ELIO GASPARI
A PANCADA de 0,75% do Banco Central no aumento na taxa de juros ainda não esfriou e seu presidente, doutor Henrique Meirelles, já está no circuito insinuando uma nova punição para a economia nacional.
Comprou seu forno de microondas?
Sua mulher não precisa mais voltar para o fogão para servir a janta?
Visigodo ignóbil, você está aquecendo o consumo.
Conseguiu um trabalho com a queda da taxa de desemprego?
Ostrogodo inconseqüente, você ofende a racionalidade econômica, abrindo o caminho para um surto inflacionário.
Contra esses bárbaros só há um remédio, subir a taxa de juros brasileira que é, há tempos, a maior do mundo.
Quando o doutor Meirelles retoma o circuito da quiromancia financeira para dizer que a queda do IPCA não é bem uma queda do Índice de Preços aos Consumidor, não está praticando um exercício didático.
Se há um aumento de casos de febre amarela, e o ministro José Gomes Temporão determina o aumento da produção de vacinas, a decisão é neutra.
Quem quer vai ao posto de saúde.
Quem não precisa não vai.
Ninguém ganha dinheiro com isso.
No caso dos juros, Meirelles ameaça com a propagação de uma epidemia que faz a felicidade da turma do papelório que se remunera com a expansão da moléstia.
Admita-se que a alta dos juros seja uma necessidade.
Ainda assim, ela é uma decisão de Estado.
Compete ao presidente da República, não a um funcionário demissível ad nutum. (Ele e todos os çábios do Copom.)
Admita-se ainda que Nosso Guia, emparedado pelo terrorismo financeiro, tenha terceirizado essa atribuição.
Ainda assim, o delegado do papelório não se pode investir no papel de ombudsman da administração pública, punindo a economia por conta de certezas e de dúvidas que são suas, mas que não são dos seus colegas de ministério.
O doutor Meirelles (como seus antecessores) investiu-se de um papel supraconstitucional, como se houvesse dois países, um governado pelos eleitos, outro sob regime de ocupação, disciplinado pelos sábios, com ele no papel de xamã.
O presidente do Banco Central estimula essa bagunça saindo por aí a propagar platitudes.
Por exemplo: "Achamos um pouco prematuro ainda fazer uma previsão da evolução dos preços das commodities nos próximos meses".
Segundo seu horóscopo (ele é de Libra), nesta semana deve evitar mortadela e guaraná.
Assim como se deve desejar que os ministros do Supremo Tribunal só falem durante as sessões da corte, coisa que está em desuso desde que surgiram os juristas-celebridade, seria melhor para todo mundo se o presidente do Banco Central só falasse ao Congresso ou durante as sessões do Copom.
Em abril passado, ao conferir a posição dos parafusos de sua cadeira, Meirelles viu que alguns deles estavam frouxos.
Coisa da vida para quem ocupa um cargo da confiança do presidente da República.
Sua postura recente é a de quem acredita ter pista própria, sem combinar com a federação de atletismo.
Ou, talvez, a de quem quer aproveitar o fim da pista para sair do estádio debaixo dos aplausos da turma do cercadinho VIP.
Nos dois casos, prejudica o bom andamento dos negócios do Estado.
A melhor coisa que poderia acontecer hoje para o Brasil seria Lula demitir o Raposão e nomear Aloisio Mercadante presidente do BC.
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