Lei do Talião

Ou, pagando com a mesma moeda

Bode gaiato

- Amor, fala uma coisa picante para mim.
- picante?
- sim!
- muriçoca!

Bode gaiato

- Amor, fala uma coisa picante para mim.
- picante?
- sim!
- muriçoca!

Máfia do jaleco branco apronta mais uma

Profissionais sem ética criam site para ridicularizar consultas e receitas expedidas por médicos estrangeiros no programa Mais Médicos; especialmente os cubanos, é claro; página na internet é ode ao preconceito, mais uma pisada na bola – e forte – da máfia de branco brasileira; página é desrespeito ao Código de Ética dos médicos, pois não se pode divulgar receitas de terceiros

247 – A luta dos médicos brasileiros – ou, ao menos, da parcela que ainda procurar criar fatos contra o programa Mais Médicos – vai ganhando contornos de sofisticação. Agora, depois da execração do médicos estrangeiros, em especial dos cubanos, o que está, digamos, na crista da onda desses profissionais contrários ao programa, mas que, ao mesmo tempo, jamais estiveram nos rincões ao encontro da população brasileira, são as receitas.

Valendo-se das dificuldades dos médicos cubanos, que falam espanhol, em relação ao português, os profissionais brasileiros têm procurado ridicularizar seus colegas da ilha caribenha e socialista, numa demonstração de desapreço à população brasileira.

Procurando apontar falhar nas receitas expedidas pelos médicos estrangeiros, os brasileiros empenhados nessa missão criaram um site. No entanto, iniciativa esbarra no Código de ética dos profissionais de medicina, que veda a publicidade de prontuários de terceiros.

Confira abaixo o site: 

http://maismedicos.tumblr.com/

E aqui, veja dois artigos do Código de Ética:

Capítulo IX

SIGILO PROFISSIONAL

É vedado ao médico:

Art. 75. Fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos médicos, em meios de comunicação em geral, mesmo com autorização do paciente.

Capítulo X

DOCUMENTOS MÉDICOS

É vedado ao médico:

Art. 85. Permitir o manuseio e o conhecimento dos prontuários por pessoas não obrigadas ao sigilo profissional quando sob sua responsabilidade.

Contra os poderosos o Judiciário é pusilame

Reprodução de artigo de Paulo Nogueira, extraído no Diário do Centro do Mundo:

ATÉ QUANDO VÃO TORTURAR GENOINO?

Para ver quanto é absurdo o que estão fazendo com Genoino, basta atentar para o seguinte.

A Globo deve cerca de 1 bilhão de reais – comprovadamente – por conta de uma trapaça fiscal na compra dos direitos da Copa de 2002.

E ninguém cobra – embora tudo esteja documentado.

Os três irmãos Marinhos, como mostra a revista americana de negócios Forbes, são donos, juntos, da maior fortuna do país, superior a 50 bilhões de reais.

Mesmo assim, com tanto dinheiro, a Globo não paga o que deve e ninguém cobra.

Genoino, em compensação, acaba de receber da Justiça dez dias para pagar uma dívida de 468 mil reais por ter feito alguma coisa que ninguém sabe o que é, tais e tantas as incoerências do processo do Mensalão.

A retirada mensal dos Marinhos é, certamente, bem superior aos 468 mil reais cobrados de Genoino.

Mas para Genoino é um dinheiro que ele simplesmente não tem.

Seu patrimônio, como sabe a Justiça, consiste de uma casa modesta num bairro classe média de São Paulo, o Butantã.

Contra a Globo, a Justiça é pusilânime.

Contra Genoino, é um leão.

Não bastasse tudo, Genoino convalesce de um problema cardíaco sério. Parece que a cada semana decidem atormentá-lo, como que para testar seu coração combalido.

No final do ano, Joaquim Barbosa, em seu melhor estilo natalino, negou a ele que pudesse ficar em sua casa em São Paulo para cumprir sua prisão domiciliar temporária.

Por quê? JB falou em "interesse público", mas quem acredita nisso acredita em tudo, como disse Wellington.

Não bastasse, JB deu a entender que em fevereiro Genoino volta à cadeia. Isso significa que Genoino está enfrentando uma torturante contagem regressiva. Cada hora que passa é uma hora a menos para ele no convívio com os seus.

Insisto: tudo isso sem que haja culpa comprovada. Tudo isso enquanto ninguém dá satisfações sobre meia tonelada de cocaína encontrada num helicóptero de um amigo de Aécio.

Isto é o Brasil que a Globo ajudou tanto a construir: injusto, abjeto, sem nexo. Rigor contra quem está no chão, complacência com os verdadeiramente poderosos.

Querem minha opinião? Lula poderia fazer três ou quatro palestras — o necessário para juntar os 468 mil —   e doar o dinheiro para Genoino. Não porque Lula inventou JB, embora isso também conte, mas porque seria uma solução simples e eficaz para o problema.

