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Bussines

não há como o guerra-bussines

Mentiras, hipocrisias e agendas ocultas. Eis os temas dos quais o presidente Barack Obama não tratou, ao explicar aos EUA e ao mundo a sua doutrina para a Líbia. A mente se perde, vacila, ante tais e tantos buracos negros que cercam essa esplêndida guerrinha que não é guerra (é “ação militar com escopo limitado por prazo limitado”, nos termos da Casa Branca) – complicados pela inabilidade do pensamento progressista, que não consegue condenar, ao mesmo tempo, tanto a crueldade do governo de Muammar Gaddafi quanto o “bombardeio humanitário” dos exércitos de EUA-anglo-franceses.
A Resolução n. 1.973 do Conselho de Segurança da ONU operou como cavalo de Tróia: permitiu que o consórcio EUA-anglo-francês – e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) – se convertesse em força aérea da ONU usada para apoiar um levante armado. Aparte nada ter a ver com proteger civis, esse arranjo é absoluta e completamente ilegal em termos da legislação internacional. O objetivo final aí ocultado, que até as crianças subnutridas da África já viram, mas que ninguém assume ou confessa, é mudar o governo na Líbia.
O tenente-general Charles Bouchard do Canadá, comandante da OTAN para a Líbia, que insista o quanto quiser, repetindo que a missão visa exclusivamente a proteger civis. Pois os “civis inocentes” lá estão, dirigindo tanques e disparando Kalashnikovs, brigada de farrapos que, de fato, são soldados em guerra civil. O problema é que, agora, a OTAN foi convertida em força aérea daquele exército, seguindo as pegadas do consórcio EUA-franco-inglês.
Ninguém diz que a “coalizão de vontades” que hoje combate o governo líbio é coalizão de apenas 12 vontades (das 28 vontades representadas na OTAN), mais o Qatar. Isso absolutamente nada tem a ver com a “comunidade internacional”.
O veredicto sobre a zona aérea de exclusão ordenada pela ONU só será conhecido depois que houver governo “rebelde” na Líbia e terminar a guerra civil (se terminar rapidamente). Só então se poderá saber se, algum dia, os Tomahawks e bombas-em-geral foram algum dia justificados; o porquê de os civis de Cyrenaica terem sido “protegidos”, ao mesmo tempo em que os civis em Trípoli foram Tomahawk-eados; quem, afinal eram os ditos “rebeldes” ditos “salvos”; se a coisa toda, desde o início, em algum momento deixou de ser ilegal; como aconteceu de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU ser usada para acobertar golpe de Estado (digo, “mudança de regime”); como o caso de amor entre “revolucionários” líbios e o Ocidente pode acabar em divórcio sangrento (lembrem o Afeganistão!); e quais os atores ‘ocidentais’ que lucrarão mais, imensamente, com a exploração de uma nova Líbia – seja unificada seja balkanizada.
Pelo menos por hora, é muito fácil identificar os que já estão lucrando.
O Pentágono
Roberto “O Supremo do Pentágono” Gates disse no fim-de-semana, na maior cara dura, que só há três regimes repressivos em todo o Oriente Médio: Irã, Síria e Líbia. O Pentágono se encarrega agora do elo mais fraco – a Líbia. Os outros dois sempre foram figuras chaves da lista dos neoconservadores, de governos a serem derrubados. Arábia Saudita, Iêmen, Bahrain etc. são exemplos de democracia.
Como nessa guerra de prestidigitação “agora se vê, agora não se vê”, o Pentágono obra para lutar não uma, mas duas guerras. Começou pelo AFRICOM – Comando dos EUA na África –, criado no governo George W Bush, reforçado no governo Obama, e rejeitado por legiões de governos, intelectuais, organizações de direitos humanos e especialistas africanos. Agora, a guerra está em transição, passando para as mãos da OTAN, que é o mesmo que a mão pesada do Pentágono sobre seus asseclas europeus.
É a primeira guerra africana do AFRICOM, comandada agora pelo general Carter Ham diretamente de seu quartel-general nada-africano em Stuttgart. O AFRICOM é fraude, como diz Horace Campbell, professor de estudos afro-norte-americanos e ciência política na Syracuse University: fundamentalmente, é uma frente de operação comercial, para que empresas contratadas pelos militares nos EUA – Dyncorp, MPRI e KBR possam fazer negócios na África. Os estrategistas dos EUA que muito se beneficiaram na porta giratória que se criou entre as privatizações e as guerras estão adorando a intervenção na Líbia, como magnífica oportunidade para dar credibilidade político-militar ao AFRICOM-business.”
Os Tomahawks do AFRICOM-EUA atingiram também – metaforicamente – a União Africana (UA) a qual, diferente da Liga Árabe, não se deixa facilmente comprar pelo ocidente. As petro-monarquias do Golfo, todas, festejaram o bombardeio; Egito e Tunísia, não.
Só cinco países africanos não são subordinados ao AFRICOM-EUA: Líbia, Sudão, Costa do Marfim, Eritreia e Zimbabwe.
A OTAN
O plano master da OTAN é dominar o Mediterrâneo, como lago da OTAN. Sob essa “ótica” (no jargão do Pentágono), o Mediterrâneo é infinitamente mais importante hoje, como teatro de guerra, que o “AfPak”.
Apenas três, das 20 nações do ou no Mediterrâneo não são da OTAN ou aliadas de seus programas “de parceria”: a Líbia, o Líbano e a Síria. O Líbano já está sob bloqueio da OTAN desde 2006. Atualmente, já há bloqueio também contra a Líbia. Os EUA – via OTAN – já praticamente conseguiram fazer do círculo, o quadrado. Que ninguém se engane: a Síria é o próximo alvo.
A Arábia Saudita

