Um presente para Lula e um recado ao Moro, por Armando Rodrigues Coelho Neto

Tornou-se repetitivo. É como se já tivesse dito tudo ou quase tudo sobre o golpe. Paira no ar uma sensação de vazio e impotência diante da tirania. Um simples Fora Temer não nos compraz, mas o golpe de estado aí está. Não importa se com veneno, faca, bala. Se disso deriva a morte, dolosa ou culposa o nome é homicídio. Alguém já o disse - se com canhões, caneta, ou embustes legais, o voto popular é cassado e a vontade de aventureiros se impõe: é golpe. Depois dele, a repressão, a retaliação, o escárnio, os postes onde cabeças serão expostas.

Sérgio Moro não entende de metáforas. Sua visão limitada, moralista e cartesiana têm o mesmo eco da louca atriz que diz pagar "o Bolsa Família" dos Nordestinos. Que importa o passado dessa senhora, diante da adolescente que sem papas nas línguas mostrou que é do Paraná que brota o ódio e o sangue do golpe, tão bem aproveitado pela assassina PM paulista. Mas, os líderes dos mais de 300 investigados foram "conversar com dona Carmem".

Não, não é golpe, dizem. Não houve "Cadeira do Dragão", "Apolo 11", "Maricotas" "Pau-de-Arara" - hediondos recursos para arrancar "verdades". Mas existe o jaguncismo do "teje preso" até que alguém fale. Vale qualquer confissão, desde que específica, ainda que mentirosa para alimentar o noticiário do coronelismo eletrônico. Qualquer coisa que alimente o imaginário coletivo; basta sujar a biografia de Lula, reconhecido líder do Hugo Chave a Barack Obama.

O Lula do tríplex desqualificando por Maluf: "Aquilo são três BNHs empilhados. Mas, cumpre o papel do aparelho de som do Lula na era Collor, num debate criminosamente editado por um capataz dos Marinhos para favorecer a cultura de uma quadrilha. A mesma a qual Sérgio Moro - consciente ou inconscientemente ou como mera consequência de seus atos, está a servir. A mesma cultura de Moros, Marinhos, Marinhos, Malafaias...

A vivência por 35 anos dentro da Polícia Federal me autoriza a fazer leitura independente. Não tenho "darfs" em aberto, meu nome não está na Farsa Jato, Zelotes ou HSBC, nem os envolvidos nelas são meus amigos. Se aponto falcatruas de outros partidos não é para justificar e ou inocentar erros. É para mostrar a hipocrisia dos discursos.  Lula e seu partido são mais perseguidos pelos seus acertos do que pelos seus erros.

Aponto ilegalidades, inconsistências de discursos. À socapa, atos ilegais como as prisões de Delcídio Amaral, Eduardo Cunha soam como tentativa de higienizar o golpe. A independência e harmonia entre os poderes da República é um jogo de conveniência. A "corte suprema" interferiu nos demais poderes sempre no interesse do golpe. O discurso oco-paneleiro entre golpistas e até dentro da Polícia Federal, de que os atos da Farsa Jato são ratificados pelos tribunais superiores caiu no vazio. Sim há ilegalidades alimentando o golpe. E a ONU viu.

Mas, não seria de ver com muita alegria, a notícia de que o Alto-Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos (Acnudh) acolheu o pleito dos advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre as investidas ilegais que este vem sofrendo. A ONU, em primeiro juízo preliminar e provisório, vislumbrou indicadores de arbitrariedade e pediu explicações para o governo impostor (Fora Temer!). A ONU, que não ousa discordar dos interesses dos Estados Unidos, tem nesse caso mero papel simbólico.

A ONU e seu morde-sopra deu um "presentinho" para Lula, às vésperas de seu aniversário, para diminuir a tristeza do ano passado, quando a PF truculentamente intimou o filho de Lula só para tripudiar.  Mas, por outro lado, comporta outra leitura, pois mesmo em juízo preliminar (fumus bônus iuris), aquela entidade vislumbrou ilegalidades para as quais o STF está cego.

Presente para o Lula, mero recadinho ao nada metafórico juiz da Farsa Jato, que já tornou público seu juízo de aceitação de prova ilegal. Uma ousadia que inspirou críticas do controvertido Gilmar Mendes  e "juizecos de primeiro instância" - Renan Calheiros, o golpista.

