A volta do Japonês da Federal, agora de tornozeleira eletrônica, resume o Brasil de bandidos golpistas

O Japonês da Federal escolta o pecuarista Bumlai, ambos de tornozeleira eletrônica

 

Newton Ishii, o infame 'Japonês da Federal', reapareceu em grande estilo. Na segunda, dia 5, foi visto estava escoltando em Curitiba o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro.

No dia seguinte, caminhava junto ao pecuarista Joé Carlos Bumlai. Tudo para as câmeras.

Ambos, Ishii e Bumlai, têm uma tornozeleira eletrônica. Ele estava sumido porque fora afastado de suas funções, condenado a 4 anos e dois meses por facilitação de contrabando na fronteira de Foz do Iguaçu.

O agente da PF ganhou notoriedade se deixando fotografar a cada investida gloriosa da Lava Jato no tempo em que isso era manchete. Sempre com os indefectíveis Ray Ban pretos, foi homenageado com marchinha de Carnaval e máscara para os foliões. No auge, em fevereiro, deu autógrafos no Congresso para uma cambada de políticos.

Nós enxergamos a realidade através de símbolos — e não há símbolo mais eloquente da nossa Justiça, do Brasil do golpe, do que um condenado "oficial" levando um réu pelo braço.

É inacreditável que o chefe da operação não enxergue nisso um embaraço, um recado para a sociedade de que está tudo combinado numa linda fraude.

É, também, sintomático do tempo que vivemos. Se havia algum decoro, algum tentativa de manter as aparências, ele foi para uma salinha nos fundos se ajoelhar no milho e nunca mais voltou.

Boa parte da cambada que votaria pelo impeachment tirou selfies com Ishii. Jair Bolsonaro chamou inclusive seu filho, Eduardo, para participar da palhaçada.

Ishii foi convidado a se filiar a partidos e concorrer às eleições municipais. Agradecido, falava que "ia pensar". Os movimentos de extrema direita e a imprensa o canonizaram.

Num dos ridículos perfis sobre ele, em que seu currículo na ilegalidade era omitido (podemos tirar se achar melhor), filosofou sobre a fama: "Ela tem dois lados. Tem o lado bom, do reconhecimento. O lado das crianças e adolescentes é muito legal", disse.

"Estamos dando um bom exemplo. Dizem que estão rezando, torcendo para que tudo acabe bem. Isso fortalece o trabalho e nos dá força para continuar. Diminuiu a cultura do país de achar que é melhor levar vantagem em tudo."

É uma farsa que outros farsantes fingiram desconhecer e agora está aí, à luz do dia.

O Japonês da Federal é Michel Temer por outros meios. Se Temer anda por aí fantasiado de presidente legítimo, montado no mantra de que as instituições estão funcionando, por que o Japonês da Federal não poderia sair nas fotos com sua tornozeleira?

Sobre o Autor

Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas

Sete de Setembro

Temer chega para o desfile de Sete de Setembro em Brasília e ouve o grito das arquibancadas: "Fora Temer", Ele rompeu protocolos da ocasião: não chegou de carro aberto nem usou a faixa presidencial; e não fez discurso. Segurança da Presidência confiscou cartazes e ameaçou manifestantes. 

Previdência


Previdência mostra quem manda no Michê Temer

Quarenta e oito horas depois da PM baixar o porrete e jogar bomba de gás em cidadãos do patamar debaixo que protestavam contra o golpe, o governo Michel Temer afinou a voz para atender aos de cima e apressar a reforma da Previdência.

Numa cena ilustrativa, na manhã de ontem o Estado de S. Paulo noticiou, na primeira página, o receio de Aécio Neves e Geraldo Alckmin de que a reforma – a mais impopular entre tantas ideias nocivas em curso desde a posse de Temer – fosse debatida depois das eleições municipais.

O temor era que saísse da pauta política para nunca mais voltar – o que seria muito bom para os velhinhos e suas famílias, mas uma péssima notícia para um governo fraco, sustentado pelo 1 % da população em troca da abertura novas frentes de exploração dos 99%, especialmente os mais pobres.  

