O histórico de perseguição a José Dirceu

"Lutar contra a ditadura militar foi moleza. Duro é lutar contra a ditadura togada e midiática"...Joel Neto

Jornal GGN - O último e mais recente capítulo das ações da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal contra José Dirceu envolve a quebra de sigilo telefônico de cinco operadoras de celular, durante um período de 16 dias, de todas as ligações efetuadas e recebidas em duas coordenadas geográficas: Latitude - 15°55'04.51'' S e Longitude 47°47'04.51'' – onde se encontra o Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, e a Latitude - 15°47'56.86'' S e Longitude - 47°51'38.67'' – onde se encontra o Palácio do Planalto.
Trata-se da Ação Cautelar 3599, que foi mais uma solicitação do Ministério Público do Distrito Federal, acatada pelo juiz da VEP Bruno André Silva Ribeiro e que tramita hoje no Supremo Tribunal Federal. (Anexo 1)
Uma petição feita pela defesa de Dirceu questionou a ação. “O mais grave é que um dos pontos físicos estabelecidos no pedido de quebra de sigilo, ao que indicam as coordenadas fornecidas pelo MP/DF, corresponde ao Palácio do Planalto, sede do Governo brasileiro”, afirma a defesa. (Anexo 2)
A constatação de localização ocorreu depois que os advogados de Dirceu apoiaram-se em análise de um engenheiro agrônomo, Juvenal José Ferreira, que utilizou paralelos e meridianos para identificar as localizações das coordenadas, concluído em um relatório.(Anexo 3)
A dimensão do pedido do juiz da Vara de Execuções é o desfecho de uma sequência histórica de perseguição a José Dirceu, impedindo seu direito a trabalho externo, como parte do regime semiaberto a que foi condenado.
Acompanhe o histórico que o Jornal GGN resgatou:
23/11/2013: Por indicação de Joaquim Barbosa, o titular da Vara de Execuções Penais do DF, Ademar Silva de Vasconcelos, foi substituído por Bruno André Silva Ribeiro, que ao lado de Ângelo Fernandes de Oliveira e Mário de Assis Pegado, começam a conduzir a aplicação das penas dos condenados da AP 470: http://bit.ly/1hwoCvl
25 e 26/11/2013: Dois dias depois, os três juízes realizam inspeção ordinária e relatam clima de instabilidade e insatisfação no sistema prisional do DF. Foi nesse relatório que os magistrados deram a declaração: “Essa quebra [de postura isonômica] encontraria justificativa apenas se fosse possível aceitar a existência de dois grupos de seres humanos: um digno de sofrer e passar por todas as agruras do cárcere e, outro, o qual dever ser preservados de tais efeitos negativos, o que, evidentemente, não é legítimo admitir”.
28/11/2013: Mais dois dias se passam, e os juízes da VEP Bruno Silva Ribeiro, Ângelo Fernandes de Oliveira e Mário de Assis Pegado determinam a isonomia entre os presos do Complexo da Papuda, em “estrita observância por parte das autoridades penitenciárias do DF das prescrições regulamentares, legais e constitucionais, especialmente no que se refere ao tratamento igualitário a ser dispensado aos internos e visitantes do sistema penitenciário local”: http://bit.ly/Qauoqy
17/01/2014: Coluna Painel, da Folha de S. Paulo, publica nota de que Dirceu teria usado celular de dentro do presídio da Papuda para conversar com o secretário de governo do Estado da Bahia, James Correia.
17/01/2014: No mesmo dia, Bruno Ribeiro determinou “a formalização da devida ocorrência administrativa e respectiva instauração de inquérito disciplinar”, além de requisitar a realização de diligências com os funcionários do presídio para apurar os fatos do dia 6 de janeiro – data que o jornal apontou como o dia do uso do celular. Bruno também suspendeu, cautelarmente, “a análise de eventuais benefícios externos ao sentenciado, até a conclusão do apuratório disciplinar”, ou seja, a análise da possibilidade de trabalho externo.
20/01/2014: Bruno André Silva Ribeiro recebeu ofício do Diretor do Centro de Internamento e Reeducação do presídio informando que determinaram a imediata abertura de investigação pelo Núcleo de Inteligência e a Gerência de Segurança Penitenciária para apurar os fatos e que “até a presente data, nenhum fato foi detectado que possa confirmar o contato telefônico do interno com o mundo exterior”.
22/01/2014: o Coordenador-Geral da Gerência de Sindicâncias da Subsecretaria do Sistema Penitenciário declarou, em despacho administrativo, que no dia 6 de janeiro José Dirceu passou por revista corporal antes e depois das consultas com seus advogados, “em sala adequada, separada por um vidro, dentro da área de carceragem, impossibilitando assim qualquer contato físico, apenas visual e verbal” e “foi também realizada minuciosa revista na Cela S-14, oportunidade em que nenhum material e/ou objeto proibido foi encontrado”. Por último, ficou “comprovado que JOSÉ DIRCEU não saiu da carceragem do CIR para outro atendimento na Administração daquele Centro”. “Assim, entende-se por inverídica e improcedente a Denúncia (...) DETERMINO o arquivamento do presente caso, salvo algum fato novo que venha à tona e justifique novas diligências”.
23/01/2014: o Subsecretário do Sistema Penitenciário noticiou Bruno a “inexistência de materialidade do caso em comento, conforme Relatório nº 02/2014 – NI/CIR”.
24/01/2014: o juiz da VEP recebeu novo ofício do Diretor do Centro de Internamento e Reabilitação, afirmando que “‘tem o fato por inverídico e arquiva o presente caso”. Entretanto, no mesmo dia e com todos os documentos a mão, Bruno André Silva Ribeiro reiterou a determinação judicial anterior para que fossem realizadas diligências, mantendo, assim, a suspensão da análise de eventuais benefícios externos ao sentenciado.
