Sensibilidade
O PT e PSDB a caminho de 2014
Enquanto alguns se encantam com as movimentações de Kassab e seus correligionários, achando que representam um "fato novo" relevante no jogo político nacional, o sistema permanece onde sempre esteve. Há 20 anos, não muda (mais tempo que durou a República de 1945 inteira).
Desde a crise do governo Collor e a posse de Itamar, a vida política nacional se bipolarizou. De um lado, o PT (e seus satélites), de outro, o PSDB (também com legendas orbitando em seu torno). No restante, lideranças e partidos que avaliam com qual dos dois ficará o poder, a fim de decidir com quem estarão. Um dia, será com um, amanhã, com o outro. (Sem esquecer da extrema esquerda, que será sempre contra tudo e todos).
Esse modelo é tão sólido que, nem bem começou o governo Dilma, já se discute qual será o candidato petista e qual o tucano que se enfrentarão em 2014.
Há, até, quem faça a mesma pergunta a respeito das eleições de 2018, acreditando que a bipolarização atual chegará aos 30 anos, na hora em que o sucessor do sucessor de Dilma terminar seu mandato.
Nas duas últimas eleições presidenciais, essa tendência se acentuou. Em 2006, Lula e Alckmin dividiram mais de 90% dos votos no primeiro turno. Em 2010, Dilma e Serra somaram quase 80%, apesar do "fenômeno Marina".
Ou seja, mesmo havendo a eleição em dois turnos - que deveria encorajar os partidos a lançar candidatos e deixar as composições para o segundo turno -, a bipolarização está se consolidando.
Não parece impossível que, nas próximas, surjam terceiras e quartas vias, mas nada indica que as chances sejam altas. Qualquer um vê que o governador Eduardo Campos, por exemplo, tem potencial para uma candidatura presidencial logo em 2014.
Mas poucos apostariam nela, pois ele mesmo e seus companheiros de PSB dão mostras de preferir continuar ao lado do PT até o final do governo Dilma – hipótese que seria inviabilizada se tivessem candidato próprio. No máximo, pensa-se em seu nome como opção (desejável por todos, incluindo o PSDB) para a Vice-Presidência.
O paradoxo desse cenário é que ele existe apenas no topo do sistema político, sem correspondência efetiva em suas bases e níveis intermediários. Fora da escolha do presidente da República, continuamos a ter um sistema partidário multifacetado, com mais de 20 partidos representados na Câmara (hoje, talvez um pouco menos, pois algumas dessas legendas – as menos significativas – foram esvaziadas pelo PSD).
No Legislativo federal, PT e PSDB têm o mesmo tamanho: juntos, elegeram141 deputados em 2010 (27% de 513) e somam 23 senadores (28% de 81). Nos estados, números semelhantes: têm 8 governadores (29% de 27) e 272 deputados estaduais e distritais (25% de 1059).
Ou seja, partidos que representam algo perto de um quarto do eleitorado nas eleições legislativas e estaduais, capitanearam as cinco últimas eleições presidenciais e parece que continuarão a polarizar as futuras (até onde conseguimos enxergar).
Para 2014, a estratégia do PT é clara: fazer o que estiver a seu alcance para que o governo Dilma seja bem-sucedido. Isso não significa que inexistam tensões e até conflitos na relação entre a presidente e o partido.
O Planalto não vai fazer, sempre, tudo que seus líderes e integrantes desejam, e esses não responderão com obediência a cada orientação que vier de lá.
Mas, como vimos na sucessão de Lula, chega uma hora em que o PT se ajeita. E vai se acertar, de novo, quando a eleição se avizinhar.
Não há nada que um partido que está no poder possa fazer além disso. Quem quer que seja seu candidato, terá que justificar o governo. Se as coisas continuarem a andar bem no país, será fácil. Se não, menos, mas a explicação e a defesa do trabalho feito são inescapáveis.
Importa pouco, para esta discussão, se Dilma será a candidata ou se Lula vai voltar. Quem a conhece calcula que ela participará da decisão de forma racional, ponderando o que é mais vantajoso para o partido no médio e longo prazo. O mesmo deverá fazer o ex-presidente.
Isso, em outras palavras, quer dizer que a eleição de 2014 não começou para o PT: não precisa formular uma agenda e pode deixar a definição de sua candidatura para quando considerar oportuno.
