por Alon Feuerwerke

As vitórias de cada um

Dilma Rousseff e o PMDB saíram ambos muito bem da votação do salário mínimo na Câmara dos Deputados. A presidente recolheu a fama de ter enquadrado o partido, e este levou a promessa de ter as reivindicações atendidas. Ou seja, cada um emergiu da pendenga com o que julga essencial.

O PMDB (agora que ele votou por unanimidade, não soará estranho dizer "o" PMDB) não quer protagonismo, quer espaço político e orçamentário, para manter a máquina funcionando. Já Dilma não pode se dar ao luxo de ser vista como fraca. Seria mortal. Eis por que a convergência da quarta-feira foi boa para os dois.

Alías, não só Dilma e o PMDB colheram boas notícias na votação do mínimo. O resto do país também, exceto quem depende do dito cujo para pagar as contas.

O país verificou que há um governo com metodologia clara. E viu que há uma oposição disposta a fazer o debate chamado de programático. O primeiro ponto não é tão novo assim. Já o segundo é uma novidade e tanto.

O governo estabeleceu a regra do jogo. Entre a disciplina e a negociação, prevalece a primeira. As bancadas parlamentares são correia de transmissão do governo. Eventualmente podem ser ouvidas sobre um ou outro assunto, mas os espaços de poder do Executivo e do Legislativo estão bem delimitados.

Assim como o espaço dos movimentos sociais. O apoio deles ao governo é bem recebido, mas não implica contrapartida na repartição de poder.

Nos assuntos que o governo considerar estratégicos, cabe à base marchar unida conforme a orientação. Neste ponto, o estilo de Dilma não deixa espaço para outras interpretações.

Agora, espera-se da administração a repetição da valentia, da exibição de músculos, da firmeza e da determinação também em outros temas. Especialmente quando, ao contrário das vítimas da quarta-feira, os atingidos forem indivíduos e grupos com recursos para buscar diuturnamente proteção no poder.

Não passou batido, por exemplo, que no mesmo ambiente conturbado pelo debate em torno do mínimo o mercado tenha tomado conhecimento de que a Caixa Econômica Federal vai colocar alguns bilhões a mais no Banco Panamericano. Mais precisamente R$ 10 bilhões. Impressiona o esforço do governo no salvamento da instituição.

Além de conhecer na inteireza o governo que elegeu, o Brasil também pôde notar um ajuste na atitude da oposição. Que deixou de lado a tentação de se apresentar como a responsável última por tudo que eventualmente o PT faça de certo e passou a executar sua atividade-fim: fazer oposição.

Mais ainda: PSDB, DEM e PPS escaparam da velha tentação de escorregar para o regimentalismo, para os expedientes, para a histeria inconsequente. Sabendo que iriam perder no voto, concentraram-se no debate do mérito. O resultado foi ajudarem a criar uma tensão inédita entre o PT e a base social do partido.

Quarta-feira na Câmara dos Deputados o governo mostrou que está muito forte e a oposição mostrou que está viva. Assim começa o jogo. Agora é acompanhar e, para alguns, torcer.

Me dê motivo

A maioria do Democratas concluiu a operação para evitar o "efeito Tim Maia" na luta interna do partido. Para fugir do "me dê motivo", recompôs a Executiva Nacional da sigla e contemplou os talvez futuros dissidentes.

O que não resolve o problema, pois há uma turma do DEM que luta com todas as forças para não ficar na oposição. Só não poderão dizer que o motivo da saída é a falta de espaço na direção partidária. Precisarão achar outro argumento.

A vida do pessoal que promete sair não será tão fácil. Para contornar a fidelidade partidária vão criar uma nova legenda. Mas se o novo partido fundir-se com algum dos atuais antes mesmo de disputar uma eleição há o risco real de a Justiça enxergar nisso só uma gambiarra.

Na teoria, segundo alguns conhecedores da lei, a nova sigla deveria disputar pelo menos uma eleição para ficar comprovada a boa fé da iniciativa.

Tem boa chance de virar um baita imbroglio.



Poesia

Eco depois de um mês em 68

Nós cansamos do velho
da intrépida múmia
com mofo aromático
E desespero tétrico.
Mas nunca do clássico
Pois esse não envelhece
Ganha a voz com o vento
E no tempo permanece.

Nós cansamos do que se basta
O que se rende à casta
Temem o que vem e se temem
Nunca se olham nem se desentendem
Nunca se afirmam e nem surpreendem.

Nós inventamos o futuro
E engolimos o modernismo
Nós devoramos a vanguarda
E transcendemos o partidarismo
mas isso,
é só
porque nascemos depois
que nasceu o pluralismo.

Eunice Boreal – Cronópios



Não me deixes mais (Ne me quitte pas) - Fagner

Artigo semanal de Delúbio Soares

EDUCAÇÃO, O MELHOR INVESTIMENTO

"Educai as crianças e não será preciso punir os homens"

Pitágoras, 570 a.c.