No fim do mesmo dia, quando o sr. Fora Temer mal acabara de retornar da China, o Planalto anunciou o encaminhamento da reforma.

Mais do que produzir um efeito prático imediato – ninguém acha que o Congresso irá debater de verdade um assunto espinhoso antes das eleições municipais – a decisão ajuda a lembrar uma situação política.

Deixa claro quem manda e, nessa matéria, quem obedece. A mesma Casa Civil que defendia, por puro oportunismo eleitoral, o adiamento da reforma até a véspera tornou-se a primeira a defender sua divulgação imediata. Pudera. Depois do espetáculo da PM de domingo, a dependência de Temer em relação a PM de Alckmin tornou-se uma dessas realidades políticas acima de qualquer dúvida razoável.

Embora as mudanças mais importantes costumem ficar escondidas, para evitar uma reação imediata da maioria de prejudicados, algumas novidades da reforma são preocupantes desde já. Em síntese, prejudicam os mais pobres e as mulheres.

A criação de uma idade mínima para a aposentadoria – 65 anos – representa uma punição a toda pessoa forçada a trabalhar mais cedo.

Parte do plano consiste em igualar a idade mínima de aposentadoria para mulheres e homens – o que uma campanha marqueteira pode anunciar como uma medida modernosa, mas tem um caráter chocante quando se recorda a realidade da dupla jornada de trabalho feminina no país.

Como regra geral, pretende-se dificultar o início da aposentadoria para todos, prevendo a criação de regras novas para quem ainda não completou 50 anos – e um regime de transição para quem se encontra acima disso. Conduzido por economistas alinhados com a perspectiva do Estado mínimo, o argumento central é conhecido. Diz que a Previdência tornou-se uma instituição insustentável com a evolução demográfica das populações. Sempre em tom alarmista, ideal para confundir a discussão, se afirma que as contas, hoje, estão em déficit. Pior: com o prolongamento da expectativa de vida, fenômeno universal, o caixa da Previdência tende a se tornar inviável, diz a teoria. Nessa situação, não há alternativa a não ser arrancar o couro do cidadão comum. Será mesmo?

Um estudo da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita mostra que em 2014 as receitas do Sistema de Seguridade Social, responsável pelo caixa da Previdência, atingiram R$ 686,1 bilhões. Já as despesas ficaram R$ 632 bilhões. Resultado: um superávit de R$ R$ 53, 9 bilhões. Cadê o déficit?

Há sim um déficit – que não afeta o total global das aposentadorias do sistema – na coluna da Previdência Rural. Isso porque a maioria dos 8,5 milhões trabalhadores rurais não contribui para a Previdência nem poderia fazê-lo, por uma razão muito simples: poucos tem registro na carteira de trabalho, num fenômeno que se verifica no mundo inteiro.

Num esforço para enfrentar essa situação particular, há mais de 20 anos o Congresso teve a prudência de aprovar 8212/91, que prevê o pagamento de 2% da receita total da produção agrícola para a Previdência. Segundo cálculos da Confederação Nacional da Agricultura, a PIB agrícola chega a R$ 1 trilhão. O setor deveria pagar a soma anual de R$ 20 bilhões. Pelos desvios e espertezas, a sonegação encobre mais de 60% dos impostos devidos e os pagamentos ficaram em R$ 6,7 bilhões.

Não é só. Em outro plano, os atrasos acumulados nos pagamentos devidos a Previdência atingiram, em 2014, a soma recorde de R$ 307,7 bilhões. É mais que o faturamento de qualquer empresa brasileira.

Já a capacidade de recuperação do que era devido ficou em R$ 1 bilhão, ou 0,33% da dívida. "Isso significa que, além de ineficiente na fiscalização, que permite essa enorme evasão de tributos da Previdência, o governo federal não recupera praticamente nada", afirma o economista Odilon Guedes, que foi presidente do Sindicato da categoria em São Paulo, autor do artigo "Porque não há déficit," de onde extraí a maioria dos dados deste texto.

Nesse ambiente social de um país em que a desigualdade e o privilégio atingiram o nível do descalabro e do escândalo, a Previdência deve ser defendida como um esforço bem sucedido de defesa da maioria dos brasileiros. Ajuda a distribuir renda e impede a miséria mais horrenda.