 Excelente negócio! O rei Abdullah vê-se livre de Gaddafi, seu arqui-inimigo. A Casa de Saud – do modo abjeto que é sua marca registrada – rende-se ao atraso, para beneficiar o ocidente. A atenção da opinião pública ganha objeto alternativo, para distrair-se: os sauditas invadem o Bahrain, para esmagar movimento popular legítimo, pacífico, pró-democracia.
A Casa de Saud vendeu a ficção segundo a qual “a Liga Árabe” teria votado unanimemente a favor da zona aérea de exclusão. É mentira.
Dos 22 membros da Liga Árabe, só 11 estiveram presentes à sessão que aprovou a “no-fly zone”; seis desses são membros do Conselho de Cooperação do Golfo, gangue da qual a Arábia Saudita é o cão-chefe.
A Casa de Saud teve de aplicar uma chave-de-braço em três. A Síria e a Argélia estavam contra a no-fly zone contra a Líbia. Tradução: só nove, dentre 22 países árabes, votaram a favor de implantar-se a zona aérea de exclusão na Líbia.
Agora, a Arábia Saudita já pode até mandar que o presidente do Conselho de Cooperação do Golfo Abdulrahman al-Attiyah declare sem piscar que “o sistema líbio perdeu a legitimidade”. Sobre a Casa de Saud e os al-Khalifas do Bahrain… não faltará quem os indique para o Hall da Fama da Assistência Humanitária.
O Qatar
O país que hospedará a Copa do Mundo de Futebol de 2022 sabe, sim, amarrar negócios. Seus Mirages já ajudavam a bombardear a Líbia, enquanto Doha preparava-se para vender aos mercados ocidentais o petróleo da Líbia. O Qatar foi o primeiro país a reconhecer o governo dos “rebeldes” líbios como único governo legítimo; fê-lo um dia depois de ter fechado o negócio do varejão do petróleo líbio no ocidente.
Os “rebeldes”
Sem desrespeitar as importantes aspirações democráticas do movimento da juventude líbia, fato é que o grupo mais bem organizado da oposição a Gaddafi é a Frente Nacional de Salvação da Líbia – há anos financiada pela Casa de Saud, pela CIA e pela inteligência francesa. O “rebelde’ “Conselho Nacional do Governo de Transição” é praticamente a velha Frente Nacional, acrescida de alguns militares desertores. A “coalizão” “protege” essa “elite” de “civis inocentes”, hoje.
Nessa linha, o “Conselho Nacional do Governo de Transição” acaba de nomear novo ministro das finanças: Ali Tarhouni, economista formado nos EUA. Foi ele quem disse que vários países ocidentais há lhe haviam dado créditos, sob garantias do fundo soberano líbio; e que os britânicos lhe deram acesso a 1,1 bilhão de dólares do dinheiro de Gaddafi.
Significa que o consórcio EUA-anglo-francês – e agora a OTAN –, só terão de pagar a conta da compra das bombas. No que tenha a ver com histórias da imundície das guerras, essa é impagável: o ocidente está usando o dinheiro da Líbia para pagar um bando de líbios oportunistas interessados em derrubar o governo da Líbia. França e Inglaterra gozam, de tanto que amam as bombas. Nos EUA, os neoconservadores devem estar se estapeando, lá entre eles, de inveja: por que o vice-secretário de Defesa Paul Wolfowitz não teve a mesma ideia, para o Iraque, em 2003?
A França
Oh la la, a coisa bem poderia servir de substrato para romance proustiano. A coleção estrela da primavera francesa nas passarelas parisienses é o show de moda-fantasia de Nicolas Sarkozy: uma zona aérea de exclusão na Líbia, rebordada com ataques-acessórios pelos jatos Mirage/Rafale. Todo o show e pirotecnia foi concebido por Nouri Mesmari, chefe de protocolo de Gaddafi, que desertou e fugiu para a França em outubro de 2010. O serviço secreto italiano vazou para jornalistas e jornais selecionados os detalhes da deserção e da fuga. O papel do DGSE, serviço secreto francês, está mais ou menos explicado no e-jornal (só para assinantes) Maghreb Confidential.
A verdade é que o coq au vin da revolta de Benghazi já estava cozinhando em fogo baixo desde novembro de 2010. Os galos-estrelas foram Nouri Mesmari; Abdullah Gehani, coronel da Força Aérea da Líbia; e o serviço secreto francês. Mesmari era chamado “o WikiLeak líbio”, porque vazou quase todos os segredos militares de Gaddafi. Sarkozy adorou, furioso desde que Gaddafi cancelou gordos contratos para comprar aviões Rafales (para substituir os Mirages líbios que, hoje, estão sendo bombardeados por Mirages franceses) e usinas nucleares francesas.
Isso explica por que Sarkozy, que estava tão animadinho, posando de neoliberador de árabes, foi o primeiro líder europeu a reconhecer “os rebeldes” (para tristeza de muitos, na União Europeia) e o primeiro a bombardear as forças de Gaddafi.
Vê-se aí também exposto o papel do desavergonhado filósofo e autopropagandista Bernard Henri-Levy, que se esfalfou enchendo a mídia mundial com notícias de que ele telefonara a Sarkozy, de Benghazi, e assim despertou o filão humanitário no coração do presidente. Ou Levy é o otário da hora, ou é uma conveniente cereja “intelectual” acrescentada ao já assado bolo-bomba contra Gaddafi.
Ninguém detém Sarkozy, o Terminator. Já avisou todos os governos árabes que estão na mira para serem bombardeados ao estilo Líbia se espancarem manifestantes. Até já avisou que a Costa do Marfim seria “a próxima”. Bahrain e Iêmen, claro, não têm com o que se preocuparem. Quanto aos EUA, mais uma vez os EUA apoiam golpe militar (não deu certo com o Omar “Sheikh al-Tortura” Suleiman no Egito. Talvez funcione na Líbia).
Al-Qaeda
O coringa sempre conveniente renasce. O consórcio EUA-franco-inglês – e agora também a OTAN – outra vez combatem aliados à al-Qaeda, dessa vez representada pela al-Qaeda no Maghreb (AQM).
Abdel-Hakim al-Hasidi, líder dos “rebeldes” líbios – que combateu ao lado dos Talibã no Afeganistão – confirmou, com detalhes, para a mídia italiana, que recrutara pessoalmente “cerca de 25” jihadistas na região de Derna no leste da Líbia para combater os EUA no Iraque; e que agora “eles estão na linha de frente em Adjabiya”.
Isso, depois de o presidente do Chad Idriss Deby ter dito que a al-Qaeda no Maghreb assaltou arsenais militares na Cyrenaica e provavelmente já têm alguns mísseis terra-ar. No início de março, a al-Qaeda no Mahgreb apoiou publicamente os “rebeldes”. O fantasma de Osama bin Laden deve estar rindo como o gato Cheshire de Alice; mais uma vez, conseguiu por o Pentágono a trabalhar para ele.
Os privatizadores da água
Poucos no ocidente sabem que a Líbia – como o Egito – repousa sobre o Sistema Aquífero do Arenito Núbio [ing. Nubian Sandstone Aquifer]: é um oceano de extremamente valiosíssima água doce. Ah, sim, sim, essa guerra de prestidigitação “agora se vê, agora não se vê”, é crucial guerra pela crucial água.
O controle do aquífero é patrimônio sem preço: além da água para beber, o prestígio para dominar: a EUA-França-Inglaterra “resgatando” valiosos recursos naturais, das mãos dos árabes “selvagens”.
É um Aquedutostão – enterrado fundo no coração do deserto. São 4.000 quilômetros de dutos. É o Maior Projeto de Rio Criado pelo Homem [ing. Great Man-Made River Project (GMMRP)], que Gaddafi construiu por 25 bilhões de dólares sem tomar emprestado nem um centavo nem do FMI nem do Banco Mundial (mais um exemplo de barbárie de Gaddafi, que não se deve deixar vazar para o resto do mundo subdesenvolvido).
O sistema GMMRP fornece água para Trípoli, Benghazi e todo o litoral da Líbia. A quantidade de água disponível, estimada por especialistas, é o equivalente à toda a água que corre pelo Nilo por 200 anos. Comparem-se esses números os números das chamadas “Três Irmãs” – empresas Veolia (ex-Vivendi), Suez Ondeo (ex-Generale des Eaux) e Saur – as empresas francesas que controlam mais de 40% do mercado global de água.
Todos os olhos devem-se focar, atentos, para ver se algum dos aquedutos da GMMRP serão bombardeados. Cenário altamente possível, caso sejam bombardeados, é que imediatamente comecem a ser negociados os gordos contratos de “reconstrução” – que beneficiarão a França. Será o passo final para privatizar toda aquela – até o momento gratuita – água. Da doutrina do choque, chegamos à doutrina da água.
Essa lista dos que ganham com a guerra está longe de ser completa – ainda não se sabe quem ficará nem com o petróleo nem com o gás natural da Líbia. Enquanto isso, o show (das bombas) tem de continuar. Não há business como o guerra-business.
por Pepe Escobar, Asia Times Online
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