Em sua histórica investida contra Catilina, um senador que conspirava para se tornar ditador de Roma, Cícero clamou: "Até quando você vai abusar da nossa paciência?"

Pois é.

Até quando este Brasil iníquo vai abusar da nossa paciência?

Artigo semanal de Leonardo Boff

Anteriormente abordamos o império das grandes corporações que controlam os fluxos econômicos e através deles as demais instâncias da sociedade mundial. A constituição perversa deste império surgiu por causa da falta de uma governança global que se faz cada dia mais urgente. Há problemas globais como os do paz, da alimentação, da água, das mudanças climáticas, das migrações dos povos e outras que, por serem globais, demandam soluções globais. Esta governança é impedida pelo egoísmo e o individualismo das grandes potências.

Uma governança global supõe que cada país renuncie um pouco de sua soberania para criar um espaço coletivo e plural onde as soluções para os problemas globais pudessem ser globalmente atendidos. Mas nenhuma potência quer renunciar uma unha sequer de seu poderio, mesmo agravando-se os problemas particularmente aos ligados aos limites físicos da Terra, capaz de atingir negativamente a todos através dos eventos extremos.

Constata-se que vigora uma cegueira lamentável na maioria dos economistas. Em seus debates – tomemos como exemplo o conhecido programa semanal da Globonews Painel – onde a economia ocupa um lugar privilegiado. No que pude constatar, ouvi, raríssimos economistas incluir em suas análises os limites de suportabilidade do sistema-vida e do sistema-Terra que põem em cheque a reprodução do capital. Prolongam o enfadonho discurso econômico no velho paradigma como se a Terra fosse um baú de recursos ilimitados e a economia se medisse pelo PIB e fosse um subcapítulo da matemática e da estatística. Falta pensamento. Não pensam o que sabem. Mal se dão conta de que se não abandonarmos a obsessão do crescimento material ilimitado e em seu lugar não buscarmos a equidade-igualdade social, só pioraremos a situação já ruim.

Queremos abordar um complemento do império perverso das grandes corporações que se revela ainda mais desavergonhado. Trata-se da busca de um Acordo Multilateral de Investimentos. Quase tudo é discutido a portas fechadas. Mas na medida em que é detectado, se retrai, para logo em seguida voltar sob outros nomes. A intenção é criar um livre comércio total e institucionalizado entre os Estados e as grandes corporações. Os termos da questão foram amplamente apresentados por Lori Wallach da diretoria do Public Citizen's Global Trade Watch no Le Monde Diplomatique Brasil de novembro de 2013.

Tais corporações visam saciar o seu apetite de acumulação em áreas relativamente pouco atendidas pelos países pobres: infra-estrutura sanitária, seguro-saúde, escolas professionais, recursos naturais, equipamentos públicos, cultura, direitos autorais e patentes. Os contratos se prevalecem da fragilidade dos Estados e impõem condições leoninas. As corporações, por serem transnacionais, não se sentem submetidas às normas nacionais com respeito à saúde, à proteção ambiental e à legislação fiscal. Quando estimam que por causa de tais limites o lucro futuro esperado não foi alcançado, podem, por processos judiciais, exigir um ressarcimento do Estado (do povo) que pode chegar a bilhões de dólares ou de euros.

Estas corporações consideram a Terra como de ninguém, à semelhança do velho colonialismo. Quem chega primeiro se apropria e extrái o que pode. E conseguem que os tribunais lhes garantam este direito de adquirir terras, mananciais de águas, lagos e outros bens e seviços da natureza. Elas, comenta Wallach, "não têm obrigação nenhuma para com os países e podem disparar processos quando e onde lhes convier"(p.5). Exemplo típico e ridículo é o caso do fornecedor sueco de energia Fattenfall que exige bilhões de euros da Alemanha por sua "virada energética"que prometeu abandonar a energia nuclear e enquadrar mais severamente as centrais de carvão. O tema da poluição, da diminuição do aquecimento global e da preservação da biodiversidadae do planeta são letra morta para esses depredadores, em nome do lucro.

A sem-vergonhice comercial chega a tais níveis que os países signatários desse tipo de tratado "se veriam obrigados não só a submeter seus serviços públicos à lógica do mercado mas tambem a renunciar a qualquer intervenção sobre os prestadores de serviços estrangeiros que cobiçam seus mercados"(p.6). O Estado teria uma parcela mínima de manobra em questão de energia, saúde, educação, água e transporte, exatamente os temas mais cobrados nos protestos de junho de 2013 por milhares de manifestantes no Brasil.

Estes tratados estavam sendo negociados com os USA e o Canadá, com a ALCA na América Latina e especialmente entre a Comunidade Européia e os USA.

