Plantar e não colher

Nada mais fácil do que o chavão de repetir que, tivéssemos de viver de novo, repetiríamos tudo. É certo que muitas coisas não faríamos, outras acrescentaríamos e outras nem uma coisa nem outra. Com o passar dos anos, a gente melhora. Perde-se em vigor, ganha-se em saber. 


Os desenganos, as esperanças modestas, as ambições, as vaidades e as paixões têm o realismo do conhecimento do funcionamento do tempo, da vida. Porque é bíblica e sagrada a certeza de que há tempo de semear e tempo de colher. (Machado dizia que matamos o tempo, e o tempo nos enterra) É possível que o tempo de colher seja mais glorioso. Mas é o tempo de semear que determina o que se vai colher. 


A mim me coube plantar e poucas vezes colher. Burrice, talvez. Há frustração maior do que plantar e não colher? Até Cristo, quando olhou aquela videira sem frutos, que Ele não plantara, lançou a maldição: "Teus galhos secarão". Demorei a aprender o que é o tempo e saber que é dele que se faz a vida. O que é a paciência senão a virtude de saber esperar? Não com o sentido de reparar injustiças ou desejos de esquecer o passado, mas de ver os fatos com o sabor da experiência vivida. De ser humilde ao olhar erros, de aprender, de poder emitir conceitos e de ter a consciência de que muitas vezes podemos estar errados.
Hélio Passos

Nenhum comentário:

Postar um comentário