Costa do Marfim

06 meses de guerra civil e os EUA inda não deram as caras por lá. Por que será?...

A “Primavera Árabe” e as catástrofes no Japão relegaram a um plano bastante discreto a crise na Costa do Marfim, que permanece sem solução há seis meses, apesar dos esforços da ONU, da União Africana e de alguns países, como a França. 

Os combates agora estão ocorrendo em três frentes, entre as forças leais a Alassane Ouattara, o vencedor das eleições de 2010 reconhecido internacionalmente, e as forças de Gbagbo, que insiste em não deixar a Presidência da República. 

A ONU acusa as forças partidárias de Gbagbo de disparar contra civis na maior cidade do país, Abdijan, na segunda-feira, matando pelo menos dez pessoas. Segundo a organização, outro grupo de partidários de Gbagbo queimou um homem vivo na cidade um helicóptero da ONU foi derrubado perto de Duékoué.

Cerca de um milhão de pessoas já fugiram da violência no país, a maioria de Abidjan, segundo dados da ONU. 

No oeste, partidários de Ouattara atacaram a cidade de Duékoué e outra cidade, Daloa. 

No leste, eles afirmam que tomaram a cidade de Bondoukou. 

As forças de Ouattara fecharam a fronteira com a Libéria para impedir que os partidários de Gbagbo recrutem mercenários daquele país. Ouattara controla o norte do país desde a guerra civil de 2002, onde predomina sua etnia.

Tráfico

Brasil e Bolívia firmam acordo para combater

Em visita à Bolívia, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) renovou com o governo de Evo Morales acordos de cooperação.
Visam combater o tráfico de cocaína e outros crimes comuns à zona de fronteira –tráfico de armas, de pessoas e de animais silvestres, por exemplo.
Destacam-se na parceria dois pontos: 
1) a PF treinará policiais bolivianos. 
2) o Brasil dará dinheiro à Bolívia, para compra de equipamentos.
Cardozo anunciou a liberação de US$ 100 mil. Verba a ser repassada por meio do órgão da ONU que combate drogras e crimes (UNODC, na sigla em inglês).
Na terça (29), acompanhado do ministro boliviano do Interior, Sacha Llorenti, Cardozo sobrevoou a região de Chapare.
Trata-se de área produtora de coca –uma das maiores da Bolívia. Llorenti quis mostrar ao colega brasileiro que o governo Evo está destruindo plantações ilegais.
Nesta quarta (30), os dois ministros estiveram na cidade fronteiriça de Puerto Suárez. Foram acompanhar os desdobramentos de ação deflagrada no domingo (27).
Chama-se “Operação Brabo” (Brasil-Bolívia). Desenrola-se na fronteira. Não tem data para acabar.
Do lado brasileiro, a ação se concentra em Corumbá (MS). Do lado boliviano, em Puerto Quijaro e Puerto Suárez.
Pelo Brasil, participam a Polícia Federal e a Força Nacional de Segurança. Exército e Marinha dão apoio logístico.
A Bolívia mobilizou efetivos de sua FELCN (Força Especial da Luta Contra o Narcotráfico).
A PF já realizava há um ano, desde março de 2010, a Operação Sentinela. O objetivo era o mesmo. A diferença é que agora há cooperação da Bolívia.
O superintendente da PF no Mato Grosso do Sul, José Rita Martins Lara, acompanhou o ministro da Justiça na passagem dele por Puerto Suárez.
José Lara explicou a natureza da parceria da PF com os agentes da Bolívia:
“O que nós queremos fazer com a Bolívia nesse convênio é passar essa experiência da polícia brasileira com o apoio das Forças Armadas e de outros órgãos como a Receita Federal...”
Nos primeiros três dias, a Operação Brabo resultou na prisão de cerca de três dezenas de suspeitos.
Isabelino Gómez, promotor boliviano, diz que houve também apreensão de drogas, armas, explosivos e veículos usados por traficantes.
O tráfico de cocaína boliviana para o Brasil foi um dos temas debatidos na campanha presidencial do ano passado.
José Serra, o candidato derrotado do PSDB, acusou o governo Evo Morales de ser “cúmplice” do tráfico e a administração Lula de ser negligente na cobrança.
Em resposta, Dilma Rousseff disse na ocasião que Serra “demoniza” injustamente a Bolívia. O diabo é que documentos oficiais produzidos sob Lula davam razão ao tucano.
Relatórios reservados da Divisão de Controle de Produtos Químicos da PF contabilizavam: 80% da cocaína distribuída no país vem da Bolívia.
A maior parte chega na forma de "pasta". O refino é feito no Brasil. A PF também atribuía a encrenca à "leniência" do país vizinho.
Uma inação que tem raízes culturais. O cultivo da folha de coca é legal na Bolívia. O produto tem várias serventias –de rituais indígenas à produção de remédios.
O problema é que o excedente abastece o tráfico. Afora os papéis da PF, documento endereçado pelo Itamaraty à Comissão de Relações Exteriores da Câmara, em 2007, anotou:
"Entre 2005 e 2006, a área de produção de folha de coca na Bolívia cresceu de 24.400 para 27.500 hectares".
O mesmo texto informou que, sob Evo, adotou-se na Bolívia uma política dicotômica: combate ao narcotráfico e "valorização" da folha de coca.
Segundo o Itamaraty, uma delegação de brasileiros e chilenos fora à Bolívia, em junho de 2007, para reunião com autoridades locais. "Sem resultado".
Realizou-se um esforço para reativar, também sem sucesso, as comissões mistas antidrogas Brasil-Bolívia.
Em setembro de 2008, o Itamaraty enviou à Câmara um segundo relatório. Informou:
A ONU contabiliza "aumento na produção de coca na Bolívia pelo quinto ano consecutivo".
Em outubro de 2008, Morales expulsou da Bolívia 20 agentes do departamento antidrogas dos EUA. O pretexto foi a acusação de que faziam espionagem.
Dois meses depois, a Bolívia firmaria um acordo com o Brasil. Previa coisa parecida com a parceria celebrada agora por José Eduardo Cardozo.
A PF passaria a atuar na Bolívia no combate ao tráfico de cocaína e armas. A implementação do acerto esbarrou no cofre. Ontem como hoje, La Paz queria que Brasília pagasse as contas.
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Petróleo

