"Aldir Blanc não morreu de tristeza, como Flávio Migliaccio, mas quem disse que ele não estava triste? Para quem viu suas canções cantadas por um país que um dia sonhou que era feliz, é difícil acreditar que morreu de qualquer outra coisa, que não de tristeza. No Brasil de hoje, o difícil é entender como gente como Caetano, Gil, Betânia, Gal e Chico ainda estão vivos, porque morrer de tristeza deveria ser o destino de toda arte, de toda a poesia, num país tomado pelo fascismo. Nessa altura me contento em saber que Vinícius e Elis se foram há tantos anos, porque assim eu não me obrigo a pensar como poderiam viver num país governado por amantes da ditadura, da tortura e fascistas obscurantistas. Das coisas mais tristes em saber que o Brasil chegou a este ponto é lembrar que um dia cantei O bêbado e o equilibrista e tantas outras canções com gente cuja lembrança neste momento quase me causa asco. Se direito tivesse de fazer alguma lei, se um único decreto eu pudesse estabelecer e nenhuma mais, eu proibiria qualquer pessoa que votou em Bolsonaro e que todo dia nos mata um pouco de tristeza de cantar qualquer das músicas que um dia foram feitas para derrotar a ditadura e celebrar a liberdade e depois cantada por gente que ousou sonhar. Ninguém que apoia o fascismo devia ter direito a poesia. Nenhuma arte, nenhuma canção devia ser permitida a quem ajudou a matar Aldir Blanc, Flávio Migliaccio e todos nós que morremos um pouco hoje, junto com este país que está a procura de um leito na UTI."
Carlos Zacarias
Professor da UFBa
Dr. em História
O sistema de saúde pública “perto da perfeição” que Lula jura ter implementado no Brasil só existiu na cabeça do ex-presidente presidiário.
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