O Manual das Eleições chega à sua última edição com uma frase dita em março de 2020 por um haitiano que frequentava o cercadinho do Palácio do Alvorada: "Bolsonaro, acabou". A dois dias do segundo turno, nada indica que o atual presidente vá reverter a sua condição de derrotado no próximo domingo 30. O próprio Bolsonaro já não faz questão de esconder sua sina ao antecipar um discurso que até poderia ser feito após a constatação do revés. Atrás nas pesquisas, como no Datafolha, o ex-capitão agora se apega a uma (suposta) auditoria que teria constatado (supostas) irregularidades em inserções eleitorais por emissoras de rádios em prejuízo à sua campanha. Com a decisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, de rejeitar um pedido para investigar, Bolsonaro fez o que dele se espera. "Da nossa parte, iremos às últimas consequências dentro das quatro linhas da Constituição para fazer valer o que as auditorias constataram", afirmou. "Isso [suposta fraude nas rádios] interfere na quantidade de votos no final da linha". Antes, em Minas Gerais, além de criticar o próprio Moraes, o presidente tentou associar o PT ao episódio bem ao estilo Bolsonaro: sem nenhum indício ou prova. "Sou vítima mais uma vez. Onde poderia chegar as nossas propostas, nada chegou", disse. " Aí tem dedo do PT. O que foi feito é interferência e manipulação". O desespero do ex-capitão encontra explicações nos levantamentos dos principais institutos de pesquisas do País. Mais uma vez, todos mostram a liderança do ex-presidente Lula. A vantagem do petista varia de 5 a 7 pontos percentuais em relação ao presidente. A campanha de Lula, noticiou CartaCapital, considera que a declaração de Bolsonaro sobre 'pintou um clima' com garotas venezuelanas, a notícia de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, pretende acabar com a correção do valor do salário mínimo e o episódio do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) impediram qualquer crescimento do ex-capitão nas intenções de voto. O QG lulista atribui ainda à melhora do desempenho de Fernando Haddad em São Paulo, o insucesso governador de Minas Gerais, Romeu Zema, em transferir votos a Bolsonaro e a virada de Eduardo Leite sobre Onyx Lorenzoni no Rio Grande do Sul a consolidação da liderança de Lula na reta final da campanha. Com o cenário desfavorável ao presidente, o PT se prepara para uma avalanche de fake news bolsonaristas na reta final. "Uma das prioridades da semana é acionar em tudo o que for necessário a Justiça Eleitoral para tentar conter essa grande operação", afirmou o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) em contato com CartaCapital. "Mas também vacinar a população brasileira sobre os absurdos que virão de fake news nos próximos dias". O parlamentar não descarta que a campanha de Bolsonaro receba ajuda de aliados da extrema-direita internacional. "A extrema direita brasileira, aliada com a extrema direita internacional, prepara a maior operação de desestabilização de uma eleição que se tem registro na história", diz. "Eles enxergam o Brasil como um caso". Um dos últimos atos de peso do período eleitoral será o debate da TV Globo nesta sexta-feira 28. Para Bolsonaro, significa uma das últimas chances para mexer as suas peças. Já para Lula é a oportunidade de sacrementar de vez uma vitória que parece inevitável. |
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