29/01/2014: O ministro do STF Ricardo Lewandowski, ocupando a presidência da Corte enquanto Joaquim Barbosa estava de férias, acatou o pedido de trabalho externo de José Dirceu. (Anexo 4)http://bit.ly/1qzKhlF
11/02/2014: Assim que retornou de férias, Joaquim Barbosa revogou a decisão de Lewandowski. Mesmo com as diligências respondidas à VEP e as solicitações de arquivamento pelo Centro de Internamento e Reabilitação, Bruno não arquivou a investigação, possibilitando que Barbosa “reparasse” a decisão de Lewandowski, acusando-a de fazer “atropelamento do devido processo legal”: http://bit.ly/1c3vCvq
Até hoje, a investigação não foi arquivada.
25/02/2014: O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios pediu que a Justiça tome providências para acabar com as supostas regalias recebidas pelos condenados da AP 470, no complexo da Papuda. Os promotores citaram uma feijoada feita dentro do presídio – fato também com base em uma reportagem de jornal. O presidente da OAB, Alexandre Queiroz rebateu a versão: "eles tomam banho de sol com outros presos e não recebem tratamento diferenciado", disse depois das visitas que fez à Penitenciária.
26/02/2014: No dia seguinte, o magistrado pede para deixar a Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, ao lado de seu colega auxiliar na VEP, Ângelo Pinheiro Fernandes de Oliveira. A justificativa foi justamente a interferência política no presídio com as regalias concedidas aos condenados. Coincidentemente, Bruno tinha marcado para o dia anterior (25) o depoimento de José Dirceu nas diligências e investigação do suposto uso de celular, que foi adiado. Quanto mais o episódio é prolongado, mais tempo também leva para a resposta ao pedido de trabalho externo de Dirceu: http://bit.ly/1mKrzuZ
27/02/2014: O dia é de “derrota” para Joaquim Barbosa que esteve entre as minorias na votação dos embargos infringentes do STF – os réus da Ação Penal 470 são absolvidos do crime de formação de quadrilha: http://bit.ly/1ka592V
27/02/2014: No mesmo dia, ainda no caso de Dirceu do uso de celular, o aliado de Barbosa na VEP, Bruno André Silva Ribeiro determinou que os dirigentes de estabelecimentos prisionais deixem de cumprir norma interna da Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe) e exigiu esclarecimentos do governador Agnelo Queiroz, em 48h, sobre as investigações e condições dos presídios locais. Além disso, Bruno suspende ainda o direito de Delúbio Soares trabalhar: http://bit.ly/1lTFihW
07/03/2014: Depois de uma semana, a Subsecretaria do Sistema Penitenciário responde a solicitação de Bruno, que questionou se o DF teria capacidade para custodiar os condenados. A Sisepe ironiza a VEP sobre regalias na Papuda: “Não só temos condições de custodiar os aludidos sentenciados, como também qualquer outro preso da nossa Federação, seja Fernandinho Beira-Mar, Marcola do Primeiro Comando da Capital, Professor do Comando Vermelho, Matemático do Amigo dos Amigos etc…”. O governador Agnelo Queiroz disse que o magistrado não apresentou fatos concretos sobre as regalias e acusou Bruno de ter feito uma afirmação falsa, “despida de qualquer indício de prática de atos ilegais e ilegítimos", sugerindo que o juiz fosse investigado pela Corregedoria: http://bit.ly/1hwoTOF
25/03/2014: A Corregedoria do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) cobrou explicações do juiz da Vara de Execuções Penais Bruno André Silva Ribeiro sobre as ordens expedidas na véspera do feriado do carnaval, consideradas despropositadas pelo governador do DF. No mesmo dia, Bruno pede novamente a saída da VEP e afirma: “compete ao Juiz da execução zelar pelo correto cumprimento da pena e tomar providências para o adequado funcionamento dos estabelecimentos prisionais” (Anexo 5):http://bit.ly/1hwoSdw
01/04/2014: Joaquim Barbosa envia documento ao CNJ defendendo Bruno Ribeiro, determinando que o governador do DF e a Subsecretaria devem responder aos esclarecimentos solicitados pelo juiz da VEP em 48 horas; que se suprimam as diferenças de tratamento entre os detentos, como já havia solicitado Bruno; e Barbosa ainda determinou ao CNJ (do qual é presidente) que o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios revise o ato administrativo contra Bruno, parando a investigação do juiz pelo tribunal, inclusive revisando a sua transferência para outra Vara. (Anexo 6)http://bit.ly/1sHMvmW
02/04/2014: No dia seguinte, depois de 4 meses depois que fez o pedido de trabalho externo e 2 meses com a solicitação trancada na Justiça pela investigação do celular, a defesa de José Dirceu encaminhou a Barbosa uma petição de urgência e prioridade para dar seguimento à análise da atividade externa. (Anexo 7)http://bit.ly/1kOtlWZ
02/04/2014: No mesmo dia, e seguinte à proteção de Barbosa, Bruno Ribeiro se vê resguardado para a abertura de uma nova ação contra José Dirceu e as investigações sobre o uso de celular: a atual quebra de sigilo telefônico.
“Ou seja, para investigar uma nota de jornal que já foi investigada, o MP/DF pede que 5 (cinco) operadores de telefonia enviem todas as ligações de celulares, efetuadas e recebidas, envolvendo todos os usuários que trabalham no Palácio do Planalto no intervalo de 16 (dezesseis) dias”, diz a petição da defesa.
“O absurdo da pretendida quebra de sigilo telefônico revela o quão indiscriminada, genérica e abusiva é a medida pleiteada pelo MP/DF, sem considerar, ainda, a sua absoluta falta de justa causa, uma vez que possui como base enfática somente uma note de jornal que já foi cabalmente investigada em procedimento que contou com a participação do Poder Judiciário e Ministério Público”, conclui.