No PSDB, as coisas são mais complicadas. Para convencer o eleitorado de que é preciso mudar, é necessário dizer como e em quê. E mostrar-se minimamente coeso, com uma liderança que expresse essa plataforma.
Hoje, os tucanos estão presos à sua eterna discussão de "resgatar o governo FHC", como se não valorizá-lo fosse o motivo dos insucessos recentes. E continuam sem definir o rosto que terão.
Para eles, a eleição já começou. Só que não sabem o que fazer.
Sacerdotes da estagnação(?)
Já o PT lembra ter recebido o governo em 2003 com os preços saindo de controle, e diz que Luiz Inácio Lula da Silva deu jeito na coisa, ao aplicar um arrocho fiscal e monetário naquela largada.
O PSDB retruca lembrando que o instrumental usado pelo PT foi uma herança do governo tucano, especialmente a Lei de Responsabilidade Fiscal. O petismo observa que a construção institucional das ferramentas vem de mais longe.
O ministro da Fazenda Antonio Palocci era expert em introduzir esse último elemento na narrativa. Distribuindo os méritos da coisa.
E segue o debate, bastante autocentrado. Cada polo é tão cioso na própria defesa que esquece de olhar ao redor.
As quase duas décadas de poder tucano e petista realmente afastaram a superinflação, mas não entregaram a mercadoria prometida.
Deixaram o serviço pela metade. Não explicaram como fazer para crescer forte e consistentemente num ambiente de preços controlados.
Ou bem o país cresce e os preços sofrem além do desejado, ou o controle dos preços acaba matando a expansão da economia.
Lula pretendia ter superado essa barreira, com o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, tocado pela braço direito Dilma Rousseff. Conseguiu um certo plus (apesar da crise mundial), que logo se revelou insustentável.
Era a época das autoridades econômicas alardeando o rompimento da barreira do PIB potencial (o máximo que a economia pode crescer sem estourar a meta de inflação) medíocre. Depois de muito tempo, 3 ou 3,5% não eram mais nosso limite.
E 2010 foi vendido como prova, com seu vistoso PIB de 7,5%. Era ilusão. O número resultou da comparação com o retraimento absoluto de 2009. Passada a flacidez fiscal da eleição, a fantasia deixou de servir.
O governo FHC sacrificou o crescimento em favor do combate à inflação, e os governos do PT não conseguem decolar sem acordar a dita cuja. Um nó estrutural aparentemente indesfazível.
Agora Dilma está ameaçada pelo pior dos mundos. Crescimento medíocre com inflação incômoda. Para sorte do Brasil, a presidente parece resistir à solução tradicional.
Pois se é verdade que a inflação é um imposto antissocial, atinge mais quem menos consegue proteger o próprio dinheiro, o desemprego é outra chaga. O chamado Primeiro Mundo é prova.
Dilma escolheu o caminho certo ao evitar que o Banco Central decidisse novamente congelar a economia. Foi o BC quem tomou a decisão de baixar os juros, mas foi a presidente quem indicou o comando do BC. E o apoia. Está tudo bem entendido.
Será porém preciso avançar. E os sinais são insuficientes. O governo aposta no mercado interno para enfrentar a crise planetária, mas é pouco. A indústria patina há três anos, desmascarando postumamente a farsa da "marolinha".
Não basta o governo dizer que não sacrificará o crescimento em nome do combate à inflação, se deixa o país escorregar para a estagflação.
É preciso que diga como, efetivamente, vai manter a máquina funcionando em velocidade desejada sem estourar os preços.
O PT venceu três eleições presidenciais porque, entre outras razões, a maioria do país recusou a volta a um modelo de conformismo com o baixo crescimento, um fardo que os candidatos tucanos precisaram carregar como triste legado do período FHC.
Uma herança maldita.
Mas que vai se diluindo no tempo. O problema agora é outro. O PT já está no poder faz tempo suficiente, deve dizer a que veio.
Dilma largou bem mas a corrida é longa. A presidente foi bem na primeira curva, quando o BC ignorou os sacerdotes da estagnação e baixou os juros.
Mas se Dilma bobear ninguém lá na frente lembrará que a presidente começou a corrida na pole-position.
