(...) o Doping Eleitoral, por João Carlos Holanda Cardoso



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Se é a melhor das metáforas, sinceramente não sei, mas foi com ela que consegui explicar a um grupo de amigos a gravidade e a extensão da burla eleitoral perpetrada pelo pessoal do Bolsonaro. O escândalo das mensagens de WhatsApp anti-Haddad, já possui definições famosas: “Caixa2doBolsonaro” é a mais conhecida e tornada “trend topic” do Twitter. “Tsunami Cibernético” é a mais recente, proposta por Fernando Haddad, aos jornais de hoje. Mas confesso, humildemente, que a imagem que proponho acima me parece mais precisa para definir o ocorrido. 
A razão é que, ao ler a matéria da repórter Patrícia Campos Mello, na Folha de São Paulo desta quinta-feira acometeu-me um sentimento de raiva, mas também de alívio. Sim, alívio por descobrir que o país não estava completamente maluco; alívio em saber que a enorme votação do Bolsonaro e dos seus partidários não se explicava por um irremediável ódio antipetista; um ódio que eu sabia que existia, mas que jamais imaginara ser tão grande e profundo. A revelação da fraude me acalmou: o ódio latente fora artificialmente aumentado; o antipetismo fora ANABOLIZADO por milhões e milhões de postagens minunciosamente destinadas aos vários segmentos da população do país.
Imediatamente me veio à mente a lembrança de uma das mais famosas fraudes da boa-fé de milhões de pessoas: a final dos 100 metros rasos das olimpíadas de Seul, na Coréia do Sul, em 1988. A história é conhecida e tornou-se um marco do atletismo mundial. Dois dos maiores velocistas da época, eram os favoritos. De um lado, Carl Lewis, americano recordista mundial e herói da olimpíada de Los Angeles, 4 anos antes. Do outro, Ben Johnson, jamaicano\canadense, que se mostrara mais veloz ao longo daquele ano em mais de um momento. Esperava-se uma disputa acirrada entre os dois. O que aconteceu foi surpreendente: Johnson não só venceu com larga vantagem, como cravou novo e incrível recorde mundial. Lewis ficou em segundo e sua cara de assombro na linha de chegada é semelhante ao nosso com a chuva de votos do PSL de Bolsonaro, no primeiro turno. Dias depois se descobriu que Johnson correra dopado. Ele perdeu a medalha e o mundo percebeu o quanto o “MITO” canadense não passava de uma fraude que fora construída, gradualmente, a base de anabolizantes. 

Seul, 1988 também foi palco de um outro fenômeno do atletismo: a velocista americana Florence Griffith-Joyner. Ela formava com Lewis a dupla perfeita do atletismo ianque, mas, diferentemente deste despertava desconfianças quanto ao súbito desenvolvimento físico e facilidade com que vencia as concorrentes. Griffith-Joyner também pulverizou o recorde mundial feminino naquela olimpíada. Ao contrário de Johnson nunca se comprovou dopagem dela que parou de correr naquele mesmo ano. Morreu 10 anos depois de ataque cardíaco, com apenas 38 anos. Especialistas dizem que uma explicação plausível para a morte precoce é a de doping continuado, por anos a fio, com anabolizantes. 
Trinta anos se passaram e sinto que estamos envoltos em meio aos mesmos questionamentos daquela época. Ao que tudo indica Bolsonaro, seus assessores e amigos empresários não só anabolizaram sua campanha com os tais tiros de impulsionamento, via WhatsApp. Eles também doparam milhões de eleitores com doses cavalares de ódio, preconceito e medo do PT e da chapa Haddad\Manuela. É como se Ben Johnson, além de se dopar, tivesse distribuído aos espectadores, ao longo de toda a semana que antecedeu a corrida, milhões de panfletos detratores de Carl Lewis. Este, além de correr em desvantagem física, teria que lidar com os apupos e insultos vindos das arquibancadas. 
Em Seul ocorreu que os juízes puniram exemplarmente Johnson, que jamais recuperou o respeito da comunidade de atletismo. Lewis consagrou-se como corredor excepcional e honesto. Griffith-Joyner saiu-se ilesa. O fato é que Ben Johnson sempre fora um "Bad boy", mal visto por sua arrogância. Pegá-lo no exame anti-doping foi um alívio para aqueles que o viam como uma ameaça à hegemonia da dupla de ouro dos EUA. Griffith-Joyner era claramente um caso de doping que ninguém queria enxergar. O atleta brasileiro Joaquim Cruz, também concorrendo em Seul, foi repreendido, à época, por apontar, em entrevista, a hipocrisia dos juízes em punir apenas Johnson. Resta-nos esperar para saber se o TSE e o MPF brasileiros  tratarão o doping de Bolsonaro como os juízes olímpicos trataram o de Ben Johnson, ou se Bolsonaro será tratado como uma espécie de Florence Griffith-Joyner brasileira, que gozará da conivência dos juízes com sua vida política preservada, pelo menos por alguns anos, ou por alguns meses. Só o futuro dirá.
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