Lula fez muito bem em denunciar a quadrilha de Curitiba a ONU


Juiz partidário

Num mundo menos imperfeito, Lula jamais teria que recorrer a um tribunal internacional para se defender de acusações que lhe são feitas no Brasil.

Mas este mundo em que vivemos é muito imperfeito — e isto quer dizer que Lula agiu muito bem em bater nas portas da Comissão de Direitos Humanos da ONU.

No centro do apelo de Lula está o que todos sabem, embora poucos falem: Moro é um juiz parcial, tendencioso, inconfiável.

É um juiz da plutocracia, um homem que não faz cerimônia nenhuma em aparecer ao lado de homens como os irmãos Marinhos em celebrações.

É evidente que ele vai condenar Lula, quaisquer que sejam as circunstâncias, se puder. Condenar e prender.

Os fatos não contarão nada, assim como no julgamento de Dilma pelo Senado.

Moro é um juiz da linha de Gilmar Mendes. Você consegue ver Gilmar julgando qualquer causa relativa ao PT que não seja com uma tonitruante condenação?

É uma medida extrema a de Lula, mas tempos excepcionais demandam ações igualmente excepcionais, para lembrar a grande frase do rebelde britânico Guy Fawkes.

Fingir que Moro e a Lava Jato são neutros só serve à plutocracia e a ambos, Moro e Lava Jato.

Um dos erros graves de Dilma e do PT não foi, lá para trás, ter reagido à altura quando se caracterizaram os abusos da Lava Jato. Não tardou que ficasse claro que o objetivo de Moro era extirpar Lula, Dilma e o PT — e não a corrupção.

Dilma, Lula e o PT sempre contemporizaram com a farsa de Moro e da Lava Jato, dentro de uma estratégia fracassada de republicanismo suicida.

Coube a Lula, ainda que com atraso, dizer verdades sobre Moro, primeiro no plano interno e agora no cenário internacional.

As pessoas lá fora desconhecem o que se passa no Brasil. O jornalista americano Glenn Greenwald disse nunca ter visto uma mídia como a brasileira. Ele só viu o horror por viver aqui. O advogado inglês contratado por Lula foi na mesma linha: disse ser inconcebível, em sua terra, um juiz como Moro.

Vivemos uma guerra movida pela plutocracia. O jornalismo que se pratica nas corporações é de guerra. A justiça que se faz nos tribunais mais elevados é de guerra.

Que essa guerra seja, ao menos, reconhecida e denunciada por suas vítimas.

O recurso de Lula está impregnado de um forte componente simbólico. A direita brasileira tradicionalmente aumenta a violência contra a democracia quando não há resposta a seus ataques.

Lula respondeu. Jogou em escala mundial luzes sobre o caráter de Moro e da Lava Jato.

Moro vai ter que ser mais cuidadoso com seus passos, para não dar completa razão a Lula.

Ele será observado pelo mundo, uma situação nova e desconfortável para quem jamais recebeu nenhum tipo de fiscalização no Brasil e por isso pôde cometer abusos em série.

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Sobre o Autor

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Até quando os morojás zombarão dos dalits impunemente?

Para casta de togados não basta desfrutar das mordomias bancadas pelo suor dos dalits (Povo) eles tem de despejar todo escárnio possível no lombo da gentalha.

Pois não é que a AMB - Associação dos Magistrados do Brasil - faz uma campanha publicitária com o irônico mote #SomosTodosJuizes , todos quem caras-de-pau?

Os que:
  • Não recebem quatorze salários por ano
  • Não recebem duas férias anualmente
  • Não tem plano de saúde
  • Não recebem mesada para educação dos filhos
  • Não recebem bolsa para fazer mestrado
  • Auxílio para comprar livros, revistas jornais
  • E nem tem moradia de graça
Também são juízes?...
Se de fato fossemos, vocês todos estariam mesmo era atrás das grades. Porque na verdade o que alguns chamam de mordomias e privilégios que vocês desfrutam é: Roubo!

Corja!





Não somos todos juizes não somos todos otários e nem somos todos ladrões

SomosTodosJuízes? O "barraco das Excelências" em busca de mais poder

POR FERNANDO BRITO 

Quem acompanha o blog do Frederico Vasconcelos, na Folha, deve estar espantado com o "barraco" que está rolando entre a Associação dos Magistrados Brasileiros e a entidade dos juízes aqui no Rio de Janeiro.

