Com centenas de manifestantes do MTST na vizinhança, presidente interino antecipou a volta a Brasília neste domingo (22); o grupo de sem teto, descontente com os cortes no programa Minha Casa, Minha vida, estava concentrado no Largo da Batata com o objetivo de chegar à casa de Temer em Pinheiros; grande contingente policial, no entanto, determinou o fechamento do acesso das ruas próximas à casa dele alegando tratar-se de um perímetro de segurança nacional; “Acho curioso invocarem a segurança nacional para barrar os manifestantes. Fazia tempo que isso não acontecia", disse Guilherme Boulos, coordenador do MTST, relacionando o episódio a uma prática comum no regime militar; desde que chegou à presidência provisória, Temer não colocou os pés na rua
O traíra invoca "segurança nacional" e barra protesto
O Traíra fica ilhado
SP 247 – Temendo manifestações contra seu governo, marcadas para acontecer hoje domingo 22, o presidente interino Michel Temer está ilhado em São Paulo. Seguranças fecham as vias de acesso à rua da residência onde mora o peemedebista.
O ato, organizado pela Frente Povo Sem Medo, está previsto para sair do Largo da Batata às 14h. O plano era seguir até a residência de Temer, em Alto de Pinheiros, zona oeste da cidade, que ficou palco de diversas manifestações contra o governo nos últimos dias.
Outro protesto contra Temer acontece no centro do Rio de Janeiro na manhã deste domingo. O ato foi marcado para hoje porque o presidente interino participaria da inauguração do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) na capital, que foi adiada para o dia 5 de junho. A concentração foi às 10h na Candelária. Manifestantes usam camisa com a frase: 'Lutar sempre, Temer jamais'.
Em todo o País, o governo provisório tem sido alvo de protestos, que focaram, recentemente, na crítica contra o fim do Ministério da Cultura. Diante de dezenas de ocupações em diversas cidades, o governo recuou e recriou o ministério – que funcionaria com status de Secretaria, subordinada ao ministério da Educação.
Neste sábado 21, os shows da Virada Cultural na capital paulista, como de Ney Matogrosso e Alcione, foram marcados por gritos de "Fora, Temer" e cartazes de "Temer jamais". Diversas outras apresentações do evento tiveram o mesmo clima político, tanto no palco quanto por parte do público.
Em 11 dias de interinidade, Michel Temer ainda não teve nenhuma agenda pública.
Busca de DNA de Lula nos presídios será última cartada da Lava Jato, por J. Carlos de Assis*
Contemporâneos de minha geração tiveram o privilégio de ler diariamente, nas páginas da velha "Última Hora", a coluna do inesquecível Stanislaw Ponte Preta. Era uma verdadeira catarse em face do besteirol produzido pela ditadura militar nos anos de 64 a 68. Acho que foi nesse último ano, às vésperas da atrocidade do AI-5, que Ponte Preta (Sérgio Porto) morreu, escapando de uma perseguição política que seria certa. Antes, porém, ele deixou o legado de uma crítica humorística ferina e incomparável da atuação dos militares que haviam usurpado o poder político no país. Essa crítica jamais seria ultrapassada.
Os anos 60 eram, ao lado do tempo da ditadura, o tempo dos festivais. Ponte Preta criou então o Febeapá, Festival de Besteira que Assola o País. Recolhia diariamente e publicava a imbecilidade produzida na gestão do governo pelos generais e coronéis de plantão e despejada sobre o povo brasileiro através de portarias, leis e decretos, ou ainda através de ordens para a censura. Vindo ao tempo presente, porém, não encontro, de memória, um único fato introduzido no Febeapá que se compare a esse verdadeiro monumento à estupidez e inutilidade judicial que é a investigação do "sobrinho da primeira mulher de Lula envolvido com a Odebrecht"!
Estamos assistindo, pasmos, a uma grande mobilização policial, de procuradores e de juiz, todos ganhando salários e vantagens extravagantes – e por isso custando os olhos da cara à República, já estropiada por uma recessão que eles próprios produziram na Lava Jato - , para procurar chifre na cabeça de cavalo. É que a possibilidade de um sobrinho da ex-mulher de Lula ter alguma coisa a ver com corrupção é absolutamente nula, e, caso exista, não tem absolutamente nada a ver com o próprio Lula. São relações privadas entre a Odebrecht e o sobrinho da ex-mulher, que só uma investigação politicamente orientada poderia tomar como suspeitas.
