segunda, 26 de maio de 2008
Desde meados de 2007, a taxa de inflação nos países emergentes e no Brasil tem mostrado sinais claros de aceleração. Como uma parte importante dessa aceleração decorre do aumento dos preços dos alimentos, o fenômeno foi, num primeiro momento, debitado por muitos analistas a choques de oferta decorrentes de condições climáticas adversas em diferentes países do mundo. Entretanto, à medida que a aceleração da inflação persistia, tornou-se cada vez mais claro que algo além de choques de oferta estaria presente no cenário.
Diante dessa constatação, passou-se a reconhecer que o aumento dos preços dos alimentos estaria relacionado não apenas a choques específicos de oferta, mas também a um forte crescimento da demanda, cuja origem é o processo de urbanização de países asiáticos muito populosos, como a China e a Índia. Ou seja, como eles têm uma parcela importante da população mundial e estão em forte processo de urbanização que é muito intensivo em alimentos, principalmente proteínas, o crescimento desses países tem gerado forte pressão sobre os preços destes bens.
Porém, ainda que o diagnóstico tenha mudado de choque de oferta para excesso de demanda, persistia a suposição de que esta é uma inflação importada, no sentido de que está sendo originada no exterior e estaria concentrada nos preços dos alimentos. E, da mesma forma que no caso de uma inflação gerada por um choque de oferta, as políticas monetárias internas pouco podem fazer para resolver esse problema. Segundo esta interpretação, este é um processo de mudança de preços relativos, e não um processo inflacionário.
Suponhamos que, efetivamente, a inflação atual seja decorrente apenas do aumento dos preços dos alimentos e das commodities em geral, o que, como veremos, não é estritamente verdadeiro. Alimentos e commodities são parte importante do custo de produção de bens industriais e de serviços, ou diretamente, ou por causa do custo da mão-de-obra. Um aumento dos preços dos alimentos reduz o salário real dos trabalhadores. Se o mercado de trabalho está muito “apertado”, os trabalhadores conseguem repor essas perdas de salário real por meio de reajustes de salários nominais. Os custos das empresas com mão-de-obra aumentam e, caso o mercado de bens (ou de serviços) esteja muito “apertado”, as empresas podem repassar esses aumentos de custos aos preços finais dos bens. Por esse processo, um fenômeno que se iniciou como uma mudança de preços relativos se transforma rapidamente num processo inflacionário generalizado.
Note-se que, no parágrafo anterior, a palavra-chave que transforma mudanças de preços relativos em inflação é “apertada”. E “apertada”, neste contexto, significa que não existe folga na utilização de recursos produtivos, seja máquinas e equipamentos, mão-de-obra ou matérias-primas em geral. A política monetária tem o objetivo de evitar que isso ocorra.
Ou seja, diante do aumento dos preços das commodities, cabe aos bancos centrais “calibrar” a taxa de crescimento da demanda à taxa de crescimento da oferta de bens e serviços na economia para evitar que a mudança de preços relativos se transforme em inflação generalizada. Devido ao diagnóstico equivocado citado do início deste artigo, muitos bancos centrais de países emergentes que seguem o sistema de metas para inflação, da Turquia ao Chile, não apenas não conseguiram manter a inflação próxima do centro de suas respectivas metas, como, em pouco tempo, viram a inflação em seus países furar o limite superior do intervalo de variação perseguido pelo banco central.
O caso do Brasil é particularmente interessante neste contexto. Não há dúvidas que os preços dos alimentos têm sido um fator importante de pressão inflacionária desde 2007. Porém os sintomas de que a economia vive um período de excesso de demanda são bastante eloqüentes. Um primeiro sintoma importante é o fato de que a taxa de variação dos preços dos bens comercializáveis, excluindo alimentos, está rodando na casa dos 2,8% ao ano, apesar da forte valorização cambial do período. Na verdade, em dólares, a taxa de inflação deste conjunto de bens supera 20% no último ano. Um segundo sintoma de excesso de demanda é o forte crescimento das importações, que atingiu mais de 40% ao ano nos primeiros meses de 2008, o que está gerando uma queda do saldo na balança comercial e uma tendência a déficit na conta de transações correntes do balanço de pagamentos. Terceiro, os dados do primeiro trimestre de 2008 têm revelado uma situação na qual os indicadores de demanda têm apresentado sinais de aceleração, enquanto os indicadores de oferta parecem estar mostrando que o crescimento da oferta começa a arrefecer (talvez devido ao fato de que as máquinas, equipamentos e oferta de insumos podem estar atingindo seu limite).
