto poder aquisitivo ou alta classe média. Não havia dúvida sobre quem estava nas janelas e nas sacadas dos edifícios, batendo em frigideiras, travessas e surdos improvisados, em apoio ao governo que tinha ajudado a eleger com seu barulho. Hoje os panelaços são feitos nos mesmos edifícios, supõe-se que pelas mesmas pessoas, mas acompanhados de gritos de "Fora Bolsonaro!", o que só prova como são volúveis nossas elites, como é difícil fazer sociologia a curto prazo no Brasil e, principalmente, a falta que faz um bom intérprete de panelas para nos orientar.
Nenhuma novidade no fato de um governo perder apoio na prática de governar. Promessas de campanha são como juras de amor, servem para seduzir, não necessariamente para durar. Mas, no caso da desilusão com Bolsonaro & Filhos, a decepção foi maior porque a expectativa dos seus 57 milhões de eleitores — espantosa, conhecendo-se a biografia e a personalidade do candidato — era maior. Digam o que disserem do Bolsonaro & Filhos, eles nunca esconderam o que eram, ou chegaram ao poder disfarçados de outra coisa. O que os 57 milhões elegeram foi isso aí mesmo.
Quanto à mudança dos panelaços de a favor do governo para contra o governo, a causa, entre outras, é o desempenho de Bolsonaro & Filhos na guerra contra a peste que nos assola, como ficou evidente na fala inacreditável da terça-feira. Não sei como estão sendo interpretados os panelaços do Leblon, mas se são sinais de insatisfação também são sinais de conscientização, e nos servem. Portanto, não pergunte por quem soam as panelas do Leblon, elas soam por você.
Nenhum comentário:
Postar um comentário