Odiar é fácil, assim como fazer o mal, complicar a vida, principalmente a dos outros. Intrometer-se, denegrir imagens alheias só para satisfação pessoal é tudo muito fácil, porque a matéria -prima é a falta de caráter, é a peçonha correndo nas veias no lugar do sangue, é a predominância do espírito ruim. Destruir é sempre muito fácil. Qualquer idiota sabe quebrar, qualquer imbecil sabe sujar, prejudicar, ser mal educado, descortês. O contrário de tudo isso requer uma coisa simples chamada bondade! De espírito, de coração, de corpo e alma. Requer criação, coisa de berço; requer um guia, um tutor, um professor, um amigo. Antes que paire no ar a pergunta sobre o mote desta crônica, vou logo respondendo: foi a lembrança de uma história de amor que me foi contada por um amigo que lê as minhas crônicas. Na sua triste narrativa, ele resumiu a despedida que, como sempre, foi consumada na moldura de uma tristeza imposta, um adeus obrigado pelo autoritarismo dos cabrestos familiares autoritários, ditatoriais. "A gente luta contra o que sabe, quando o inimigo mostra a cara, quando apresenta razões claras, cores definidas, cheiros identificáveis. Porque quero nunca foi uma explicação, muito menos uma justificativa - disse-me. E seguiu... Estava cansado de tantos caminhos percorridos, de tantas estradas esburacadas, de tantas pedras, becos, vielas. Minhas avenidas iluminadas foram bem poucas e a vida, meu amigo, é como as marés e o próprio tempo, não esperam por ninguém..." E aí, como foi que acabou a história? - perguntei. "Disse a ela que estava cansado, que já não tinha mais forças, e aí pedi uma cerveja bem gelada para ela e nem sei quantas dose s de uma caninha das boas. Por um instante, ela ficou silente, respirou fundo, como se tivesse deixado seu corpo ser tomado pela enorme tristeza de nós dois e engoli um soluço pesado, enquanto duas lágrimas se debruçavam sobre seu rosto de pele de pêssego. Sem ligar para os circunstantes daquele bar de periferia, perguntei se ela queria dançar..." - Aqui? Que música é essa?" Era um bolero, Besame mucho! "Não quero pagar mico. Você é doido!" Pode ser, mas as minhas bobices, as minhas loucuras é que vão lhe fazer companhia por muito tempo. "E qual é a tradução?" E no meio de uma dessas noites preguiçosas, por conta das maldades do mundo, de gente que não se contenta com a felicidade alheia, abracei-a como se nunca mais fosse largá-la e fui dizendo baixinho ao ouvido dela: "beija-me, beija-me muito, como se fosse essa noite a última vez. Beija-me, beija-me muito, porque tenho medo de perder-te depois. Quero ter-te muito perto, olhar nos teus olhos, ter-te junto a mim, pense que talvez amanhã eu vou estar longe, muito longe de ti..." - e nos abraçamos e choramos juntos, entre um beijo e outro, no adeus!
A. CAPIBARIBE NETO
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