Charge do dia

Tá fazendo Cantareira

Marcos Coimbra: Fúria pró-mudança agrada só quem detesta o lulopetismo

Os Adversários de Dilma

Empurrados para a radicalização pró-mudanças, eles agradam apenas a quem detesta o lulopetismo

por Marcos Coimbra,  em Carta Capital, encaminhado via email Júlio Cesar Macedo Amorim

À medida que o tempo passa, mais claro fica o quadro: nenhum dos possíveis adversários de Dilma Rousseff na eleição deste ano demonstra ter fôlego para vencê-la. Não é impossível que algum venha a encontrá-lo, mas o certo é que, até agora, ninguém conseguiu.

A afirmação pode soar estranha a quem presenciou a celebração de nossa "grande imprensa" nos últimos dias, a propósito de pesquisas como MDA, Datafolha e Sensus. Em manchetes às vezes garrafais, a mídia corporativa as apresentou como reveladoras de um quadro novo, desfavorável à presidenta e propício às oposições.

Foram pesquisas a respeito de intenções de voto e avaliação do governo federal. E todas mostraram uma queda na popularidade da presidenta e do governo, acompanhada de uma redução quase idêntica na proporção daqueles que dizem pretender votar em Dilma.

Até aí tudo natural. Se alguém está insatisfeito com o desempenho do governo, se está convencido de que as coisas não vão bem em Brasília, é lógico não desejar a continuidade. O passo seguinte é igualmente lógico: não querer votar em quem a representa.