O motivo aparente é uma campanha publicitária da AMB – vejam só, campanha publicitária de juiz! – que tem o mote#SomosTodosJuizes, onde uma primorosa peça dizia:

"Você já furou fila, apresentou carteirinha falsa para pagar mais barato em um evento, mentiu a idade dos filhos para gastar menos, declarou informações erradas no Imposto de Renda ou fez gato de TV a cabo? Então, provavelmente, você já cometeu pequenas transgressões. Nas pequenas decisões do dia a dia, #SomosTodosJuízes."

A associação do Rio protestou, não se sabe porque dá margem a imaginar que os juízes praticam estas transgressões ou (acho difícil) por colocar todos os cidadãos como transgressores…

O mais interessante, porém, é que na nota de resposta à critica – onde já acusa a entidade dos juízes do Rio de "oportunismo" eleitoral – diz que mensagens assim " são uma forma de promover o fortalecimento da magistratura e se fazem extremamente necessárias em um momento de crise política e econômica."

A campanha #SomosTodosJuízes também fala com a sociedade quando chama o cidadão para assumir a sua parcela de responsabilidade em agir de forma ética, assim como fazem os magistrados.

Chega a ser ridículo que em meio a tantos escândalos de abuso do poder – o juiz do Porsche, os carteiraços, a funcionária punida por dizer a um magistrado, durante uma blitzda Lei Seca que ele não era Deus e, ainda esta semana, juiz condenando jornaleiro que o xingou a mais de sete anos de cadeia. – e a vergonha de centenas de milhões pagos em auxílio-moradia (com montanhas de atrasados – a quem mora em imóvel próprio, na própria cidade onde vive – suas excelências venham com historinha de carteirinha falsa de estudante e  "furar fila " são problemas de Justiça no país.

Ah, tenham paciência.

Já não falo de criança com fome, gente sem casa, trabalhador sem emprego, para que os senhores não digam que é demagogia, mas  do combate aos privilégios.

O que fica bem claro quando o próprio presidente da AMB, João Ricardo Costa, diz que eles têm o apoio de todas as grandes empresas da mídia, os "fazedores da vontade" do país:

 Após três meses do lançamento, a campanha #SomosTodosJuízes já conquistou outros relevantes setores da sociedade. O Prêmio Innovare é um dos principais apoiadores ao lado dos maiores grupos de comunicação do País – Grupo Globo, Rede Record, Grupo Bandeirantes e a Associação Brasileira de Rádios e Emissoras de TV (Abert) – apoio esse que referenda a campanha e demonstra que estamos no caminho certo para tornar ainda mais conhecida e valorizada a atuação dos magistrados brasileiros.

Aliás, doutores, seria bom esclarecer que, se#SomosTodosJuízes, também queremos que nos paguem 14 salários, nos dêem dois meses de férias, paguem nosso plano de saúde, colégio dos filhos, mestrado para a gente, auxílio para livros e jornais, além daqueles  R$ 4.300 de auxílio-moradia.

Não?

Ah, bom. Já está dando para entender porque os senhores e o pessoal do MP estão tão mobilizados para impedir que se aprove a lei que pune abuso de poder de juízes e promotores…

#NãoSomosTodosOtários e#NãoSomosTodosLadrões

Política - quanta baboseira num artigo só

As eleições de 2018 e o "risco Lula"

por Marcos Villas-Bôas

na CartaCapital

Como nos últimos 13 anos, o futuro do Brasil e da esquerda está nas mãos de Lula, agora mais do que nunca. O país vive um grave momento de inflexão e, até o final de agosto, decidirá o impeachment da Presidente Dilma Rousseff, o segundo em menos de 30 anos.

Os próximos 35 dias serão decisivos para o Brasil, que continuará em crise até 2019 se um novo Presidente, mais preparado e que não tenha relação com as investigações em curso, não assumir antes disso.

Michel Temer, como todos sabem, está envolvido até o pescoço, o que foi dito por alguns dos seus colegas mais próximos nasgravações expostas na imprensa. "Michel é Cunha" e Cunha vai, provavelmente, entregá-lo quando for preso, talvez até com gravações de conversas dele sobre crimes.