Yanques rasgam a fantasia em relação a Líbia

Numa entrevista coletiva na Casa Branca, ontem 3ª feira, o presidente Barack Obama não esperou nem os EUA e demais potências domesticarem a OTAN e, contradizendo a Organização, anunciou que pode - portanto, pretende - armar, sim, os rebeldes líbios para derrubar o presidente Muamar Kaddhafi do poder em Trípoli.

Já o resto do mundo continua esperando que ele faça o mesmo com os rebeldes que se mantém nas ruas e em manifestações cobram democracia e liberdade no Bahrein, Iêmen, Síria, Jordânia, e quem sabe, se vierem a ocorrer um dia...também, na Arábia Saudita. Mas, aí, para estes, nada, só silêncio dos EUA e cia. Para estes, só repressão via ditaduras e monarquias aliadas e sustentadas por Washington.

Ditador amigo, garantia de acesso a petróleo


Dos EUA não são nada boas as notícias em relação à Líbia, porque além do aviso de Obama ontem, tem-se quase diariamente as ameaças da Secretária de Estado, a belicista Hillary Clinton que, dia sim e outro também reitera: os aliados continuarão bombardeando o país até que o presidente líbio "cumpra a decisão da ONU".

A decisão, para a sra. Hillary, é a Resolução 1973 que criou aquela ficção de "zona de exclusão aérea" que Tio Sam e aliados diziam que estabeleceriam sobre a Líbia. Mas, que eles também não cumprem já que a Resolução não tratava nem da deposição de presidente nem de apoio a rebeldes líbios, mas sim de proteção à população civil líbia.

Proteção, eu repito, não de bombardeios aéreos e invasão do país por terra e mar para para, ao final e como eu escrevi ontem, se sobrar Líbia, colocar no poder um ditador amigo e ter acesso fácil ao seu petróleo.

Frases

...Mais uma poucas e boas de Lula



- Divergências com Dilma: “Não há hipótese de haver divergência. Porque quando houver divergência, ela está certa”.
- Voto do Brasil contra o Irã na ONU: “Acho que foi correto o voto do Brasil. Tem que ter um relator que vá ao Irã investigar. O relator não é obrigado a concordar com as acusações feitas por outros países, mas você não pode impedir que vá alguém investigar se há ou não atrocidades contra os direitos humanos [no Irã]”.
- Ausência no almoço oferecido por Dilma a Barack Obama: “Foi por uma razão muito simples. Fazia apenas dois meses e meio que eu tinha deixado a Presidência. Eu acho importante que o Fernando Henrique Cardoso tenha ido, que o Collor tenha ido, que o Itamar tenha ido, que tenha ido o Sarney como presidente do Senado. Agora, eu, fazia apenas dois meses e meio que tinha saído da Presidência. Eu não poderia voltar ao Itamaraty, tinha que deixar passar um tempo. Senão seria eu competindo com a nossa presidenta”.
- Resultados da visita de Obama ao Brasil: “Eu esperava que ele anunciasse algumas coisas mais importantes. Por exemplo: que o Brasil deveria entrar no Conselho de Segurança da ONU, que ele reconhecesse e cumprisse a decisão da OMC em relação à questão do algodão, que ele diminuísse a taxação do etanol e, mais ainda, que ele retomasse as negociações da rodada de Doha, porque a rodada de Doha parou por causa das eleições nos EUA e na eleição da Índia. Somente o comércio é que vai criar condições para a melhoria da vida dos países mais pobres”.
- Revoltas populares contra ditadores do Norte da África e Oriente Médio: “É uma sede de democracia que bateu na juventude. O que aconteceu com a juventude é que eles queriam dignidade, queriam ter esperança outra vez. Eu acho que a democracia é isto, você permitir que as pessoas participem das decisões, que as pessoas tenham alternância de poder. Isto resulta num benefício importante para o mundo e para o Oriente Médio”.
- Acusação de que deixou um legado maldito que açula a inflação: “Acho que, se tem um país que não tem problemas, é o Brasil. O Brasil continua crescendo, a inflação está controlada e vai ser controlada, não há nenhuma perspectiva de a inflação voltar. Eu tenho lido e ouvido pronunciamentos da presidenta Dilma de que ela fará todo o esforço possível para não permitir a volta da inflação, porque ela sabe que a volta da inflação significa prejuízo aos trabalhadores que vivem de salário”.
- Futuro político: “A partir da segunda quinzena de abril eu vou fazer uma agenda mais forte dentro do Brasil. Quero ajudar a fortalecer o PT e o movimento social, quero manter contato com o movimento sindical. Vou voltar à porta de fábrica em São Bernardo do Campo, porque eu apenas deixei de ser presidente da República, mas eu jamais serei um ex-militante político, um ex-militante sindical, um ex-militante social. Está na minha vida fazer isso e eu vou continuar fazendo porque é uma coisa que eu gosto e que eu preciso”.
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por Pedro Porfírio