Eleições são, no entanto, semelhantes àquilo que os economistas chamam jogo de "soma zero", o que um jogador perde é igual ao que o outro ganha. Neles, é impossível todos lucrarem ou terem prejuízo ao mesmo tempo. Na divisão de um bolo, por exemplo, se alguém aumenta o tamanho de seu pedaço, a parte restante aos outros fica menor. Os votos que um candidato não consegue obter (ou deixar de ter) são repartidos pelos demais.

Desse modo, era de esperar que a queda de Dilma beneficiasse algum ou vários de seus adversários. Mas não foi o que as pesquisas mostraram.

Note-se: esses levantamentos foram feitos logo após o ciclo de propaganda partidária dos oponentes de Dilma. Como sabemos à luz do ocorrido em eleições anteriores, pesquisas feitas nesses momentos costumam provocar "picos" nas intenções de voto, que tendem a desaparecer com o transcurso do tempo.

Primeiro foi a vez de Eduardo Campos, que, no fim de março, usou as inserções e o programa do PSB para se promover. Depois, Aécio Neves, em meados de abril, fez o mesmo com o tempo do PSDB. Até o pastor Everaldo, na segunda quinzena de abril, utilizou o estratagema de dizer que fazia propaganda de seu partido, o PSC, para praticar, de fato, proselitismo a favor de sua candidatura (o que a legislação proíbe, mas ninguém respeita).

Quando se consideram o contexto em que as pesquisas foram realizadas e a queda apontada de Dilma, deveríamos ter resultados favoráveis aos adversários da presidenta. Pelo que vimos nos passado, a expectativa, na verdade, é que fossem muito favoráveis.

Contudo, só o tucano cresceu e em patamar modesto. O pernambucano e o pastor ficaram fundamentalmente iguais, movendo-se dentro da margem de erro. As oposições melhoraram pouco, menos de que deveriam e menos do que precisam para alcançar a candidata do PT.

A esta altura da eleição, os problemas que atingem a imagem da presidenta, do governo e do PT afetam a candidatura, mas pouco benefício trazem às oposições, apesar da ininterrupta campanha de desconstrução movida pela mídia oposicionista. O saldo? Dilma cai (apesar de menos do que seus inimigos gostariam) e ninguém sobe (de maneira significativa).

É sempre bom lembrar que, com números de popularidade e intenção de voto semelhantes aos de Dilma hoje, FHC reelegeu-se no primeiro turno em 1998. Em junho daquele ano, estava empatado com Lula. Na urna, o ultrapassou com folga. E era Lula e não algum candidato pouco conhecido e com imagem problemática.

Vamos fazer neste outubro uma eleição diferente. Não será de pura continuidade, como aquelas de 1994, 1998, 2006 e 2010. Não será tampouco de pura mudança, como as de 1989 e 2002. O eleitorado busca agora uma boa mistura entre as duas possibilidades.

Os adversários de Dilma, empurrados para a radicalização pró-mudança pela fúria do oposicionismo de uma parte da sociedade, do empresariado e da mídia, agradam apenas a quem detesta o lulopetismo. Afastam-se, porém, daqueles que desejam que diversas coisas mudem no País, mas têm certeza de que há muito que deve continuar. E permanecem a léguas da ampla parcela que prefere a continuidade. Talvez por isso não cresçam.

Dirceu e a tortura moral

Episódio pequeno não pode ser ampliado para esconder violência contra José Dirceu

A notícia de que uma das filhas de José Dirceu furou a fila da Papuda para encontrar-se com seu pai tem a relevância de um episódio menor numa grande tragédia.

Ninguém precisa ter compromisso com erros e deslizes.

Quaisquer que sejam as falhas e faltas cometidas neste caso, que ainda aguarda esclarecimentos maiores, é preciso distinguir o principal do secundário, o que é certo do que é absurdo.

José Dirceu, hoje, é vitima de tortura moral contínua.

Como esse tipo de violência não deixa marcas físicas, muitas pessoas acham fácil conviver com ela. Não sentem culpa nem remorso.

O pai de Joana Saragoça encontra-se preso na Papuda desde novembro de 2013.

Jamais foi condenado a regime fechado mas até hoje lhe negam o direito de sair para trabalhar. Sua privacidade foi invadida e, sem seu consentimento, suas fotografias na prisão chegaram aos meios de comunicação, várias vezes, onde foram exibidas de modo a ferir sua imagem. Nada aconteceu com os responsáveis por isso. Nada.