Ainda que não o faça, uma delação premiada de Cunha e outras que estão por vir derrubarão muitos dos principais políticos de PMDB, PT, PSDB, DEM, PP e outros.

Para que o governo não sofra com quedas frequentes de pessoas em posições chave até 2019 e com um constante receio de queda do próprio Presidente, é preciso que alguém de fora dessa bagunça assuma o poder.

Como João Santana, marqueteiro do PT, expôs a Sérgio Moro recentemente, quase todas as campanhas receberam dinheiro de caixa 2, inclusive a de Dilma em 2010. Se houver rigor, segundo ele, será feita uma fila de presos de Curitiba até Manaus, maior do que a Muralha da China.

Na medida em que se aprofundarem as investigações, se elas não forem seletivas, vão ser implicados de alguma forma, como já vêm sendo, Dilma e Temer, Aécio, Marina, quase todos que foram candidatos recentemente.

As pesquisas de opinião pública dão conta repetidamente de que a sociedade não quer mais Michel, nem Dilma. Parece estar claro que o caminho para o país é entoar uma voz uníssona por novas eleições diretas, que restituam a democracia.

Não se trata mais de subverter o Estado Democrático de Direito, como alguns dizem, pois o que se propõe é exatamente uma renovação dele, que, na verdade, esteve deformado desde sempre.

Se quase todos os principais políticos que concorriam a cargos em Executivos, e mesmo no Legislativo, recebiam dinheiro de caixa 2, ainda que a origem não fosse corrupção estatal, praticamente todos eles estão implicados em alguma medida e terminarão sofrendo as consequências criminais, administrativas e/ou eleitorais.

Com a proibição do financiamento empresarial de campanhas, há esperanças de que diminua a influência do poder do dinheiro sobre o poder político. Aliada a um maior medo de punição e a mais fiscalização, pode ser que um início de Estado Democrático de Direito, um verdadeiro, esteja prestes a ser construído no Brasil.

Cabe, portanto, a Lula se retirar do pleito eleitoral. O coro em prol de novas eleiçõesnão é praticamente unânime ainda, porque ele é o primeiro colocado nas pesquisas e boa parte da sociedade tem o receio de que tudo continue igual caso ele seja eleito.

Em todas as pesquisas deste ano, Lula tem a maior rejeição entre os possíveis candidatos, em torno de 60%, apesar de estar à frente no primeiro turno por causa da pulverização dos votos dos demais. No segundo turno, contudo, ele perde em todos os cenários.

O grande povo de mulheres e homens comuns do Brasil quer mudança drástica. Exceto por uma elite conservadora, as pessoas querem mais lisura, transparência, eficiência e equidade na economia. Lula teve a sua chance, ou melhor, teve duas, e sua pupila teve mais uma e pouca. PSDB, DEM e PMDB também tiveram suas chances, direta ou indiretamente, no poder.

Lula continua caçado a todo o custo. Voam as investigações contra ele e aliados, cujo objetivo maior é prendê-lo ou, ao menos, torná-lo inelegível, enquanto que todas as demais se arrastam. Se a possibilidade de Lula ser Presidente novamente deixar de ser um risco, o Brasil ganhará com o avanço das demais investigações.

Desistir das eleições é um bem que Lula faz a si mesmo, à sua liberdade, e à República de Curitiba, que poderá ficar mais tranquila depois desse fim atingido e, assim, investigar e condenar também os demais com o mesmo ímpeto da caça a Lula.

Boa parte do Brasil, mesmo aqueles que eram eleitores do PT, não tem mais coragem de apostar em um Presidente do partido, ao menos não em curto prazo. Lula e PT precisam ser mais pragmáticos, o que eles foram muitas vezes no mau sentido. É preciso abrir um pouco mão do poder para que possam voltar a tê-lo.

Deste modo, não parece haver outro caminho melhor, senão Lula anunciar sua retirada de eleições até 2018 com apoio incondicional à candidatura de Ciro Gomes com um vice do PT, a ser anunciado, que esteja longe da lama do partido. Caso Fernando Haddad não vença em São Paulo, ele tende a ser o melhor nome.

Com a saída de Lula do pleito eleitoral, ele será menos visado e poderá trabalhar com mais tranquilidade na reconstrução do partido, nas eleições municipais e em eventuais eleições presidenciais.

