Crônica dominical de A,Capibaribe Neto

Para onde vai o tempo

A solidão voluntária é a melhor companhia para ajudar na reflexão sobre o tempo em que fazíamos planos e tínhamos projetos. Para tudo na vida existe um tempo... Cheguei a pensar que eram mesmo da sabedoria de Salomão os dizeres sobre a existência de um tempo para plantar e um tempo para colher o que se plantou. Não foi Salomão que escreveu. Não vem ao caso, não importa. Quem quer que tenha escrito estava certo. Existe mesmo um tempo para tudo nessa vida. Tempo de ser criança, de fazer travessuras nas ausências de adultos e de ser adulto e descobrir que um dia correu mil perigos para acreditar que existem anjos da guarda. Existiu um tempo para sentir o coração bater diferente quando uma menina de tranças passou e o acertou com um olhar carregado pela magia da primeira paixão... Depois, pouco tempo depois, veio o tempo de descobrir que dificilmente o primeiro amor e o primeiro beijo são eternos e que aquelas emoções vão parar num fundo de uma gaveta chamada passado. Existe um tempo para pensar no tempo, como agora... Todas as conquistas, todas vitórias, mas também o tempo em que nos sentimos derrotados. Tempo das alegrias e o tempo de enxugar as lágrimas pelas perdas, pelas dores dessas perdas e pelas certezas das coisas do nunca mais, só porque de todos os tempos do mundo o "nunca mais" é o pior deles. Houve um tempo, já faz muito tempo, em que pouco era permitido e muito proibido em nome do pecado. Depois, o pecado teve seu tempo de ser tolerado e passou a ser comum. Foi quando chegou o tempo de pouco tempo, o tempo que pouco sobrava escorria pelas frestas dos corações que esfriaram. Para tudo na vida sempre existiu um tempo e muita gente nem se dá conta que existe um lugar para onde vai o tempo... E de repente, sem avisar, descobri, que estamos no resto de tempo para lembrar dos bons tempos que não voltam mais. O menino hoje tem cabelos brancos, tem filhos e os filhos têm netos e agora é quase esquecido porque sempre foi assim... Transformaram-se em águias e as águias aprenderam a voar, e depois, o céu é o limite de todas as águias. O tempo não cuida de ninguém. O tempo não cura. É mentira que o tempo cura as dores do amor que tivemos colado ao peito e que tolamente perdemos. O tempo que existe para somar as lágrimas de saudades pesadas habita o mesmo lugar das tristezas que não se cansam de gemer e estão fadadas a navegar pelo rio de lágrimas que não conseguimos conter ou esconder. O tempo antes da tempestade tinha ondas mansas, águas tranquilas, céu límpido e cheio de estrelas... Pelos cantos das melhores casinhas cheias de diminutivos ecoavam cuidados carinhosos que se cansaram pela falta de eco, por respostas parecidas...

E agora, descobrimo-nos diante do tempo que nem sabemos quanto nos resta para perguntar, meio perdidos, para onde foi tanto tempo vivido? Para onde foram as lembranças que carregamos nas malas das nossas saudades? O tempo se afastou de nós. Está muito longe. O tempo de hoje, do aqui, do agora dura pouco e o tempo para frente é uma enorme dúvida dentro da vontade de fugir para bem longe, onde o tempo não tem mais nome nem importa se chegamos, se vamos embora no dia seguinte ou se é um lugar onde vamos ficar para sempre...



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