No esforço para encontrar – de qualquer maneira – o traço de qualquer conversa telefonica indevida, um indício, um ruído, uma procuradora chegou a pedir o monitoramento ilegal das comunicações do Palácio do Planalto, o STF, o Congresso – e nada, absolutamente nada, lhe aconteceu nem vai acontecer, fiquem certos.

Infiltrados numa visita de caráter humanitário, parlamentares da oposição chegaram a divulgar mentiras convenientes para prejudicar Dirceu. Lançaram a lorota do banho quente na cela. Uma deputada que sequer entrou em sua cela deu entrevistas falando dos privilégios. O que ocorreu? Nada. Nada. Nada. Sequer sentiu vergonha. Talvez ganhe votos.

Situações como aquela enfrentada por José Dirceu podem criar situaçoes insuportáveis entre pessoas próximas.

São capazes de provocar reações irracionais, erradas, por parte daqueles que mais sentem a dor da injustiça.

Sem suspiros moralistas, por favor.

Lembrando as reações iniciais ingênuas da família do capitão André Dreiyfus, Hanna Arendt sugere que os parentes – muito ricos -- chegaram a pensar em subornar autoridades que poderiam libertá-lo.

Quer um episódio mais chocante? Em 1970, Carlos Eduardo Collen Leite, o Bacuri, militante da luta armada, foi preso e massacrado pela tortura do regime militar. Não custa lembrar que, antes de ser executado, os jornais fizeram sua parte no serviço: noticiaram sua fuga – dando a cobertura para um assassinato impune.

Bacuri foi apanhado num momento em que fazia levantamento para um sequestro no qual pretendia salvar a mulher, a militante Denise Crispim, presa e grávida. Quando seu corpo apareceu, Bacuri tivera as orelhas decepadas, olhos vazados, dentes quebrados, vários tiros no peito.

Claro que estamos falando de situações diferentes. Muito diferentes. Graças a atuação de homens e mulheres no passado mais duro – inclusive José Dirceu – o país tem hoje um regime de liberdade.

Estes casos mostram, contudo, como é difícil reagir diante da injustiça.

Mostram como é pequeno falar em "privilégio" diante de um poder que se arvora o direito de espionar a presidência da República e nada sofre. Que desrespeita a lei, enrola e ganha tempo, apenas para punir e perseguir.

E é errado, muito errado, cobrar de quem está nessa situação, oprimida, injustiçada, comportamentos exemplares, racionais, sem enxergar o conjunto da situação. Até porque nada se compara com outras reações surpreendentes e tão comuns no país, como a de empresários que corrompem politicos, constroem fortunas imensas e, mais tarde, apanhados em flagrante, alegam que foram vítimas de extorsão. Nada disso.

O pai de Joana Saragoça está sendo submetido a um processo continuo de violência moral. Sua base é o silêncio, o escuro, é a cela fechada, o presídio trancafiado, os amigos distantes, o trabalho proibido, tudo para que se transforme numa não pessoa, com a cumplicidade e o silêncio dos mesmos que se mostram muito incomodados com banhos quentes, um papelzinho de uma lanchonete fast-food, uma feijoada em lata...

E se você acha que, talvez, esse negócio de "tortura moral" pode ser invenção deste blogueiro, talvez seja bom desconfiar da natureza de seus próprios principios morais. Eles podem ter-se tornadoi flexíveis ultimamente.

Paulo Moreira Leite

Dirceu e a tortura moral

Episódio pequeno não pode ser ampliado para esconder violência contra José Dirceu

A notícia de que uma das filhas de José Dirceu furou a fila da Papuda para encontrar-se com seu pai tem a relevância de um episódio menor numa grande tragédia.

Ninguém precisa ter compromisso com erros e deslizes.

Quaisquer que sejam as falhas e faltas cometidas neste caso, que ainda aguarda esclarecimentos maiores, é preciso distinguir o principal do secundário, o que é certo do que é absurdo.

José Dirceu, hoje, é vitima de tortura moral contínua.

Como esse tipo de violência não deixa marcas físicas, muitas pessoas acham fácil conviver com ela. Não sentem culpa nem remorso.

O pai de Joana Saragoça encontra-se preso na Papuda desde novembro de 2013.