Ao mesmo tempo, com a retirada do seu nome das pesquisas de opinião, é provável que ainda mais pessoas passem a defender novas eleições. Segundo a pesquisa que o Datafolha realizou e a Folha divulgou de uma forma meio estranha, ao menos 62% da população já defende essa posição.

Sem o "risco Lula", seria mais fácil conseguir a derrubada do impeachment com a volta de Dilma Rousseff e um plebiscito para que a sociedade diga se quer novas eleições.

Com amplo apoio da sociedade, tudo fica mais fácil. Essas novas eleições poderiam vir também pela cassação da chapa Dilma/Temer no TSE ou, ainda, por uma renúncia dupla em caso de derrota do impeachment no Senado em agosto.

Corre-se um risco imenso de Temer continuar na Presidência até o final de 2018, o que seria desastroso. Antes da votação na Câmara, este Autor defendia que seria "didático" para o país ver Temer e amigos governando, mas já vimos o suficiente. Se eles foram capazes de tanta besteira em poucas semanas enquanto interinos, imaginem em mais de 2 anos como definitivos. 

Em outro péssimo cenário, Aécio Neves e comparsas torcem por uma manutenção de Temer com queda logo em seguida, no início de 2017, para que Rodrigo Maia assuma a Presidência do país e convoque eleições indiretas, pois terão se passado 2 anos desde o início do mandato. 

Lula precisa dar um passo atrás para que possa voltar a caminhar pra frente. Ciro é um nome do agrado dele e de boa parte dos progressistas do país. É alguém para liderar a construção de uma nova centro-esquerda progressista, uma linha política mais equilibrada e técnica no Brasil, que busque se afastar das práticas do presente e do passado.

Ciro poderia montar um time progressista dos sonhos com Cid Gomes, Roberto Mangabeira Unger (em uma posição, enfim, de mais importância e de decisão), Fernando Haddad, Flávio Dino, Roberto Requião e outros políticos preparados da centro-esquerda que não tenham relação com as investigações criminais, administrativas e eleitorais em curso.

O Brasil não precisa de mais remendos neoliberais, nem de remendos assistencialistas. O país não quer mais populistas de direita, nem de esquerda. Para uma mudança estrutural, porém gradual e experimentalista, ninguém melhor do que Ciro, que, como é notório, tem a coragem necessária e um conhecimento que vai muito além do "politiquês" brasileiro.

Ainda que Ciro não vença as eleições, apesar da pouquíssima preparação de Marina, haveria alguns aspectos positivos em tê-la assumindo até o final de 2018, dando uma feição à política diferente das coligações PSDB-DEM-PMDB x PT-PMDB, mas isso se não sofrer nenhum respingo das investigações que, conforme delação premiada de Léo Pinheiro, ex-Presidente da OAS, indicam uso de dinheiro sujo em sua última campanha.

Continua tudo nas mãos de Lula, que pode proteger os nomes dele e de Dilma na história. É preciso que tome a decisão acertada e se mantenha em condições de definir o futuro do país mais à frente. Essa pode ser a sua última chance.

*Marcos de Aguiar Villas-Bôas, doutor pela PUC-SP, mestre pela UFBA, é conselheiro do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais do Ministério da Fazenda e pesquisador independente na Harvard Law School e no Massachusetts Institute of Technology

Temer chegou ao fim da linha, por Paulo Moreira Leite

No Brasil 247

As pesquisas dos últimos dias mostram que mesmo incluindo o esforço para levar o filho de 8 anos na escola, o baú de truques banais para tentar elevar a popularidade de Michel Temer a qualquer preço está chegando ao fim. Com números arrasadores, o Ipsos e o Paraná Pesquisas mostram uma verdade inegável. Quanto mais a população conhece o governo Temer, mais o rejeita.

Temer sempre foi um político ruim de votos e é claro que isso quer dizer muita coisa numa democracia. Coisas ruins, em geral. Fez a carreira política beneficiado pela presença em aparelhos  que lhe garantiam a eleição em pleitos parlamentares, invisível e opaco num máquina de cabos eleitorais profissionais, prefeitos, governadores e empresários amigos que garantiam votos anônimos, inexpressivos e difíceis que são assegurados  hoje para serem esquecidos amanhã. Tudo aquilo que a maioria da população rejeita e condena.