O que revelam estas estratégias? Uma economia que se autonomizou de tal maneira que somente ela conta, anula a soberania dos países, se apropria da Terra como um todo e a tansforma num imenso empório e mesa de negócios. Tudo vira mercadoria: as pessoas, seus órgãos, a natureza, a cultura, o entretenimento e até a religião e o céu. Nunca se toma em conta a possível reação massiva da sociedade civil que pode, enfurecida e com justiça, se rebelar e pôr tudo a perder.

Graças a Deus que, envergonhados, mas ainda obstinados, os mercadores com seus projetos estão se escondendo atrás de portas fechadas. Mas não desistem. Em qualquer momento podem ressurgir pois são possuídos pela fúria da acumulação que não aceita limites, nem aqueles impostos pela Mãe Terra, pequena, limitada e agora doente.

Todo mundo nu

Numa das primeiras vezes em que fui aproveitar um lago nas redondezas de Berlim, deparei-me com uma cena pouco comum para um brasileiro. Nas areias às margens da água, uma senhora de uns 80 anos tomava sol tranquilamente, pelada.

A reação que tive foi de choque. Fiquei estarrecido, desconfortável e não sabia para onde olhar. Sem graça mesmo. E a senhora com toda a desinibição do mundo foi caminhando em direção ao lago. Ela mergulhou nas águas frias e voltou. Tudo muito natural. Ninguém naquela praia lacustre, além de mim, olhava fixamente para ela ou apresentava algum sinal de constrangimento.

Ainda boquiaberto comecei a refletir muito mais sobre mim do que sobre a nudez da senhora. Porque fiquei tão chocado? Primeiro, acho que foi pelo ineditismo da coisa. Eu, até então, nunca havia visto ninguém com mais de 40 anos pelado. Minha experiência com nudez era limitada.

Somente as minhas aventuras sexuais e o que as revistas masculinas me ofereciam. E nessas publicações as garotas parecem sempre ter saído da mesma forma, ou do mesmo cirurgião plástico. O padrão de nudez delas é um mono-tom photoshopianomeio sem graça. A diferença entre a miss março e a miss fevereiro é quase que imperceptível.

 

Angela Merkel (esq.), atual chanceler da Alemanha, já foi adepta do Frei Körper Kultur

 

E a nudez, no meu caso, sempre havia sido atrelada a sensualidade. Mas ao fitar aquela senhora eu não tinha intenções lascivas. Tive, na verdade, vontade de ir lá, antes de ir embora, e dar um grande abraço nela.

O banho de sol dela me fez ver o corpo de uma maneira que nunca tinha visto. O corpo feminino com 80 anos de idade contrastava o meu de, na época, uns vinte e tantos. Na minha idade temos muitas vezes uma sensação de que vamos viver para sempre. Já o corpo dela expunha o tempo, deixava claro o quanto somos perecíveis.

Aquela sensação de que estamos aqui de passagem mesmo e acabamos nos importando com coisas tão pequenas e pouco fundamentais...

Aquela senhora não estava nem aí se seu corpo se encontrava com umas gordurinhas a mais, ou fora do padrão de beleza das revistas masculinas. Estava curtindo a praia dela, do jeito dela e não se importava com a opinião de turistas boçais, como eu. Viva a diversidade!

O mais engraçado é que quando comento com alemães sobre essa experiência, eles sempre ficam surpresos. "Mas eu achei que você fosse brasileiro", dizem. Muitos europeus costumam ver o Brasil como uma grande Marques de Sapucaí, com mulheres praticamente peladas. Nesse caso, a minha explicação de que somos um país católico e pudico sempre gera risadas.

Na Alemanha, aquela senhora não é uma exceção. Existe um movimento de nudismo e naturismo fortíssimo, que aqui é representado pela sigla FKK. Frei Körper Kultursignifica a cultura do corpo livre e tem vários adeptos na Alemanha, inclusive a chanceler Angela Merkel.

Na internet é possível encontrar fotos da mulher mais poderosa da Alemanha, na época de sua juventude, pelada. Angie cresceu na antiga RDA (República Democrática Alemã), onde o FKK era moda.

Hoje em dia, tenho a impressão de que se a Alemanha fosse um país tropical como o nosso, metade das atividades cotidianas seriam feitas no estilo do corpo livre. Faz mais sentido do que usar terno e gravata em pleno verão carioca. Polêmicas à parte, eu só espero chegar aos meus 80 anos com a desenvoltura daquela senhora.

 por Albert Steinberger - repórter freelancer, ciclista e curioso. Formado em Jornalismo pela UnB, fez um mestrado em Jornalismo de Televisão na Golsmiths College, University of London. Atualmente, mora em Berlim de onde trabalha como repórter multimídia para jornais, sites e TVs.