Jamais foi condenado a regime fechado mas até hoje lhe negam o direito de sair para trabalhar. Sua privacidade foi invadida e, sem seu consentimento, suas fotografias na prisão chegaram aos meios de comunicação, várias vezes, onde foram exibidas de modo a ferir sua imagem. Nada aconteceu com os responsáveis por isso. Nada.

No esforço para encontrar – de qualquer maneira – o traço de qualquer conversa telefonica indevida, um indício, um ruído, uma procuradora chegou a pedir o monitoramento ilegal das comunicações do Palácio do Planalto, o STF, o Congresso – e nada, absolutamente nada, lhe aconteceu nem vai acontecer, fiquem certos.

Infiltrados numa visita de caráter humanitário, parlamentares da oposição chegaram a divulgar mentiras convenientes para prejudicar Dirceu. Lançaram a lorota do banho quente na cela. Uma deputada que sequer entrou em sua cela deu entrevistas falando dos privilégios. O que ocorreu? Nada. Nada. Nada. Sequer sentiu vergonha. Talvez ganhe votos.

Situações como aquela enfrentada por José Dirceu podem criar situaçoes insuportáveis entre pessoas próximas.

São capazes de provocar reações irracionais, erradas, por parte daqueles que mais sentem a dor da injustiça.

Sem suspiros moralistas, por favor.

Lembrando as reações iniciais ingênuas da família do capitão André Dreiyfus, Hanna Arendt sugere que os parentes – muito ricos -- chegaram a pensar em subornar autoridades que poderiam libertá-lo.

Quer um episódio mais chocante? Em 1970, Carlos Eduardo Collen Leite, o Bacuri, militante da luta armada, foi preso e massacrado pela tortura do regime militar. Não custa lembrar que, antes de ser executado, os jornais fizeram sua parte no serviço: noticiaram sua fuga – dando a cobertura para um assassinato impune.

Bacuri foi apanhado num momento em que fazia levantamento para um sequestro no qual pretendia salvar a mulher, a militante Denise Crispim, presa e grávida. Quando seu corpo apareceu, Bacuri tivera as orelhas decepadas, olhos vazados, dentes quebrados, vários tiros no peito.

Claro que estamos falando de situações diferentes. Muito diferentes. Graças a atuação de homens e mulheres no passado mais duro – inclusive José Dirceu – o país tem hoje um regime de liberdade.

Estes casos mostram, contudo, como é difícil reagir diante da injustiça.

Mostram como é pequeno falar em "privilégio" diante de um poder que se arvora o direito de espionar a presidência da República e nada sofre. Que desrespeita a lei, enrola e ganha tempo, apenas para punir e perseguir.

E é errado, muito errado, cobrar de quem está nessa situação, oprimida, injustiçada, comportamentos exemplares, racionais, sem enxergar o conjunto da situação. Até porque nada se compara com outras reações surpreendentes e tão comuns no país, como a de empresários que corrompem politicos, constroem fortunas imensas e, mais tarde, apanhados em flagrante, alegam que foram vítimas de extorsão. Nada disso.

O pai de Joana Saragoça está sendo submetido a um processo continuo de violência moral. Sua base é o silêncio, o escuro, é a cela fechada, o presídio trancafiado, os amigos distantes, o trabalho proibido, tudo para que se transforme numa não pessoa, com a cumplicidade e o silêncio dos mesmos que se mostram muito incomodados com banhos quentes, um papelzinho de uma lanchonete fast-food, uma feijoada em lata...

E se você acha que, talvez, esse negócio de "tortura moral" pode ser invenção deste blogueiro, talvez seja bom desconfiar da natureza de seus próprios principios morais. Eles podem ter-se tornadoi flexíveis ultimamente.

Paulo Moreira Leite

Paulo Nogueira - Estou comovido com a coragem da Folha de S. Paulo

Veja como ela, a serviço do Brasil, enfrenta destemidamente interesses de poderosos. A Globo sonega bilhões, um ato corrupto e criminoso?

Lá está a Folha, para defender os cidadãos da predação tributária, econômica, social da Globo.

A cobertura da Folha sobre o escândalo fiscal da Globo merece mais que o Esso. Tem que levar também o Pulitzer.

Ponho a Folha no mesmo patamar de Snowden, ao desafiar o império americano. Que seríamos de nós sem a Folha?

Mais um capítulo da saga indômita da Globo acaba de ser escrito hoje.