Cresceu na fase sem glória e sem moral do velho PMDB que foi a legenda honrada de Ulysses Guimarães e da luta contra a ditadura. Ganhou importância quando gerenciava – o termo é este – uma força sem importância para o povo, apenas para os interesses de uma maioria arrasadora de amebas profissionais. 

Protegido pela opacidade de quem nunca sentiu necessidade de revelar uma ideia, um projeto, Michel Temer se desfaz dia após dias, há dois meses, desde que, sob os holofotes da presidência, precisa dizer a que veio e enfrentar a hora da verdade. Nessa circunstância inevitável, exibe um programa de anti-Brasil. A essência do seu problema é política.

Ele chegou ao Planalto a bordo de um golpe parlamentar,  uma suspensão temporária do Estado Democrático de Direito, destinada a permitir a aplicação de medidas de exceção de caráter cirúrgico, que devem ser limitadas no tempo e na profundidade, pois não há condições políticas para ir além disso. 

Desde o primeiro dia, contudo, o governo Temer busca mudanças de outro caráter, que mesmo governadores eleitos, em disputas legítimas e inquestionáveis, teriam dificuldade de realizar. Em países com o perfil sócio-econômico semelhante ao nosso, é mais frequente em ditaduras escancaradas – e não nas envergonhadas.

Ainda que tenham sido inspirados em Margaret Thatcher e Ronald Reagan, as versões sul-americanas mais conhecidas de criação de um Estado mínimo exibidas pelo governo Temer só conseguiram avançar em suas pretensões através da ditadura, da tortura e da violência, da supressão das garantias democráticas. Você sabe de quem estamos falando: Augusto Pinochet, que destruiu no Chile o mais avançado estado de bem-estar social do continente; e Alberto Fujimori, que arrancou a raiz das primeiras iniciativas que vinham sendo construídas nessa direção. Pinochet chegou a La Moneda pelo sangue de um golpe que se tornou uma vergonha mundial desde o primeiro dia -- como tantos exilados brasileiros conheceram na própria carne. Fujimori foi eleito e, após uma série de movimentos demagógicos, cavou terreno para um golpe institucional, origem de uma ditadura corrupta e violenta que seria derrubada com auxílio da Casa Branca, com receio de que o caráter temerário de seu governo levasse a uma situação fora de controle, ameaçando a estabilidade conveniente aos investimentos no país. Nos momentos de megalomania, seus aliados falavam que a "fujimorização" poderia ser uma entendia na América Latina.

Pinochet foi ditador por 17 anos. Fujimori, tudo somado, ficou dez.

Antes disso, porém, ambos tiveram direito a pequenos minutos de glória, permitida a partir de princípios mais flexíveis do que se imagina por parte de quem tinha o dever de negar apoio e consideração.  Pinochet foi tratado por Tatcher com honras de aliado preferencial, protegido inclusive no momento em que, deposto, teve de encarar um mandato de prisão por tortura e morte assassinado pelo procurador espanhol Baltazar Garzón.

Ainda em seu posto, Fujimori estufou o peito, em Lima, na cerimônia em que Fernando Henrique Cardoso lhe entregou a Ordem do Cruzeiro do Sul, a mais alta condecoração do Estado brasileiro.

A impopularidade de Temer é recorde pelo prazo mas sua origem é o conteúdo. Trata-se de um programa que jamais teria votos da maioria dos brasileiros para chegar ao Planalto. De caráter socialmente excludente, colonial em sua essência, a rejeição era só uma questão de tempo.

Por mais que a mídia grande tenha feito o possível para esconder a natureza perversa do processo em curso, numa manipulação de informações coerente com um processo que o Prêmio Nobel da Paz Perez Esquivel chamou de golpe branco, a população já compreendeu o sentido do espetáculo. Diariamente, descaradamente, seus benefícios são reduzidos. Conquistas de tempos recentes recentes são ameaçadas – quando não foram suspensas de imediato. Não há nenhuma boa notícia para quem é pobre, dá duro no fim do mês para pagar contas e educar os filhos. A lista é tão longa que o risco de esquecer alguma coisa é real.

O projeto que limita o endividamento do governo é um programa de recessão permanente. A reforma na Previdência é uma ofensa. A mudança no Minha Casa Minha Vida é um escárnio. A base para cortes no Bolsa Família é uma mentira. O ataque a Petrobras é um crime. O retrocesso na educação é um recuo histórico. O programa de destruição da CLT envergonha qualquer cidadão com orgulho do 13 de maio de 1888.

