A. CAPIBARIBE NETO
Portas se abrem e se fecham
Portas se abrem e se fecham. Para isso foram feitas. Abrem-se para os fiéis de qualquer fé, para o viajor cansado, para o visitante bem- vindo, para o abraço da volta. Portas se abrem para as surpresas que nos fazem perder o fôlego ou para o arauto das notícias ruins. Portas se abrem para a primeira chegada, para o retorno ansiado, para a cobrança do que quer que seja, para mil coisas. E também se fecham. Fecham-se para quem mandamos embora , para o que escolheu ir embora, para determinar o limite de uma separação, por conta de uma mudança, para o que morreu e deixou saudades. Portas de casas, dos templos, onde se faz uma oração ou dos templos do amor, onde se fazem as mais sublimes confissões de uma paixão louca, sem nome ou com o nome que pressupomos eterno. Portas separam ou esperam. Portas grandes, enormes, modestas, escondidas, cúmplices, coniventes, bem talhadas, lisas, cheias de bossas ou fricotes. Com número ou sem número. Portas simples, modestas, abertas ou fechadas... Sentou-se ali, do meu lado e perguntou se podia ficar. Sentia-se só na sua tristeza, na sua vontade de desabafar, de contar sua história, de aliviar-se da dor como soer doem as coisas do coração. "É a velha história de sempre. Bem sei que tudo na vida tem um começo, um meio e um fim. A gente nunca lembra como ou quando tudo começou, quando uma porta se abriu, mas seguramente nunca esquece quando ela se fechou e nos deixou, como única alternativa, fazer um caminho de volta, encaixotando lembranças, arrumando um lugar para amontoar as saudades que logo se fazem presentes. A porta se fechou e é preciso um mínimo de amor próprio para não ser o insistente chato a bater em nome de uma desculpa qualquer só para ser recebido. O ruim é se acostumar a ficar do lado de fora..." Do lado de fora de onde? - perguntei. "Dos abraços, dos beijos, das confissões sussurradas, das promessas feitas sobre os lábios, enquanto as peles se fundiam nos suores perfumados das loucuras dos amantes" - respondeu. A vida é um jogo, meu amigo. Quando a gente se posta diante das mesas de qualquer desafio, é preciso estar preparado e aceitar as regras. Um dia de cada vez, como se fosse o último. Ontem, meu caro, já passou. Não existe nenhuma força com nenhum poder capaz de mudar qualquer de um simples segundo que ficou para trás. Amanhã..., bem, amanhã não chegou ainda e quando chega pode vir carregado de surpresas, sejam elas boas ou ruins. Hoje, é diferente. Hoje é aqui e agora e cada um deve saber fazer acontecer, se não, corre o risco de ficar vendo o tempo passar. O tempo, meu amigo, é como as marés: não espera por ninguém. As portas que se fecham, sejam elas de uma casa simples ou de um palácio, de um templo ou de uma cabana, podem ser abertas outra vez. Não é uma coisa definitiva, não é coisa do tipo para sempre e por mais tempo que tenham ficado fechadas, quando se abrem a gente pode entrar, limpar a poeira, organizar a bagunça do abandono. No seu caso, porém, é diferente. A porta à qual você se refere, é de um sentimento, é a porta do coração e essa não tem fechadura ou dobradiças, não range, e quando ela se fecha, é para sempre...
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