Para além da fraude que encobriu a intervenção estrangeira na Líbia

O Brasil entrou de gaiato ao fazer da abstenção um "NADA A OPOR" à agressão 
"Kadhafi representa o controle dos recursos da Líbia por líbios e para líbios. Quando ele chegou ao poder dez por cento da população sabia ler e escrever. Hoje, é cerca de 90 por cento a taxa de alfabetização. As mulheres, hoje, têm direitos e podem ir à escola e conseguir um emprego. A qualidade de vida é de cerca de 100 vezes maior do que existia sob o domínio do rei Idris I".
Timothy Bancroft-Hinchey, em "Líbia, toda a verdade", publicado no Pravda, da Rússia. 
Só no primeiro dia, 110 mísseis Tomahawk (que custam US$ 1,5 milhão de  dólares cada) foram disparados por navios e submarinos americanos, matando 42 civis líbios 
 
Essas incursões mortíferas das grandes potências à Líbia compõem uma requintada farsa que cristaliza um perigoso procedimento de múltiplas facetas. O mais acintoso é a leitura de conveniência que fazem de uma resolução mal acabada do Conselho de Segurança da ONU, graças à qual bombardeios de aviões e mísseis, violando o prescrito, operam  uma verdadeira intervenção estrangeira, visando a derrubada do líder Muamar Kadhafi e usando os bandos sediciosos como suas colunas em terra.

É uma fraude calculada que só foi possível devido à colaboração, pela omissão, de países que sabiam claramente da falácia dessa impostura, chamada zona de exclusão aérea. Sabiam, disseram que ia dar no que deu, mas preferiram fugir da raia, chancelando a agressão.

A resolução da ONU é um primor de cinismo direcionado, ao abrir brechas para manipulações ao gosto dos agressores, o que, diga-se de passagem, pelo menos no que diz respeito à França, foi só um tapa-buraco burocrático. Seus aviões já estavam agindo mesmo antes da formalização da carta branca.

O resultado concreto desse conluio é a recomposição dos grupos revoltosos, que iam ser derrotados no sábado em que começaram as incursões estrangeiras. Não se pode dizer que essa ofensiva atípica esteja predestinada a uma vitória, nos termos sonhados pela chamada "coalizão". No entanto, haja o que houver, a Líbia sairá totalmente fragilizada desses episódios, tornando-se vulnerável à saciedade das potências coloniais.
 
Insegurança para todos

Essa fraude remete a muitas reflexões. Que país pode se sentir seguro diante de um quadro tão farsesco? Tudo o que se alegava era que uma força internacional seria necessária para proteger civis dos ataques do exército regular. A primeira mentira aí é que não há civis nas praças, como aconteceu no Egito. Há, sim, grupos fortemente armados no exercício de ataques com armas pesadas. Grupos que têm em suas fileiras muitos militares desertores, inclusive de artilharia.

Isso a mídia mercenária não pôde esconder. Ao contrário, toda hora exibe "rebeldes" dando tiros à toa como se tivessem munição de sobra.

Pior ainda é o próprio estatuto casuístico de que se serviu o Conselho de Segurança. O direito internacional terá de presumir sua interferência em conflitos entre países ou em missões de paz, desde que solicitadas por governos constituídos. Não é o caso da Líbia.

Nas matanças de Gaza, nada se fez

Foi, sim, o caso do morticínio promovido em Gaza pela aviação e por foguetes israelenses do dia 28 de dezembro de 2008 a 18 de janeiro de 2009, 21 dias de atrocidades, com um total de 1.412 palestinos mortos. Nesse longo período, o Conselho de Segurança babou e os EUA usaram seu poder de veto para impedir todo e qualquer ato que freasse a ação ensandecida promovida por Israel. A lixeira de Jerusalém, aliás, coleciona dezenas de resoluções da ONU em todos os níveis, e não aparece uma viva alma para chamar seu governo às falas. E a mídia não fala mais nisso.

A fraude que está ensejando matanças indiscriminadas na Líbia também assinala com ênfase a falência do instituto da soberania nacional. Você estará sendo levianamente irresponsável se considerar que o bombardeio em outro país, para favorecer insurretos, tem algum escopo moral.

No caso específico, autoridades mais lúcidas já vinham antevendo as intenções das potências ocidentais em embarcar na onda de descontentamentos em alguns países árabes para alvejar aquele que ia melhor das pernas na consecução de um projeto social de grande alcance: Kadhafi inverteu as taxas de analfabetismo - de 90 para 10%, registra o mais alto IDH da África, (0,755,em 53° lugar no mundo, comparável aos 0,699 do Brasil, em 73°) e está num processo de modernização que prevê grandes investimentos, incluindo a construção de 1 milhão de casas em dez anos para uma população total de 6,5 milhões.

A Líbia de Kadhafi administrava com equilíbrio as rivalidades tribais atávicas e ainda oferecia refúgio para 1 milhão e meio de egípcios e outros milhares de africanos. Com a sedição de Benghazi, reacenderam-se feridas a partir de algumas tribos da região da Cirenaica, uma das três províncias do país.
 
Obama despontou até seus correligionários

A fraude que deu na agressão à Líbia aconteceu quando Barack Obama visitava à América Latina, de olho no petróleo do pré-sal brasileiro e na transformação da China no principal comprador do Brasil, Chile e Argentina. Essa visita foi tão burlesca que, depois dela, o governo anunciou a importação de álcool dos Estados Unidos, algo jamais pensado, mas causado pela ganância dos usineiros brasileiros (isso ainda vou comentar).

O títere da ditadura invisível quer porque quer criar fatos sensacionais para recuperar a imagem desbotada, e está tomando atitudes tão desesperadas que conseguiu irritar até os aliados: em geral, decisões dessa natureza são previamente submetidas ao Congresso.

