Porta de cadeia, por Leandro Fortes

PORTA DE CADEIA

Desde a incursão de Sérgio Moro nas entranhas do condomínio Vivendas da Barra, para intimidar o porteiro que ligou Bolsonaro aos assassinos de Marielle Franco e Anderson Gomes, sabemos, todos, a que veio o ministro da Justiça e da Segurança Pública.

Sem a máscara do vingador da República de Curitiba, a caricata personagem criada pela mídia para defenestrar Dilma Rousseff da Presidência da República e prender Luiz Inácio Lula da Silva, às vésperas das eleições de 2018, Moro desnudou-se nessa gelatina moral, ao mesmo tempo triste e risível: o ministro de porta de cadeia.

Não bastasse a atuação diuturna como advogado da família Bolsonaro, obrigado a compactuar com as teses da milícia que gravita em torno da família presidencial, Moro, agora, comporta-se como um estagiário de direito escalado para infernizar os funcionários do Ministério Público e da Justiça do Paraguai para libertar Ronaldinho Gaúcho e Assis – uma dupla de pilantras internacionais.

O ministro do Interior do Paraguai, Euclides Acevedo, tem dito a jornalistas paraguaios e brasileiros de seu constrangimento diário com o assédio de Sérgio Moro pela libertação da dupla, como se se tratasse de uma questão de segurança nacional. Juízes e promotores envolvidos no caso – falsificação de passaporte, lavagem de dinheiro e evasão cambial – também têm mostrado desconforto com a insistência de Moro em soltar a dupla.

A chave para entender o súbito interesse de Moro por Ronaldinho não é, claro, futebol. O ministro tem toda pinta de entender tanto do esporte bretão quanto entende de direito penal. A questão central se chama Nelson Luiz Belotti dos Santos, picareta que circula pelo universo de Moro, desde o escândalo do Banestado, no início dos anos 2000, envolvido em fraudes cambiais, corrupção e pagamentos de propinas. Trata-se de um baronete da indústria da contravenção, dono de um cassino no Paraguai e anfitrião de Ronaldinho e Assis, naquele país.

Belotti tem ligações com o doleiro de estimação da Lava Jato, Alberto Youssef, epicentro da engrenagem de delações premiadas que serviram para colocar petistas na cadeia, sem nenhuma prova concreta. Ele foi investigado pela patota de Curitiba após ser flagrado com 24 milhões de reais numa conta e ter repassado quase meio milhão de reais para outra, vinculada a Youssef, para beneficiar o ex-senador José Janene, do PP, já falecido.

Ainda assim, Belotti jamais foi denunciado pela Lava Jato.

É um arquivo vivo, portanto, girando nas roletas da Justiça paraguaia, pronto para quebrar a banca.

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