Tipo conhecido
Tal tipo é muito conhecido nosso. Chega a ter grande cultura e imensa preguiça. Passa a vida, sem deixar traço de sua passagem. Quando muito, profere alguns ditos de sobremesa, algumas frases de efeito nas mesas de bar. Nada mais. Lembro-me de, ao chegar a Fortaleza, conhecer, de longe, figura deste tipo. Era professor de variada cultura que era aplaudido, pelos jovens, quando disputava (e perdia) cadeiras na Faculdade de Direito. Morreu e não deixou página escrita que lembrasse sua existência.
Não produzem
Falei que muitos destes que, até acumularam leituras e cultura, não publicam obra, livro que fale desse preparo, por preguiça. Existem, ainda, os orgulhosos. Os inseguros. Que não se arriscam a reunir, em volume, suas criações, com medo da crítica. Não confiam em si mesmo e receiam que os outros percebam que sua leitura era pouca ou insuficiente e a cultura não tão vasta e profunda como se pensava. Aí vivem e morrem em silêncio.
Nada devolvem
Grande número destes talentosos estéreis custou caro à sociedade e ao Estado, que lhes custeou estudos na cidade, fora dela, até no exterior. Não se acham na obrigação de devolver aos contemporâneos um pouco do que receberam, à custa deles.
Produziram
Sempre se falou muito mal de Josué Montello que deixou mais de 100 livros publicados e por isso será lembrado. Temos, em nosso meio Eduardo Campos que chegou a quase 70 de obra vasta na ficção, na pesquisa, na história, na sociologia que, como em toda obra muito grande, há altos e baixos e não podia ser doutra forma. Quem produz, deixa seu recado à posteridade e pode sofrer críticas. Só quem não as recebe são os estéreis, os que nada produzem. De qualquer maneira, sua herança é imortal. Será lembrado por ela.
Reconheço
É claro reconheço deficiências de meus livros. De qualquer maneira, já publiquei mais de 20, inclusive três deles em Portugal. Por conta deles, lá e aqui entre nós, se falará de Sobral, sua saga e sua gente, porque são meus temas obsessivos. Por menor seja meu papel literário, alguém, no futuro, lembrará um jornalista que publicou crônicas, pesquisas históricas, contos e um romance tendo a Princesa do Norte como cenário. Pode não ser a imortalidade, acredito e temo, será, pelo menos uma lembrança.
Lustosa da Costa
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