A ONU deu claro recado a Sérgio Moro: se pleiteia vaga no Tribunal Penal Internacional, cumpra a lei, respeite os direitos humanos, não seja instrumento de golpes de estado. Afinal, vaidade para isso o senhor tem.

Armando Rodrigues Coelho Neto - jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

Não há dúvida de que o PT foi o grande derrotado nas eleições municipais

por : Kiko Nogueira

Perdeu todas as cidades que disputou no domingo, de Anápolis a Santa Maria, passando por Mauá, Recife, Santo André, Vitória da Conquista e Juiz de Fora.

Mas isso já era previsível, de certa forma, dado o massacre dos últimos quatro anos, o golpe, a Lava Jato, a perseguição a Lula etc.

O que não estava combinado era a derrota humilhante do principal motor do impeachment, o homem que três dias depois do resultado de 2014 estava falando em anular o pleito.

Aécio Neves viu seu candidato em Belo Horizonte, João Leite, perder para Alexandre Kalil, ex-presidente do Atlético mineiro. O placar foi de 53,3% a 46,7%.

Ele já havia sido derrotado quando Pimenta da Veiga perdeu a eleição estadual para Fernando Pimentel.

Aécio vê sua situação se complicar para 2018. O rival Gerado Alckmin conseguiu emplacar seu João Doria no primeiro turno.

João Leite e Aécio conseguiram perder depois de Kalil dizer uma bobagem inacreditável no último debate. "Roubo, mas não pago propina", disse ele ao rival, acusando-o de receber dinheiro de Furnas.

Um dia antes do resultado, Aécio havia bravateado: "Triste fim do PT em Belo Horizonte, triste destino do PT no Brasil".

Aécio fez o que fez para desestabilizar o país. Como um menino mimado, reclamou o que não era seu. Tinha tudo a seu favor. A democracia que tentou solapar acabou lhe dando uma surra.

O que lhe serve de consolo é que o arqui inimigo José Serra também se deu mal. Ambos passam a dividir, agora, um futuro mais incerto do que nunca e o receio de topar com um superstar da Federal na porta de casa às 6h da manhã.

Ministério público comprova sua perseguição a Lula

O artigo publicado na Folha de S. Paulo por dois procuradores da República, que atuam na Lava Jato, longe de superar a perseguição política dirigida a alguns partidos políticos e, particularmente, ao ex-Presidente Luiz Inacio Lula da Silva, apenas deixa tal abuso ainda mais evidente.

A Lava Jato promove verdadeira guerra jurídica, mediante o uso manipulado das leis e dos procedimentos jurídicos, para perseguir seus inimigos políticos, fenômeno que é documentado por especialistas internacionais como "lawfare".

Por que será que o PSDB não está dentre os partidos "mais atingidos" pela Lava Jato? Por que documentos que envolvem seus políticos tramitam em sigilo, em nome do "interesse público", ao passo que aqueles relativos a Lula, inclusive os que têm sigilo garantido pela Constituição Federal, são devassados e expostos a todos em nome do mesmo "interesse público"? Não há como responder. Uma rápida consulta às reportagens produzidas pela própria Folha - a exemplo de outros veículos de imprensa - comprova a tese de dois pesos e duas medidas. Há muito a mídia perdeu sua imparcialidade.

Nações desenvolvidas não permitiriam que a Lava Jato deixasse de cumprir a lei, como ocorre no Brasil. Mas os procuradores não pensam assim, bem como o próprio TRF4, que julga os recursos da Lava Jato. Quando a lei é deixada de lado – seja por qual motivo for -, é o próprio Estado Democrático de Direito que está em risco. Você que está lendo esta publicação aceitaria ser investigado e julgado sem o rito das leis, mas, sim, pelas regras de conveniência de procuradores e juízes – por melhores que sejam suas intenções? É evidente que não!

Por Cristiano Zanin Martins

Novamente derrotado em casa, Aécio está fora da disputa presidencial de 2018

Embora o PSDB tenha conquistado vitórias importantes neste domingo (30), em cidades como Porto Alegre (RS) e Belém (PA), o segundo turno da disputa municipal trouxe um sabor amargo para o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que voltou a perder em casas. Em 2014, o tucano Pimenta da Veiga perdeu para o petista Fernando Pimentel na disputa pelo governo de Minas, desta vez João Leite foi superado por Alexandre Kalil, do PHS. Este resultado praticamente confirma Geraldo Alckmin, que elegeu João Dória em São Paulo, como o candidato natural do PSDB na disputa presidencial de 2018. Se a Lava jato e a grande mídia continuar lhe protegendo, como tem feito até agora.