A investigação do "sobrinho da primeira mulher de Lula" - uma pessoa sem nome, mas que não obstante tem direito a insistentes chamadas da tevê Globo e longa exposição nessa emissora -, está na categoria de eventos dignos de aparecerem em lugar de destaque no neoFebeapá, o Febeapá da Lava Jato. Entretanto, não é tão humorístico como na primeira fase do governo militar. É um ato de perseguição grotesco, que denota o fracasso nas investigações midiáticas anteriores relativas ao chamado tríplex e ao sítio, nenhum dos dois nunca se provou pertencer a Lula. Como não conseguiram essa prova, catam cabelo na casca de ovo, para não se desmoralizarem completamente.
Na verdade, esses Torquemadas tupiniquins, adestrados pelos torturadores norte-americanos nas delações premiadas, estão desesperados por reconquistar na televisão o espaço perdido para o impeachment, assim como para justificar a perseguição policial, judicial (procuradores e juiz) e midiática que promoveram contra o ex-presidente mais popular do país depois de Getúlio, e, para os pobres, no mesmo patamar de Getúlio. Para destruí-lo é preciso ir fundo, segundo os procuradores-policiais. É preciso, ao que parece, investigar todos os presídios do país para verificar se, entre os bandidos, encontram algum DNA de Lula. Esse bandido será então proclamado comparsa de alguma "organização criminosa" chefiada pelo ex-presidente!
*Economista, professor, doutor pela Coppe/UFRJ
Fábula requentada por Sebastião Nunes
Poesia do dia
Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo à porta.O amor não é chegado a fazer contas, não obedece a razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Então que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não tem a maior vocação para príncipe encantado, e ainda assim você não consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita de boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara? Não pergunte para mim.
Você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem o seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar (ou quase). Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém. Com um currículo desse, criatura, por que diabo está sem um amor?
Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados. Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó! Mas ninguém consegue ser do jeito do amor da sua vida!
O Traíra está preparado para o teste das ruas?
Ontem sábado, estava prevista a inauguração de um trecho do VLT, no Rio de Janeiro, que contaria com a presença do presidente interino, Michel Temer, mas ele desistiu de participar, alertado por assessores do risco de vaias, o que fez com que o evento fosse adiado para 5 de junho; na Virada Cultural, em São Paulo, o "Fora, Temer!" dominou os intervalos entre as apresentações, assim como nos espaços ocupados do Ministério da Cultura; ontem, em Belo Horizonte, a presidente afastada Dilma Rousseff passou pelo teste ao ser ovacionada por 40 mil pessoas em Belo Horizonte, aos gritos de "Volta, querida"; Temer luta para ter seus votos no Congresso, mas não tem o apreço do povo; esse modelo de governabilidade é sustentável por muito tempo?
247 – Em dez dias de interinidade na presidência da República, Michel Temer ainda não travou contato com a população. Até agora, ele passou todo o tempo encastelado nos Palácios do Planalto e do Jaburu ou em seu escritório político, como fez neste sábado.
Dias atrás, ele pretendia comparecer ao velório do cantor Cauby Peixoto, mas deixou de comparecer temendo ser vaiado. Neste sábado, estava também prevista a inauguração de um trecho do VLT do Rio de Janeiro, mas Temer desistiu de ir e o evento foi adiado para 5 de junho.
O temor é um só: de que a estreia de Temer seja marcada por vaias gigantescas da população e gritos de "Fora, Temer", como se ouviu nos espaços ocupados do Ministério da Cultura e nas primeiras apresentações, neste sábado, da Virada Cultural, em São Paulo.
Numa situação oposta, a presidente afastada Dilma Rousseff recebeu o carinho da população na noite de ontem, em Belo Horizonte, quando 40 mil pessoas a saudaram aos gritos de "Volta, querida" – o que não foi exibido no Jornal Nacional, como se um ato desse porte, em apoio à presidente eleita, pudesse ser ignorado.
Nos próximos dias, Dilma deverá reforçar seu contato com a população. Ela avalia deixar a "prisão" do Palácio da Alvorada – onde suas visitas são controladas por uma barreira militar – e fazer coisas comuns do cotidiano, como ir às compras, ao cinema, a restaurantes e até sair para tomar um simples sorvete.
Temer, ao contrário, irá ao parlamento, discutir suas primeiras medidas econômicas, que não trarão nem a CPMF nem a reforma da Previdência.
Para se sustentar no poder, Temer necessita conquistar os votos de 54 senadores apenas – e não da população, que deu 54 milhões de votos à presidente Dilma. Mas, por mais que ele consiga se manter na presidência, não é um sustentável um modelo de governabilidade onde o soberano não se arrisca a colocar os pés na rua. Especialmente num país que está prestes a sediar os Jogos Olímpicos.