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Romance matuto
Menino, se você quiser
Eu faço esse mundo seu
Quem é sincero assim não teme
Você tem o leme
Do destino meu
Menino, você vai ouvir
Palavras lindas de amor
Que vem de um coração menina
Meigo e nordestino
Desta cantadora
Sou carinhosa danadia de boa
Modéstia a parte, eu não conheço igual
Se pego o fole não escolho o tom
Morre a tristeza e nasce um carnaval
Menino, pode acreditar
Não pense pra se resolver
Felicidade tá bem perto
Sou o ponto certo
É só você querer
Oração do professor
Dai-me, Senhor, o dom de ensinar, Mas, antes do ensinar, Senhor, Dai-me o dom de aprender. Aprender a ensinar Aprender o amor de ensinar. De aprender sempre. Que eu persevere mais no aprender do que no ensinar. Que meus conhecimentos não produzam orgulho, Mas cresçam e se abasteçam da humildade. Que minhas palavras não firam e nem sejam dissimuladas, Mas animem as faces de quem procura a luz. Que a minha voz nunca assuste, Mas seja a pregação da esperança. Que eu aprenda que quem não me entende Precisa ainda mais de mim, E que nunca lhe destine a presunção de ser melhor. Dai-me, Senhor, também a sabedoria do desaprender, Para que eu possa trazer o novo, a esperança, E não ser um perpetuador das desilusões. Dai-me, Senhor, a sabedoria do aprender Deixai-me ensinar para distribuir a sabedoria do amor. |
A porta mais larga do mundo
Admirado mediu-a de novo.
Como se duvidasse das medidas que obteve, mediu-a pela terceira vez. E assim tornou a medi-la várias vezes.
Curiosas, as pessoas que por ali passavam começaram a parar.
Primeiro um pequeno grupo, depois um grupo maior, por fim uma multidão.
Voltando-se para os curiosos o homem exclamou, visivelmente impressionado:
- Parece mentira! Esta porta mede apenas dois metros de altura e oitenta centímetros de largura, no entanto, por ela passou todo o meu dinheiro, meu carro, o pão dos meus filhos; passaram os meus móveis, a minha casa com terreno.
- E não foram só os bens materiais. Por ela também passou a minha saúde, passaram as esperanças da minha esposa, passou toda a felicidade do meu lar...
- Além disso, passou também a minha dignidade, a minha honra, os meus sonhos, meus planos...
- Sim, senhores, todos os meus planos de construir uma família feliz, passaram por esta porta, dia após dia... gole por gole.
- Hoje eu não tenho mais nada... Nem família, nem saúde, nem esperança.
- Mas quando passo pela frente desta porta, ainda ouço o chamado daquela que é a responsável pela minha desgraça...
- Ela ainda me chama insistentemente...
- Só mais um trago! Só hoje! Uma dose, apenas!
- Ainda escuto suas sugestões em tom de zombaria: "você bebe socialmente, lembra-se?"
- Sim, essa era a senha. Essa era a isca. Esse era o engodo.
- E mais uma vez eu caía na armadilha dizendo comigo mesmo: "quando eu quiser, eu paro".
- Isso é o que muita gente pensa, mas só pensa...
- Eu comecei com um cálice, mas hoje a bebida me dominou por completo. Hoje eu sou um trapo humano... E a bebida, bem, a bebida continua fazendo as suas vítimas.
- Por isso é que eu lhes digo, senhores: esta porta é a porta mais larga do mundo! Ela tem enganado muita gente...
- Por esta porta, que pode ser chamada de porta do vício, de aparência tão estreita, pode passar tudo o que se tem de mais caro na vida.
- Hoje eu sei dos malefícios do álcool, mas muita gente ainda não sabe. Ou, se sabe, finge que não, para não admitir que está sob o jugo da bebida.
- E o que é pior, têm esse maldito veneno, destruidor de vidas, dentro do próprio lar, à disposição dos filhos.
- Ah, se os senhores soubessem o inferno que é ter a vida destruída pelo vício, certamente passariam longe dele e protegeriam sua família contra suas ameaças.
Visivelmente amargurado, aquele homem se afastou, a passos lentos, deixando a cada uma das pessoas que o ouviram, motivos de profundas reflexões.