Como resultado deste cenário de excesso de demanda, se expurgarmos do IPCA os preços dos alimentos e os preços administrados, a taxa de inflação que resta está acelerando desde o início de 2007, atingindo o valor de 4% nas últimas divulgações. Ou seja, os preços dos bens não diretamente relacionados a alimentos e commodities estão acelerando há mais de um ano e não existe nenhum sintoma de que tal processo vá arrefecer no futuro próximo. É o começo do processo de transformação de uma mudança de preços relativos em inflação generalizada. E é exatamente para evitar que tal ocorra que o Banco Central do Brasil decidiu iniciar um processo de aumento das taxas de juros em sua última reunião. A expectativa é que, dado o descompasso entre crescimento da oferta e da demanda hoje existente, este processo deverá levar a um aumento significativo da Selic ao longo de 2008. Nem só de “feijãozinho” vive a inflação brasileira.
Artigo - José Márcio Camargo
É bom que as pessoas se informem melhor antes de sair por aí apregoando que a inflação é um fenômeno mundial e que nada pode ser feito
De todos os países que praticam o mesmo sistema de controle e projeção de inflação apena o Brasil e o Canada estão dentro da meta.
ResponderExcluirQuanta incompetência, nã é mesmo?
Vai se tratar Laguardia teu problema é de TOC (transtorno obssessivo compulsivo).
Quem disse que o Brasil está dentro da meta?
ResponderExcluirSofro sim de Transtor Obssessivo Compulsico contra a corrupção, a mentira, o mau-caratismo e a desonestidade do lulopetismo. Com muito Orgulho.
Nenhum governo, anterior a este, fêz algum esforço para combater a fome nesse país, quanto Lula tem feito. Não só com o bolsa-família, criticado pela oposição e por alguns maus jornalistas, elogiado pela ONU,e começando a ser copiado por alguns países, como também em criação de empregos. Já foram mais de 7 MILHÕES e meio de empregos, com carteira assinada, criados nesses últimos seis anos, é recorde em cima de recorde. Qual outro governo, que tenha feito mais esforço para combater a fome do que este atual?
ResponderExcluirAnônimo
ResponderExcluirMemória curta e seletiva. Houve um aumento de consumo de alimentos com a implantação do Plano Real por Itamar Franco.
O Bolsa Família, como indicato no site do governo, foi a unificação de diversos programas de governos anteriores, tais como vale gaz, bolsa escola, comunidade solidária etc.
É bom fazer festa com o chapeu dos outros né?
E com relação a criação de empregos, o que vc me diz???
ResponderExcluirGostaria de lhe responder as duas perguntas juntas.
O que eu digo do aumento do número deempregos. Resultado do programa instituido por Itamar Franco, o Plano Real, e as privatizações.
ResponderExcluirSó a Vale criou milhares de novos empregos e vai criar 60.000 novas vagas até 2012.
Quando for responder as perguntas não se esqueça de informar sobre o
Bolsa Renda, Vale Gas, Comunidade Solidária etc.
Só para te ajudar você vai encontrar um trabalho sobre o Comunidade Solidária no seguinte site:
http://www.ipea.gov.br/pub/ppp/ppp12/parte2.pdf
Preste a atenção que o trabalho é do IPEA
Anônimo
ResponderExcluirNão deixe de comentar esta nota do Ministério de Ação Social e Combate a Fome.
Os Programas Bolsa-Escola, Bolsa Alimentação, Cartão Alimentação e Auxílio Gás não existem mais?
por aline.aguiar —
Última modificação 19/03/2007 - 17:39
Esses programas, chamados programas remanescentes, foram unificados ao Programa Bolsa Família. Portanto, famílias beneficiárias de um ou mais de um desses antigos programas, tiveram seus cadastros transferidos para o Cadastro Único e, aquelas que ainda se encontram em situação de vulnerabilidade, em conformidade com os critérios de inclusão do PBF, passaram a receber o benefício do Programa Bolsa Família. Essa troca foi feita sem que beneficiário perdesse recursos com a mudança de Programa.
Fonte
http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/fc_beneficiario/programas-remanescentes/os-programas-bolsa-escola-bolsa-alimentacao-cartao-alimentacao-e-auxilio-gas-nao-existem-mais