O deputado Dennis Kucinich, do seu partido, aventou a possibilidade de pedir o seu impeachment por conta de sua atitude irresponsável sob todos os aspectos. Com o apoio dos também democratas Barbara Lee, Mike Honda, Lynn Woolsey e Raúl Grijalva ele acusou Obama de "mergulhar outra vez os Estados Unidos numa guerra que não podemos financiar". O grupo foi mais além ao afirmar que o deslumbrado presidente entrou numa "guerra precipitadamente com um conhecimento limitado da situação no terreno e sem uma estratégia de saída".

Até mesmo na mídia norte-americano houve restrições a essa ordem de agressão. O analista político Michael Walzer questionou: "O objetivo é resgatar uma rebelião fracassada, que as tropas ocidentais façam o que os rebeldes não puderam fazer sozinhos: derrubar Kadafi? Ou é apenas mantê-los lutando pelo maior tempo possível, com a esperança de que a rebelião pegue fogo e os líbios dêem cabo em Kadafi por si mesmos? Ou é apenas chegar a um cessar-fogo? Parece que nem os envolvidos no ataque são capazes de responder a essas questões".

Apesar da boa vontade de alguns jornalistas, quem realmente ordenou a primeira carga pesada de mísseis foi Obama. Só que sua atitude foi tão indigna que ele tenta dar a entender que está tirando o corpo fora -  mais uma grosseira lorota que quem tem o mínino de tutano  não pode engolir.

Já Nicolas Sarkozi amarga uma sucessão de derrotas em eleições locais e dificilmente será reeleito, conforme as tendências registradas hoje. Ele apela e tenta reacender nos franceses de centro e da direita o velho gosto colonial compensatório, em meio aos escândalos de corrupção, favorecimentos e subtração de direitos sociais. Não é diferente a atitude do premier britânico, David Cameron, que neste sábado foi alvo de umas das maiores manifestações de rua em Londres, em protesto contra os cortes orçamentários, que afetarão a vida dos ingleses.

A vacilação que pode custar caro ao Brasil

Essa fraude também arranhou a política externa brasileira, que  nos últimos anos havia resgatado  o sonho iniciado com Jânio Quadros, João Goulart, Afonso Arinos e Santiago Dantas. Graças a uma ostensiva priorização dos nossos interesses, o Brasil vinha sendo uma referência obrigatória juntamente com seus parceiros do BRIC (Rússia, Índia e China).

Só se pode atribuir a vacilação no Conselho de Segurança à inexperiência da presidente Dilma Rousseff e a incompetência do seu chanceler Antônio Patriota, um diplomata medíocre, que parece saído do "orfanato" - como o ex-chanceler Azeredo da Silveira definia o Itamarati acuado no tempo da ditadura.

Junto com essa decisão, o Brasil também entrou na pilha das manobras contra o governo do Irã, embarcando na velha tática de brandir a questão dos "direitos humanos",como fenda para forjar a intervenção externa nesse país. O governo Dilma não pode cair numa esparrela: por que também não votam uma investigação sobre as bárbaras violações na prisão de Guantánamo, que o próprio Obama prometeu desativar e deixou o dito pelo não dito? E no Iraque? E O tratamento perverso dispensado aos palestinos e árabes em geral pela polícia política de Israel? Eles podem barbarizar? O Brasil nada faz contra tais perversidades, apesar do acúmulo de denúncias?

Visto para além dessas agressões moralmente insustentáveis contra a Líbia, o mundo que acredita na soberania dos povos está perigosamente vulnerável. Nós já vivemos ameaça semelhante, em 1964, só que não foi preciso o apoio da frota norte-americana estacionada de frente para o nosso litoral. Aqui, derrubaram o governo no grito.

Líbia

UM NOVO ATOLEIRO?
          
1. As tropas de Gadafi realizaram, ontem, repetidos ataques contra Misrata, a terceira cidade do país. Não cessaram também os combates nas cercanias de Benghazi.   Mesmo diante das críticas da Liga Árabe, da Rússia e da China, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da França, Alain Juppé, qualificou a operação militar de “sucesso”, uma vez que ela teria evitado um “banho de sangue”. A opinião pública francesa começou a criticar a posição belicosa de Sarkozy, num momento em que se amplia o desgaste interno de sua imagem.
          
2. Começaram a aparecer fissuras nas posições dos EUA e dos países europeus. Consta que a OTAN apoiaria a operação militar dentro de poucos dias. Mas isso é visto com preocupação pela França, pois os países árabes de uma maneira geral são contrários à intervenção da aliança atlântica.  As operações da coligação (EUA, França e Reino Unido) estão sendo coordenadas pelos QGs norte-americanos de Ramstein (Alemanha) e Nápoles (Itália).
         
3. A Itália chegou mesmo a ameaçar a retomar o controle da base norte-americana posta à disposição da coligação. "Isso não deveria ser uma guerra contra a Líbia, mas a estrita aplicação da resolução da ONU”, considerou ainda o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Itália, Franco Frattini. O Secretário de Defesa dos EUA manifestou o interesse de a coordenação das operações militares passar para a França, ou para o Reino Unido, ou mesmo para a OTAN.
          
4. Os canais de televisão norte-americanos estão começando a criticar a operação na Líbia, que estaria segundo eles a se transformar em mais um campo de batalha dos EUA sem desenlace no curto prazo. Chegam mesmo a lembrar os casos do Iraque e do Afeganistão, onde suas tropas estão atoladas há alguns anos. Deputados pedem que o Congresso dos EUA, debata a situação. A Noruega suspendeu sua participação nas operações da Líbia, retirando da base na Itália seus aviões F-16. A Alemanha e, sobretudo a Turquia reiteraram que não desejam o envolvimento da OTAN, “se for para intervir com bombardeios como ocorreu nos últimos dias”.
          
5. A União Europeia adotou, ontem, sanções reforçadas contra a Líbia e se afirmou preparada para conceder ajuda humanitária. Porém, não escondeu as profundas divisões em seu seio no tocante à forma das operações militares conduzidas ate agora. Embora a Rússia não tivesse aposto seu veto à resolução do Conselho de Segurança, Vladimir Putin observou parecerem as operações militares “a um apelo às cruzadas na época da Idade Média”.    
          