Não é difícil entender por que ela incomoda os senhores de Michel Temer, vamos combinar.

O debate, mais uma  vez, envolve interesses muito claros. De um lado, 99% da população. De outro, os  1% que não pagam impostos.

Será difícil escolher?

By Paulo Moreira Leite - Editor do Brasil 247

MOVIMENTOS SOCIAIS VOLTAM ÀS RUAS CONTRA O GOLPE NESTE 7 DE SETEMBRO

Contra as tentativas de repressão aos protestos, as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo realizam nesta quarta (7) mais uma manifestação na Avenida Paulista; em texto divulgado para a imprensa, as frentes lamentam os ataques da polícia aos manifestantes que participaram do protesto do último domingo; para Raimundo Bonfim, coordenador da Central de Movimentos Populares e integrante da Frente Brasil Popular, "este ataque de PM de São Paulo faz parte da tentativa de inibir as crescentes manifestações contra o governo Temer, que têm sido diárias desde o dia 31 de agosto, data que o Senado aprovou o impeachment da presidente Dilma, sem ter cometido crime responsabilidade"; "Não adianta. Não vão nos intimidar. Vamos intensificar os protestos pelo Fora Temer", frisa

Lula - a gente quer uma sociedade da tolerância


247 - O ex-presidente Lula participou na noite desta terça-feira (6) de ato no acampamento do Levante Popular da Juventude, em Belo Horizonte. Em seu discurso, ele defendeu que os jovens se engajem na política e defendeu uma "sociedade da tolerância".

"Vamos mostrar que a gente sabe conviver democraticamente. A sociedade justa que a gente quer criar, é uma sociedade da tolerância. Se eu estava triste hoje e escolhi vir aqui, posso dizer que vocês me ajudaram a voltar para casa com ânimo. Eu quero dizer a eles que me perseguem que o problema não sou eu. Já tô velhinho. O problema deles: são vocês. Eles tem que aprender que se querem ser presidente desse país, tem que ir para rua e disputar o voto e não dar um golpe parlamentar", afirmou.

Abaixo os principais trechos do discurso de Lula:

"Eles passaram a achar intolerável o povo pobre ter um pouco mais de ascensão"

"É tão importante do pequeno agricultor, como do grande produtor de soja ou de algodão"

"Eles não assimilaram a importância dos pobres da periferia poderem entrar numa universidade e sentar ao lado dos filhos deles"

"Parece que incomodou a eles, nós em 13 anos termos investido mais na educação do que eles investiram em 500 anos"

"Nós mostramos que um outro país era possível construir e demos um primeiro passo na construção da cidadania neste país"

"Eles acham que tudo se resume ao eixo Rio-São Paulo"

"Tem um artista neste país que recebe todo o nosso respeito: Chico Buarque. Que assumiu publicamente o #ForaTemer"

"quem sonhou como a minha geração sonhou, vive uma situação triste agora. Mas ver vocês me anima"

"toda vez que se nega a política, aparece um Bolsonaro, assim como, apareceu um Hitler e um Mussolini"

"A desgraça de quem não gosta de política é que é governado por quem gosta"

"E vocês que querem construir um projeto de nação, não podem deixar de gostar de fazer política"

"Nós ganhamos e provamos que pobre não era o problema desse país e sim a solução desse país"

"Essa semana tiraram 900 mil pessoas do Bolsa Família. Eles acham q R$200 é esmola. Não entendem a importância de dar um copo de leite ao filho"

"Não tem povo mais tolerante que o povo brasileiro, porque aguentar o que a gente aguenta é difícil"

"Vamos mostrar que a gente sabe conviver democraticamente. A sociedade justa que a gente quer criar, é uma sociedade da tolerância"

"Se eu estava triste hoje é escolhi vir aqui, posso dizer que vocês me ajudaram a voltar para casa com ânimo"

"Eu quero dizer a eles que me perseguem que o problema não sou eu. Já tô velhinho. O problema deles: são vocês"

"Eles tem que aprender que se querem ser presidente desse país, tem que ir para rua e disputar o voto e não dar um golpe parlamentar.