Nos terroristas de Alexandre Moraes, na suspensão do Whatsapp, no projeto de suspensão de garantias democráticas do Ministério Público, medidas autoritárias ameaçam chegar a vida real. O nome adequado para o financiamento politicamente dirigido a portais da internet é aparelhamento.

Nefasto por sua própria natureza, o golpe de abril-maio é um desses desafios imensos que o povo de um país está condenado a vencer, de uma forma ou de outra. Se a história conta uma lição é ensinar  que cedo ou tarde a maioria consegue impor seus direitos, por mais obstáculos que encontre no caminho.

No Brasil de 2016, a opção mais civilizada e menos traumática também é a mais curta, obviamente.  Reside na votação do Senado, que pode transformar o pesadelo dos últimos dois meses num episódio grave mas passageiro. Bastam os votos necessários para derrotar o golpe, abrindo caminho para um plebiscito que poderá realizar aquilo que a quase totalidade da população deseja -- a realização de novas eleições presidenciais. Para além de tramas menores de balcão, disponíveis em qualquer lado, a base dessa decisão será a convicção, por parte de um número razoável de senadores, de que é impossível ignorar que mesmo direitos e prerrogativas de representantes do voto popular estão em jogo num processo que abre caminho a medidas de exceção que ninguém sabe aonde vão terminar.

A hipótese de uma derrota da democracia no Senado é lamentável, deve-se admitir. Seu efeito seria transformar a resistência num processo mais duro e doloroso, ainda que inevitável. Mas, ao contrário do que dizia a filosofia amiga de Pinochet e Fujimori, não há fim da história. Ela sempre pertence ao povo que, nas pesquisas sem truque, já disse com clareza o que pensa de Michel Temer e seu governo.   

Moro e a "Bolsa quadrilha", por Fernando Brito

Meu velho companheiro Tales Faria, no site Os divergentes, anuncia que está se formando uma encrenca entre o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o juiz Sérgio Moro.

Apesar de Teori já ter tomado uma decisão de que todo dinheiro recuperado na Lava Jato de desvios na Petrobras deve voltar aos cofres da empresa, Moro homologou mais três acordos de delação premiada onde as multas – três, de R$ 1 milhão cada vão render 10%, ou R$ 300 mil –  para uma "caixa" a ser administrada pelo próprio Ministério Público.

E isso é fichinha, porque, publica o Conjur que "o Ministério Público Federal deve ganhar 10% dos acordos da Andrade Gutierrez —multada em R$ 1 bilhão— e da Camargo Corrêa — que se comprometeu a pagar R$ 700 milhões ".

As duas negociações renderiam a bagatela  de R$ 170 milhões à instituição, em dinheiro que, segundo Teori Zavascki, deveria ser da Petrobras.

Quer dizer, a delação virou um "negoção" premiado.

No caso da Odebrecht, segundo Monica Bergamo, há generoso programa informal de indenizações milionárias a seus diretores, que vai distribuir a cada um " R$ 15 milhões, podendo chegar a números bem maiores".

O que virou isso, um "Bolsa Quadrilha".

Todos os "moralistas" e "arrependidos"  rebolam milhões pra cá e milhões pra lá e para lá com absoluta santidade e nenhum controle?

Ao meu amigo Neuto


Amplas casas/ rostos mudos/ ruas de sombras esquesitas/
pelo canto dessa porta/ euforia de pivetes/ fome/ trapo/ grito/ velas...
são as ideias.

O rio todo virado/ toda revirada a terra/
padre de carros dourados/ sinos/ procissões/ promessas/
e o povo cheirando a lepra/ tanta miséria.

Sertão banhado de lágrimas de antepassados/
corpos de homens suados/ explorados no roçado/
prá ver se no fim do ano tem uma barriga farta.

E por falar falar de saudade/ quem não lembra de Wandré/
amigo bom/ afinado/ idealista de fé/ tá longe/ também pudera/
são as ideias...

E por inveja ou por ódio/ confusão tanta maldade/
foi preso mantido em ferros/ por homens da lei chamados/
foi preso por ter sonhado um dia com a liberdade.

São as ideias...