Crônica semanal de A. Capibaribe Neto


A lenta conquista de territórios hostis

O homem conquista o Evereste, o topo do mundo, no Nepal. Katmandu! Conquista o Aconcágua, subindo pela face sul, a mais difícil; conquista o Saara, o deserto da Namíbia, o espaço, a Lua, os confins do Universo, com alguma dificuldade, é claro, mas trazendo o difícil para bem próximo do impossível, mas tem pouco sucesso quando tenta conquistar seu próximo, seu irmão, seja de sangue, seja apenas semelhante. O homem é, nos dias de hoje, um território hostil. Quem duvidar basta ver as batalhas diárias na guerra do trânsito. Os homens, e nesse contexto homem é penas um genérico, porque aí estão incluídas as mulheres, parecem estar dirigindo bigas, empunhando espadas ou brandindo lanças, prontas para uma arremesso. Têm os olhos injetados, parecem colocar fumaça de ódio pelas ventas dilatadas, como guerreiros inchados de ira, em busca de uma vingança por nada. O coração passou a ser um seara hostil. Ali já não se cultivam emoções, sentimentos emoldurados de romantismo, mas de imediatismo recheado a interesse, numa vibração fútil e embalada da molecagem do faz-de-conta, no espaço medíocre do "ficar". Vai ver estou mesmo velho, ultrapassado e o leviano virou moda e o respeito uma coisa ultrapassada. Brinca-se com o amor, inventa-se paixão, mente-se descaradamente um promessa, cultiva-se à vista uma mentira e todos parecem felizes. Eu me recuso, terminantemente, a aceitar. A frase "é o novo!", que ridiculariza os tempos do Crush e do Crapette, da calça boca-de-sino, do bolero, ganhou gosto na boca dos que acreditam eternos ou contextualizados na moldura que entroniza o moderno. Que nada! Nos tempos do Crapette e do Crush havia mais, como direi? Tesão! A esfregação de hoje separou os casais.

Costumamo-nos ao modismo do pagode, aos requebros que insinuam uma relação sexual com o vento, para a festa irreverente da galera em êxtase. E as preparadas não se fazem de rogadas, com as suas purpurinas, saracoteando, mostrando as calcinhas ou as marcas delas, entre uma calça tão justa que mais parece a casca de uma batata cozida, sem a menor cerimônia. E rodopiam, e parte para os abraços de quem estiver perto, e se regozijam. É a apoteose da ignorância. As gangs se enfrentam, se atiçam, e provocam no espetáculo coreografado da bestialidade aplaudida, principalmente se morrer um, para virar herói por meio dia, numa página policial qualquer que noticia um baile "funk" de periferia. Todos parecem gostar, embora seja o cúmulo do fingimento sustentar um certo ar de inocência ou de prazer ante o escrutínio hostil da verdade, tudo isso com uma cara de pau mantida, mesmo coma ameaça do ridículo. Estou fora, quero investir o resto do meu tempo na luta pessoal para conquistar esse terreno cada vez mais perigoso que é o coração de uma mulher que não sabe o que é um bolero ou um tango. Buenas noches, señorita! 

Um comentário:

  1. Belíssima crônica. Concordo plenamente quando diz que : " A esfregação separou os casais". Não é à toa que muita juventude foi desperdiçada; muitos filhos foram indesejados e muitos lares desfeitos. Concordo mais ainda em relação à dança, ou mais precisamente, ao FUNK. Um nojo ! Vergonhoso e indecente ! Acho que o FUNK jamais pode ser classificado como música, mas sim, como um lixo que surgiu para sujar e manchar cada vez mais a mente dessa juventude que se encontra totalmente perdida, entregue aos vícios, drogas e sexo livre.

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