Sempre que estoura um escândalo como este do Senado, com notícias de malfeitos cometidos desde há muito, pessoas perguntam por que há situações em que a podridão fica visível e outras em que não. É uma boa dúvida. Algumas vezes essa assimetria acaba estimulando teorias conspiratórias. Daí a ideia de que imprensa e jornalistas podem divulgar (ou deixar de) informações conforme apenas a conveniência. Quem conhece sabe que não é bem assim. Especialmente num ambiente competitivo como o atual.
Por que as irregularidades no Senado aparecem agora? Porque o comando político da instituição está dividido. A guerra intestina na cúpula da Casa, que vem da crise na qual Renan Calheiros (PMDB-AL) perdeu a Presidência, transformou a antiga caixa preta numa daquelas caixinhas de transportar animais de estimação em avião. Cheia de buracos. É por eles que vaza o lixo. Que pode se tornar radiativo para suas excelências.
Quando o poder está de acordo no essencial, pode fazer a festa com o dinheiro público num ambiente mais tranquilo. Uma mão lava a outra, e ambas procuram impedir a entrada da luz. Quando os poderosos querem se matar uns aos outros é que a coisa pega, é que as informações ficam acessíveis à opinião pública. Informações que acabam funcionando como catalisador de mais -e mais graves- conflitos. Até que um dia, contabilizados os mortos e os feridos, a cúpula se recompõe.
Por isso, quanto mais avançar a iluminação dos subterrâneos senatoriais antes que as cortinas se fechem, melhor.
Politicamente, em que pé está a crise? O grupo de Renan e do presidente José Sarney (PMDB-AP) ainda mantém o controle da situação política, também porque as liberalidades com o dinheiro do Senado atingem um número grande de parlamentares. A máquina de moer reputações e projetos segue adiante, operando nos bastidores. Quanto mais aberto estiver o leque, mais difícil será a missão de quem pretende pegar uma carona na crise para amputar a cabeça do Senado. Quanto mais envolvidos, mais gente estará interessada em colocar ponto final no processo de corrosão de reputações.
Mas para ter eficácia isso precisa ser feito oferecendo os necessários sacrifícios à opinião pública. Por enquanto, ela não pede necessariamente que alguma das excelências seja levada à pira. Por enquanto, ela se contenta em fritar as -como diria o presidente da República- pessoas comuns. Mas a turma está de olho. Algo de muito sério deverá acontecer. O presidente Sarney vem anunciando que fará uma reforma administrativa profunda na Casa. Do jeito que as coisas vão, precisará ser uma revolução. O Senado terá que fazê-la, antes que a façam por ele. Com explicou ontem da tribuna o senador Pedro Simon (PMDB-RS).
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