A desconcertante confissão de Dallagnol

por : Paulo Nogueira

Isenção a esta algura dos acontecimentos?

Escondidinha, uma nota na primeira página da Folha de hoje traz o que se pode definir como uma confissão aterradora.

A nota chama para um artigo de Deltan Dallagnol e outro procurador, e o título é este: "Lata Jato avança ao atingir todos sem distinção".

Vou repetir, tamanha a importância da frase:

"Lata Jato avança ao atingir todos sem distinção".

Quer dizer: agora, e somente agora, a Lava Jato atinge — alegadamente — a todos?

Ao longo de todo este tempo Moro e seus comandados trataram de destruir o PT. Num jogo combinado com a mídia, a começar pela Globo, armaram operações cinematográficas quando se tratava de prender pessoas de alguma forma vinculadas a Lula.

Como esquecer as cenas da condução coercitiva de Lula para um depoimento para o qual ele sequer fora convocado?

E o vazamento ilegal das falas entre Lula e Dilma?

E tantas, tantas, tantas outras coisas que colaboraram decisivamente para a derrubada de Dilma e que, pelo script previsto, levariam a tirar Lula do caminho em 2018?

Uma democracia foi destruída. 54 milhões de votos foram incinerados para que a plutocracia chegasse ao lugar a que não consegue pelas urnas.

E agora somos obrigados a engolir que a Lava Jato é, aspas e gargalhadas, "apartidária"? Isenta?

Coloquemos assim: a Lava Jato tem a isenção que está fixada na missão do Jornal Nacional. Nela, o JN diz que noticia os fatos do dia com "isenção".

A Lava Jato foi, desde o início, tão isenta quanto o Jornal Nacional.

As coisas saíram do controle de seus mentores, e da própria mídia, quando delatores graúdos citaram pessoas, de novo aspas e gargalhadas, "acima de qualquer suspeita".

Veio o caos, para os administradores da Lava Jato e para a imprensa. Nenhum entre eles poderia esperar que da Odebrech saísse a informação preciosa de que Serra recebera 23 milhões de dólares num banco suíço para a campanha de 2010.

E atenção: em dinheiro de 2010. Hoje, seriam 34 milhões.

A confusão entre as corporações jornalísticas ficou estampada notavemente nisso: a Folha deu manchete e o JN ignorou.

O fato é que mudaram as circunstâncias: Moro já não é o mesmo. Caminha para ser o juiz de primeira instância de origem. Hoje é menor do que foi ontem, e amanhã será menor do que é hoje.

E a ideia disparatada de Dallagnol de que a Lava Jato "avança ao atingir a todos sem distinção" merece que evoquemos Wellington.

Só acredita nela quem acredita em tudo. A não ser que a tomemos como uma confissão de que ela até aqui pegou apenas um lado.

DEPOIS DE SERRA, ALCKMIN, O “SANTO”, CAI NA DELAÇÃO DA ODEBRECHT

Um dia depois de vir à tona a denúncia de que José Serra recebeu da Odebrecht R$ 23 milhões em propina por meio de uma conta na Suíça, o fogo é disparado contra outro tucano; reportagem da revista Veja neste fim de semana aponta que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), também é citado na delação e confirma que Alckmin é o "Santo" das planilhas da empreiteira; a ele, foram pagos R$ 500 mil em duas parcelas, a pedido de um diretor de contrato da Odebrecht que era responsável pelas obras na Linha 4 do Metrô

Poesia da tarde

Resultado de imagem para fruta mordida
Te vejo perdendo-se todos os dias entre essas coisas vivas onde não estou. Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não estar no que você vê. E tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. Serei apenas memória, alívio, enquanto agora sou uma planta carnívora exigindo a cada dia uma gota de sangue para manter-se viva. Você rasga devagar o seu pulso com as unhas para que eu possa beber. Mas um dia será demasiado esforço, excessiva dor, e você esquecerá como se esquece um compromisso sem muita importância. Uma fruta mordida apodrecendo em silêncio no quarto.

Caio Fernando Abreu