6. O Secretário Geral da Liga Árabe, Amr Moussa, que havia apoiado a instauração da zona de exclusão aérea, agora está contra os bombardeios indiscriminados, que inclusive atingiram alvos civis.  O Conselho de Segurança da ONU deve reunir-se  para reexaminar a situação na Líbia. De acordo com o Quai d'Orsay, uma vintena de aviões franceses e quatro aviões canadenses realizaram 55 missões desde o sábado. Porém, ontem, segunda-feira, não se efetuou nenhuma missão... Por quê?
          
7. O Brasil pediu um cessar fogo geral na Líbia.

por Zé Dirceu

Europa fecha com os EUA na Líbia e mete-se numa enrascada

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símbolo da ONU
A Europa mais uma vez acompanhou a diplomacia norte-americana e deu aval para a decisão do Conselho de Segurança da ONU (CS-ONU), que autorizou na 6ª feira pp. uma intervenção na guerra civil na Líbia.

O eufemismo "zona de exclusão aérea" não durou nem 12 horas. Na prática, o que assistimos a partir do sábado foi uma intervenção pura e simples dos Estados Unidos e de várias outras potências (França, Inglaterra, Itália, Canadá) no país.

Tanto é assim que, iniciada a ofensiva, agora sob o pretexto de fazer o governo Muamar Kaddhafi respeitar a intervenção adotada sob o pomposo nome de "zona de exclusão aérea", a Liga Árabe foi a 1ª a botar a boca no mundo e a protestar que o ataque à Líbia difere do que foi acordado e aprovado na ONU.

Países eram ingênuos, não sabiam o que os EUA queriam?

O texto, lembrou a Liga, diz que o objetivo da zona de exclusão aérea era proteger a população civil, e não bombardear mais objetivos civis. Mais do que isso, com exceção do Qatar, nenhum país árabe quer apoiar a aventura norte-americana e anglo-francesa.

Além da Liga, outros países do bloco chamado de "aliado" se rebelam contra a distorção do que foi aprovado no CS-ONU. Até parece que alguns deles eram ingênuos e não sabiam o que os EUA e as outras potências parceiras pretendiam...

Já que os EUA, pela voz de seu presidente, Barack Obama, apressa-se em querer passar o comando das operações para outra potência ou instituição, a Turquia, inclusive, impediu com seu veto que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) assumisse a coordenação dos ataques. Ela insiste em negociar diretamente com Kaddhafi (leiam o post "Civis e Direitos Humanos: defesa só na Líbia").

por Alon Feuerwerker

Ocupação burocrática de espaços 


O Brasil buscou para si um lugar na zona de conforto. A custo zero. Quis sair bem com todos os lados, sem sujar as mãos e livre para poder reclamar depois. Mas sem desafiar as posições hegemônicas

Em uma passagem do discurso na cerimônia planaltina com o colega Barack Obama a presidente Dilma Rousseff disse que "não nos move o interesse menor da ocupação burocrática de espaços de representação. O que nos mobiliza é (...) que um mundo mais multilateral produzirá benefícios para a paz e a harmonia entre os povos".

Ou seja, a reivindicação brasileira por um lugar no Conselho de Segurança não expressa ambição, apenas desejo de ajudar o mundo. Um gesto de grandeza.

O que seria, precisamente, uma eventual "ocupação burocrática de espaços"? A expressão não tem maior significado. Uma cadeira no CS é sempre política, nunca burocrática.

No dia em que o Brasil for membro permanente da instância maior da ONU vai estar ali como qualquer outro no mesmo nível, votando de acordo com as convicções e conveniências.

A fala presidencial teve um aroma de uvas verdes.

Há quem pense, inclusive no governo, que só não somos ainda membros permanentes do CS porque nos falta força militar, talvez uma bomba nuclear.

A Coréia do Norte tem a bomba e o Japão não. Quem está mais perto da vaga?

Outro país bem posicionado é a Alemanha, e ela quer distância da bomba.

Talvez o caminho para um assento permanente dependa mais da capacidade de definir nosso papel exato, o que desejamos ser no mundo.

China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia estão lá por razões objetivas, historicamente determinadas. E cada um pagou pela filiação com muito sacrifício e sangue.

A China saiu um tempo, mas acabou voltando, por motivos óbvios e bem realistas.

Ainda sobre o Conselho de Segurança, vale olhar para o que aconteceu na segunda votação sobre a crise líbia.

Dez apoiaram a intervenção militar e cinco abstiveram-se. Votaram a favor o árabe Líbano -um governo onde o Hezbollah é a força decisiva- e os africanos Nigéria, Gabão e África do Sul.

Duas abstenções autoexplicam-se. Se China ou Rússia votassem contra inviabilizariam a resolução, pois têm poder de veto. Os votos russo e chinês foram, portanto, a favor, mas assim meio disfarçados.

Uma neutralidade a favor. Para poder reclamar depois.

Como fez o Brasil.

Ninguém quis pagar o preço político de ficar sócio de Muamar Gadafi no massacre da oposição líbia.

Zona de exclusão aérea é ato de guerra. Quando alguém propõe uma guerra, ou você fica a favor ou fica contra. Guerra não é algo que suporte "apoio crítico".

O Brasil preferia uma resolução que permitisse às potências agir, mas de leve. Talvez para manter o status quo, livrar a cara da "comunidade internacional" e também oferecer uma bela saída para o amigo Gadafi.

Como a resolução aprovada permite tudo, menos tropas terrestres (1), é possível às potências desenhar uma estratégia em que a intervenção se dá no ar e no mar, para abrir espaço em terra ao avanço dos rebeldes anti-Gadafi rumo ao poder, ou pelo menos rumo ao equilíbrio estratégico.

Que também será um cadafalso para Gadafi, talvez mais lento.

Se o Brasil desejava preservar o líbio, era razoável o Brasil votar contra a resolução.

Mas deu a lógica. Nosso país enveredou pelo caminho tradicional, e não apenas deste governo. Tanto que a abstenção recebeu elogios do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

O Brasil buscou para si uma área na zona de conforto. A custo zero. Quis sair bem com todos os lados, sem sujar as mãos e livre para poder criticar depois.

Mas sem confrontar as posições hegemônicas.

Deve ser a tal "ocupação burocrática de espaços".

por Alon Feuerwerker

Ocupação burocrática de espaços 


O Brasil buscou para si um lugar na zona de conforto. A custo zero. Quis sair bem com todos os lados, sem sujar as mãos e livre para poder reclamar depois. Mas sem desafiar as posições hegemônicas

Em uma passagem do discurso na cerimônia planaltina com o colega Barack Obama a presidente Dilma Rousseff disse que "não nos move o interesse menor da ocupação burocrática de espaços de representação. O que nos mobiliza é (...) que um mundo mais multilateral produzirá benefícios para a paz e a harmonia entre os povos".