 Aeroportos, trem-bala e ferrovias, portos, rodovias, usinas hidrelétricas e grandes obras de infra-estrutura. Há muito sendo feito e muito por fazer. São os investimentos que o país reclama permanentemente e se fazem indispensáveis para a continuidade de nosso processo desenvolvimentista. Quanto mais são feitos, mais se fazem necessários, em maior número, ao longo dos anos. Consomem bilhões, anos de trabalho, largo planejamento e decisão política. Mas, certamente, pouco ou nada são se comparados ao grande investimento que um país deve, diuturna e obrigatoriamente, fazer: a educação.

 É difícil mensurar. Talvez seja impossível chegar à conta certa. Mas para cada real gasto com educação, o Brasil ganha, ao longo dos anos, milhões de retorno. Cada estudante bem formado no ensino elementar, cada aluno que recebeu uma educação básica adequada, é um excelente investimento realizado no futuro da Nação, tornando-se um cidadão de altíssima qualificação no mercado de trabalho e na própria vida profissional.

 Sou, antes de tudo, um professor. Minha devoção ao magistério é integral, assim como meu compromisso para com a educação. Vivenciei nas escolas públicas de Goiás, primeiro como aluno e depois como professor, a dura luta dos que buscam o saber e dos que o ministram, enfrentando a escassez de recursos, os baixos salários, toda sorte de dificuldades surgidas na longa caminhada. Nada disso jamais inibiu meu espírito de luta ou esmoreceu a vontade de meus alunos, milhares ao longo de décadas de trabalho duro e fé inquebrantável em nossa missão.

 Não acredito em países que não investirem até o último centavo em educação. Não vislumbro futuro nos povos que não priorizarem a educação. Não creio na viabilidade das Nações que não elevarem a educação à condição de um compromisso irrevogável e absoluto. Sem educação, nada feito.

 Os organismos internacionais estão aí, cheios de números eloqüentes, lotados de mapas e gráficos, comprovando que os países que lá atrás, na virada do século XIX, jogaram pesado em favor do ensino básico e, também, iniciaram a construção de sólidas universidades, hoje colhem os frutos de tamanhos acertos. São o Canadá, os Estados Unidos e alguns países europeus. Mas também são vizinhos como o Uruguai e Argentina, além do Chile, que apresentam altíssimo índice de alfabetização e uma grande população universitária. O IDH desses países é maior que o nosso, suas classes médias são fortíssimas e a escola pública apresenta uma qualidade surpreendente. Nem a turbulência política eventual de décadas passadas conseguiu empanar o brilho das vitórias alcançadas na educação pública de boa qualidade.

 O número dos que se iniciam no ensino primário e chegam à universidade nesses países é bastante maior do que no Brasil. Já conseguimos diminuir a distância nos últimos anos, com o Pro-Uni e uma acentuada melhora na rede de ensino público, mas ainda há muito por fazer.

 Não acredito que exista uma conspiração elitista contra a presença dos filhos do povo nos bancos universitários. De forma alguma. Acredito, sim, que exista uma consciência que cresce entre nossa população mais humilde, em meio à massa trabalhadora, de que ter um filho seu freqüentando a faculdade de medicina, ou de engenharia, ou de direito, não é mais um sonho generoso de pai e mãe, mas possibilidade concreta numa sociedade que se democratiza e onde a justiça social se faz mais presente a cada dia. A universidade hoje é um desafio, não é mais um sonho. Ela é possível, ela é viável, ela pode ser alcançada, sim!

 Temos uma larga tradição de educadores geniais. São Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, são Paulo Freire e Milton Santos, são os mestres perdidos nos sertões desse país continente. Mas há o outro lado da moeda, aquele Brasil onde 11,8% da população ainda não receberam a benção do alfabeto. São 18 milhões de irmãos brasileiros, com mais de 10 anos de idade e sem saber ler ou escrever. Algo como toda a população da região metropolitana de São Paulo sem as luzes do saber, imersos nas trevas do analfabetismo. Há progresso que compense tamanha chaga?

 Há indicadores que nos inquietam: menos de 1/3 da população, em idade apropriada, cursou integralmente o ensino médio. No ensino fundamental público, a reprovação é de 12,5%; o abandono é de 9,5%. Menos de 5% da população adulta cursa ou cursou o ensino superior. Tal situação já foi pior. Nos últimos oito anos os índices negativos experimentaram uma curva decrescente acentuadíssima. O governo Lula primou por investir em todas as frentes da educação. No governo Dilma, com certeza, não será diferente.

 Eu vos garanto como aluno das escolas rurais do interior goiano, eu vos asseguro como professor das escolas públicas anos a fio, educando milhares de jovens: não há maior e melhor investimento que um país possa fazer do que na educação de seu povo. Ali, nas salas de aula, com professores bem pagos, alunos bem assistidos, bem alimentados e com material didático e pedagógico adequados, em escolas e faculdades modernas e informatizadas, está a semente da grande potência do século XXI.

