Falcões do serrismo


Ficou estabelecido por aí, nos ares do tempo, que os petistas abrigam cupinchas, e os tucanos têm assessores; que o PT aparelha, e o PSDB emprega; que um, quando vence nas urnas, põe a democracia em risco; que a vitória do outro exprime a saúde da democracia contra a tara totalitária do primeiro. A lista é vasta…. e tediosa.

A alguns, esses contrastes podem soar simplistas e caricatos. Talvez sejam mesmo. Mas estão na ordem do dia. Tome-se o exemplo ainda fresco das eleições municipais.


Todos sabem, José Serra saiu delas vitorioso. Como grão-tucano, ele tem muitos assessores. Emprega muita gente. Alguns deles -para falar na língua de Delúbio, que os petistas entendem- são auxiliares não contabilizados. Trabalham por amor à causa do governador. Engrossam o Partido do Serra na mídia, de vento em popa rumo a 2010.


Um luminar não contabilizado do serrismo soprou ao governador e ele achou que deveria dizer o seguinte no discurso da vitória, ao lado de Kassab, domingo passado: “Ganharam no Brasil a pluralidade e a diversidade. Perderam o monopólio e aqueles que sonham com o monopólio”. E completou a grande idéia com insinuações sobre o mundo sombrio de George Orwell.


A cascata tucana deu cria. Pululou por jornais e blogs até parar na revista. Ora, a tese de que outro resultado eleitoral ameaçaria a democracia entre nós não passa de delírio reacionário. Qual o perigo? Há pobres demais comendo no país? Desejos totalitários? Mas quem falava em 2006, de boca cheia, em “acabar com aquela raça”?


Afora isso, é fato que o PT sofreu um revés nas urnas, à luz do que esperava. Mas parece precipitado dizer que Lula foi derrotado. O que se viu na campanha foi uma legião, da oposição inclusive, procurando tirar lasca da sua popularidade. Não funcionou em São Paulo.


Vamos repetir: o serrismo saiu da eleição por cima. Mas em uma semana já ofereceu um mau presságio do que ele poderá se tornar nas garras da direita que o parasita.


FERNANDO DE BARROS E SILVA

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