Nada mais constrangedor que ouvir, da boca de um senador, passado na casca do alho, pois vem do ministério, do governo ou do mandato de deputado, que nada sabia do que se passava no Senado e que a imprensa transforma, a cada edição, em crime hediondo. Tal inocência, geralmente, dos puritanos e dos que se proclamam éticos, lembra frase atribuída ao presidente da Câmara Ulysses Guimarães, numa tarde de plenário cheio, conversando com experiente parlamentar, Israel Pinheiro Filho. Quando este lhe indagou se havia algum tolo entre os deputados presentes, Ulysses brincou: “O mais bobo aí engana, de 40 a 50 mil brasileiros, de quatro em quatro anos”. Israelzinho concordou: “Besta não chegou aí, virou suplente”.
Surpresa muita
Por isso, surpreendo-me com a proclamada inocência e surpresa de tais pais da pátria. Será que nenhum deles sabia que filha de FHC tinha uma “boca” no gabinete do senador Heráclito Fortes, de sete mil mensais, sem obrigação de comparecer ao trabalho, nem para assinar o ponto? Não há outros familiares de senadores e ex-senadores usufruindo das mesmas regalias? Ignoravam eles que, em lhes faltando euro ou dólar no exterior, podiam apelar para o diretor-geral Agaciel Maia que abriria, mesmo numa manhã de domingo, a agência do Banco do Brasil, para tirar o pai da pátria do aperto em Paris, esquecendo-se de cobrar, no retorno do viajante, os dez mil euros emprestados?
Por que não?
Se estes éticos de araque sabiam de tais ocorrências, em torno de que a mídia arma escândalos diários, por que não as denunciaram à presidência? Ou à opinião pública, através da tribuna parlamentar? Ou são tão inocentes que achavam que era melhor ficarem calados e não se incompatibilizarem com os colegas?
A culpa é do Sarney
Por isso, surpreende a quem ler os jornalões os pecados do Senado que tem um único responsável, um só culpado, o senador José Sarney. Sozinho, sem ajuda de ninguém, era autor de todo o mal feito, sem, sequer, pedir o apoio de outros membros da mesa que não entendo até agora porque não protestavam, não denunciavam? E o puritano Tião Viana, em quatro meses em que foi presidente, não percebeu nada? Se percebeu, por que não botou a boca no mundo, não levantou o escândalo?
Claro
Fica bem claro que esta é campanha da mídia, interessada em tanger o PMDB puro de Orestes Quércia para a candidatura de José Serra à presidência, - se este for candidato, - tisnando de corrupto o PMDB do senador José Sanery. E não interessa a ninguém. Os jornalões registraram que houve duas reuniões públicas, convocadas para pedir a renúncia do presidente Sarney do comando do Senado. A do Rio contou com a presença de 30 populares. A de São Paulo, de 70, incluindo transeuntes, que estavam passando. Sinal claro de que a opinião pública não está dando a menor pelota ao que diz a imprensa, sempre a favor do tucanato.
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