A Folha está se batendo contra ninguém menos que a ultrapoderosa Joana Saragoça, filha de Dirceu. Podemos dormir sossegados, agora.

Joana cometeu o crime inominável de ter furado a fila na visita a seu pai, segundo repórteres da Folha que ficaram de campana para flagrar este ato de superior importância.

Os leitores da Folha reconhecem a grandeza do feito do jornal. Li os comentários no site. "Filho de rato, rato é", exclamou um deles.

"Filha legítima de Zé Dirceu, mau caráter como o pai", decidiu outro.

No blog de um colunista da Folha, o tom civilizatório comandava os comentários. Disse um leitor ali: "O terrorista, criminoso, bandido, mensaleiro, chacal famulento goza de regalias, privilégios e mordomias desmesuradas." Ele desejou a morte a Dirceu, a quem o diabo esperará para "se saciar".

Um jornal, um site são seus leitores, e são realmente inspiradores os leitores da Folha e de seus colunistas. Magnânimos como Marco Aurélio, generosos como Confúcio, tolerantes como Voltaire, brilhantes como Platão.  Devem todas essas virtudes à Folha.

Houve uma transferência imediata do ódio que os leitores progressistas da progressista Folha sentem por Dirceu. Do pai ele jorrou para a filha.

Faço aqui uma pequena pausa para que todos aplaudamos a Folha e seus leitores sensacionais.

Se eu fosse anunciante – privado ou público – me orgulharia de cada centavo colocado na Folha. Porque ela está educando os brasileiros, e nos tornando uma sociedade de filósofos.

Estamos, graças à Folha, protegidos de Dirceu. E agora também estamos protegidos da diabólica Joana.

Mais uma salva de palmas, e de pé, para o magnífico jornal da Barão de Limeira, e para seu dono e editor, Otávio Frias Filho, há mais de trinta anos ajudando a fazer o Brasil esta república escandinava que é.

E aplausos também para Sérgio Dávila, editor executivo do jornal, e para Matheus Leitão,  o repórter que flagrou Joana. Sçao os nossos Assanges.

Deus só pode ser brasileiro nos dando tanta gente boa para zelar por nós.

Deputados vão investigar contratos firmados por Serra com laboratório de doleiro

Boletim de notícias da Rede Brasil Atual - nº39 - São Paulo, 09/mai/2014
http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2014/05/camara-vai-investigar-contratos-firmados-por-serra-com-laboratorio-de-doleiro-9229.html

Deputados vão investigar contratos firmados por Serra com laboratório de doleiro

http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/copa-na-rede/2014/05/entenda-por-que-o-brasil-ja-e-4o-no-ranking-da-fifa-4345.html

Entenda por que o Brasil já ocupa o 4º lugar no ranking da Fifa

http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/copa-na-rede/2014/05/alemanha-coreia-do-sul-e-honduras-tambem-convocaram-4401.html

Alemanha, Coreia do Sul e Honduras também a convocaram

http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2014/05/com-chinaglia-na-vice-presidencia-planalto-discute-novo-nome-para-lider-de-governo-na-camara-2628.html

Pesquisa Datafolha indicam Dilma e Aécio no segundo turno

http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2014/05/divergencias-entre-psb-e-rede-sao-do-processo-democratico-diz-deputado-aliado-de-eduardo-campos-1887.html

Divergências entre PSB e Rede 'são do processo democrático'

http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2014/05/estado-e-uniao-admitem-que-nao-sabem-se-volume-morto-do-cantareira-e-insalubre-8894.html

Seca em SP: 'Volume morto' do Cantareira pode ser insalubre

http://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2014/05/conferencia-estadual-discute-diretrizes-para-implantacao-de-politica-de-saude-do-trabalhador-7832.html

Conferência em SP debate políticas de saúde do trabalhador

http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2014/05/justica-suspende-reintegracao-de-posse-contra-ocupacao-copa-do-povo-em-sao-paulo-1209.html

Justiça suspende reintegração de ocupação 'Copa do Povo'

http://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2014/05/rafael-3148.html

Metalúrgicos do ABC: chapa única recebe 92% dos votos

É permitida a reprodução, integral ou parcial do conteúdo (áudios, imagens e textos), desde que citados o nome do autor e da Rede Brasil Atual.

Nosso email:
rba@redebrasilatual.com.br

Clique aqui se não quiser receber mais este boletim
Clique aqui para atualizar seu cadastro