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A herança bendita

 Com o título acima refiro-me, obviamente, à deixada à presidenta Dilma Rousseff pelos últimos oito anos do governo do presidente Lula, uma verdadeira revolução social, e sem precedentes, neste país. Os números, da redução da pobreza durante sua gestão, foram apresentados nesta 4ª feira (ontem) ao próprio Lula pelo presidente do IBGE, Eduardo Nunes, e pelo economista Marcelo Nery da FGV-RJ.

O ex-presidente Lula começou, assim, a coletar os dados (no caso de ontem, com base no Censo 2010 do IBGE) sobre seu governo que levará para o Instituto, que está em fase de reforma, e para o Memorial a ser criado. Segundo o economista Marcelo Nery, a apresentação, números e informações mostram a dimensão da "herança bendita" que o governo Lula deixou para o da presidenta Dilma e para milhões de brasileiros beneficiados pelas decisões acertadas de sua administração.

Durante a reunião, o ex-presidente Lula reconheceu que o ajuste fiscal que sua sucessora terá de fazer neste 1º ano de mandato será "tão forte" quanto o que ele realizou em 2003. Lembrou, também, o drama que viveu em 2004, diante da decisão - que provou-se acertada depois - de não aumentar o salário mínimo.

Como vocês podem ver, o ex-presidente Lula continua o mesmo com os amigos e com o Brasil. Atento e preocupado com as saídas que sejam melhor para todos, e também, com a memória, para deixar registrada a revolução social de seu governo. Uma revolução reconhecida pelos brasileiros que nele votaram três vezes - a terceira, ao eleger sua sucessora, nossa presidenta Dilma Rousseff.

Minas é a Calábria do Brasil

José Serra não aprende. Não bastasse o isolamento numa fatia grande do PSDB, operação armada pelo senador Aécio Neves, seu colega-adversário, Serra caiu numa armadilha montada por Itamar Franco (PPS-MG), senador redivivo na última eleição justamente pelas mãos de Aécio.

Nos últimos dias, Itamar, o imprevisível, saiu pelos corredores e pelo plenário do Senado a defender a convocação de Serra à Casa. Itamar advogava que Serra deveria ser chamado para defender publicamente a proposta que apresentara na campanha presidencial de elevar o salário mínimo a R$ 600 ainda neste ano. O objetivo de Itamar, segundo o próprio, seria ampliar o debate sobre o tema, até então dominado pela proposta do governo, de R$ 545. Muito bom, muito bem, não fosse o fato de que, até a eleição de 2010, quando ao menos tecnicamente estiveram no mesmo lado, Itamar alimentou por Serra um desprezo colossal. (Nesse caso, não valia a máxima de que mineiro não briga, mas também não perdoa, já que um dos esportes preferidos de Itamar sempre foi falar mal de Serra.) Noves fora os desentendimentos do passado, o certo é que, do Senado, Itamar lançava um tapete vermelho na direção de Serra – e o gestou encontrou ressonância. Dando gás ao plano, o jornal Estado de Minas, porta-voz dos interesses de Aécio, replicou o convite: "Itamar quer convocar Serra para explicar mínimo de R$ 600".

Parecia armadilha – e era. Mas Serra pagou para ver.

Ontem, Serra foi a Brasília. Não falou no Senado, mas em reunião com deputados e senadores tucanos, o candidato derrotado à Presidência defendeu o salário mínimo de R$ 600. "É factível", disse ele. No mesmo dia, o governador de São Paulo, o também tucano Geraldo Alckmin, anunciou que o valor do salário mínimo no Estado será de R$ 600. Por algumas horas, alguns jornalistas, eu inclusive, enxergamos na fala sincronizada de Serra e Alckmin uma inusitada harmonia no ninho tucano. Cheguei a postar no twitter (@_lucasfigueired) que Itamar tinha servido de escada para Serra. Qual o quê. Em Minas, nada é o que parece.

Leio hoje na coluna Painel da Folha de S.Paulo, usada por Aécio para mandar recados, a seguinte nota:

"Água e óleo – Até o salário mínimo divide José Serra e Aécio Neves. Enquanto o primeiro foi a Brasília tentar convencer a bancada tucana a abraçar os R$ 600 defendidos por ele na campanha, aecistas argumentaram que a oposição soará oportunista se bater o pé por esse valor, especialmente se as centrais sindicais aceitarem algo mais modesto, como tudo indica que irá acontecer."

Não foi a única lambada que Serra levou. Ontem, o Estado de Minas – o mesmo que noticiara com destaque o inusitado interesse de Itamar em convocar Serra ao Senado – noticiou na capa: "Serra defende R$ 600, mas prefeitos tucanos refutam".

Buscando a luz, fugindo do fracasso da eleição e da perseguição de seus pares tucanos, Serra acreditou que ia se dar bem com o aceno de Itamar. Não sabia ele que Minas é a Calábria do Brasil.



Arapuca

Agora foi a do salário mínimo de 600 reais. Mas, que ninguem se iluda muitas outras serão armadas pela tucademopiganalhada.
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