Ou seja, a reivindicação brasileira por um lugar no Conselho de Segurança não expressa ambição, apenas desejo de ajudar o mundo. Um gesto de grandeza.

O que seria, precisamente, uma eventual "ocupação burocrática de espaços"? A expressão não tem maior significado. Uma cadeira no CS é sempre política, nunca burocrática.

No dia em que o Brasil for membro permanente da instância maior da ONU vai estar ali como qualquer outro no mesmo nível, votando de acordo com as convicções e conveniências.

A fala presidencial teve um aroma de uvas verdes.

Há quem pense, inclusive no governo, que só não somos ainda membros permanentes do CS porque nos falta força militar, talvez uma bomba nuclear.

A Coréia do Norte tem a bomba e o Japão não. Quem está mais perto da vaga?

Outro país bem posicionado é a Alemanha, e ela quer distância da bomba.

Talvez o caminho para um assento permanente dependa mais da capacidade de definir nosso papel exato, o que desejamos ser no mundo.

China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia estão lá por razões objetivas, historicamente determinadas. E cada um pagou pela filiação com muito sacrifício e sangue.

A China saiu um tempo, mas acabou voltando, por motivos óbvios e bem realistas.

Ainda sobre o Conselho de Segurança, vale olhar para o que aconteceu na segunda votação sobre a crise líbia.

Dez apoiaram a intervenção militar e cinco abstiveram-se. Votaram a favor o árabe Líbano -um governo onde o Hezbollah é a força decisiva- e os africanos Nigéria, Gabão e África do Sul.

Duas abstenções autoexplicam-se. Se China ou Rússia votassem contra inviabilizariam a resolução, pois têm poder de veto. Os votos russo e chinês foram, portanto, a favor, mas assim meio disfarçados.

Uma neutralidade a favor. Para poder reclamar depois.

Como fez o Brasil.

Ninguém quis pagar o preço político de ficar sócio de Muamar Gadafi no massacre da oposição líbia.

Zona de exclusão aérea é ato de guerra. Quando alguém propõe uma guerra, ou você fica a favor ou fica contra. Guerra não é algo que suporte "apoio crítico".

O Brasil preferia uma resolução que permitisse às potências agir, mas de leve. Talvez para manter o status quo, livrar a cara da "comunidade internacional" e também oferecer uma bela saída para o amigo Gadafi.

Como a resolução aprovada permite tudo, menos tropas terrestres (1), é possível às potências desenhar uma estratégia em que a intervenção se dá no ar e no mar, para abrir espaço em terra ao avanço dos rebeldes anti-Gadafi rumo ao poder, ou pelo menos rumo ao equilíbrio estratégico.

Que também será um cadafalso para Gadafi, talvez mais lento.

Se o Brasil desejava preservar o líbio, era razoável o Brasil votar contra a resolução.

Mas deu a lógica. Nosso país enveredou pelo caminho tradicional, e não apenas deste governo. Tanto que a abstenção recebeu elogios do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

O Brasil buscou para si uma área na zona de conforto. A custo zero. Quis sair bem com todos os lados, sem sujar as mãos e livre para poder criticar depois.

Mas sem confrontar as posições hegemônicas.

Deve ser a tal "ocupação burocrática de espaços".

é hilariante oposição passar 8 anos criticando e agora elogiar o governo, dizendo ser diferente'


Lula foi irônico na noite de ontem com membros da oposição, sobretudo com FHC, que o criticou por não ter ido ao almoço com o presidente Barack Obama. Disse que foi "hilariante" saber que os opositores digam agora que a presidente Dilma Rousseff, que ele ajudou a eleger como sua sucessora, é diferente dele, e que os que passaram oito anos criticando seu governo agora passem a falar bem.
" Provavelmente agora que o presidente Obama fez rasgados elogios ao Brasil, à sua ascenção e importância no mundo, alguns que passaram dez anos criticando, passem agora a falar bem. É extraordinário e hilariante. Foram oito anos. Sabem como pegamos e como deixamos o país. Alguns adversários tentaram vender que nós éramos a continuidade. Agora que elegemos alguém para fazer a continuidade, dizem que agora ela é diferente. É o mínimo hilariante." disse Lula. 
Convidado para ir ao almoço com Obama, Lula não foi. Mas o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi e elogiou Dilma pela "civilidade" do convite, aproveitando para criticar Lula por não ter ido e por não o ter convidado para ir ao Palácio do Planalto em oito anos de seu governo. Lula não deu entrevista aos jornalistas que acompanharam o jantar para 800 convidados da comunidade árabe e alusão ao ex-presidente FH foi feita por Lula no discurso no início do jantar por volta das 22h, no Clube Monte Libano.
Ao responder ao discurso do professor Mohamed Abdib, do Insituto Cultural Árabe, da Unicamp, que disse que Lula deixava saudades, o ex-presidente pregou a alternância no poder.
- A rotatividade e alternância do poder é uma coisa sagrada e vocês não sabem o orgulho que tenho por ter entregue a presidência da República a uma mulher que foi perseguida e torturada - disse Lula.
Durante o jantar, os organizadores do evento apresentaram videos mostrando Lula chorando na posse no TSE em 2002 e trechos de sua viagem ao mundo árabe em 2003. Lula foi muito aplaudido ao defender os árabes.
- Todo mundo dizia que o terror tinha a cara de árabe, que o terror tinha a cara de um latino-americano ou de qualquer outro país, mas nunca das potências. Quando na verdade o povo palestino era mais vitima do que terrorista - disse Lula, que recebeu uma placa de agradecimento da comunidade muçulmana.
Ele defendeu a posição brasileira de ter se abstido no ataque à Libia.
- Sou solidário à posição do Brasil que se absteve na votação da invasão à Libia. Isso só acontece porque a ONU está enfraquecida, representada por forças do século 20 e não do século 21 - disse Lula, que defendeu que o secretário-geral da ONU vá à Líbia "conversar".
Além da comunidade árabe, alguns ministros de Dilma estavam presentes, como Orlando Silva (esportes) e Fernando Haddad (Educação).