Claudio Lembo
Os países desta América do Sul sempre foram desconsiderados no jogo político internacional. Alinhavam-se automaticamente a países centrais e abandonavam suas posições e interesses.
O fenômeno refletia a presença dominante de descendentes de europeus nos espaços privilegiados da administração pública. Entre os países hispanofalantes, os descendentes de espanhóis e os “criollos” eram dominantes.
Toda a política girava em torno de suas pessoas e, por elas, era dirigida. As nações indígenas eram marginalizadas e, quando possível, exterminadas. Ficavam submersas em zonas miseráveis e exploradas sem limites.
Por toda a América do Sul, as lutas populares foram intensas e dominadas por meio da força. Quando necessário, governos lançavam-se em guerras contra Estados vizinhos, na busca de um derivativo.
Com os conflitos exteriores, o nacionalismo tornava-se uma força incontrolável, mas frágil em termos de busca de soluções para as questões efetivas que atormentavam as populações.
Este mesmo nacionalismo frágil incentivou, muitas vezes, ódio contra o vizinho, mesmo que este se preserva em absoluta passividade. Ódios artificiais foram criados.
Argentinos e chilenos se enfrentaram. Peruanos e chilenos terçaram armas. Bolivianos e paraguaios combateram. Paraguaios e brasileiros lutaram. São algumas recordações melancólicas do passado desta América do Sul.
Alguns destes conflitos foram incentivados por poderosos interesses econômicos de empresas mineradoras ou transportadoras de produtos primários.
Outras vezes, os governos dos países desenvolvidos agiam mediante boicotes e violação de trados internacionais. Sempre mediante o uso da força ou da ameaça de seu uso contra os povos sul americanos.
As chancelarias europeias e muitos governantes do hemisfério norte procuravam na busca de efetiva dominação, lançar países contra países, tornando a América do Sul área de instabilidade.
Com a instabilidade surgia a insegurança e com esta a ausência de investimentos duradouros. Tudo era extrativismo de produtos primários com a utilização dos povos locais até a inanição.
Ditaduras perversas subjugavam as sociedades e vedavam qualquer espaço de participação as cadeias se encontravam repletas de adversários dos regimes ditatoriais.
Estes, por seu turno, obedeciam fielmente às diretrizes dos que contavam com interesses econômicos a serem protegidos contra os riscos da nacionalização das riquezas.
Surgiram os movimentos de democratização. Tardios, é verdade. Somente no passado Século XX, após regimes de extrema violência contra os direitos humanos, a situação começou a se alterar.
Com a queda das ditaduras, os povos sul americanos puderam dialogar sem preconceitos ou tolas concepções guerreiras ao estilo europeu. Os estrategistas já não examinavam cenários de futuros combates.
Os exércitos deixaram de se municiar prevendo futuros embates militares. Tratados comerciais substituíram acordos bélicos. As armas atômicas foram abandonadas, em acordo que honra a argentinos e brasileiros.
Pequenas rusgas comerciais são resolvidas em mesa de negociação, apesar de aparências enganadoras de profundo conflito. Os governantes da América do Sul apreenderam, com seus povos, a dialogar.
Este ambiente pode servir de exemplo para outras regiões. Os povos devem utilizar a diplomacia para afastar polêmicas profundas ou conflitos desnecessários.
A indústria da guerra é nefasta. A utilização da confrontação bélica, entre povos com os mesmos problemas e as mesmas origens, é no mínimo doentia.
Os países sul americanos devem continuar a operar reuniões continuas de seus lideres em organismos criados, neste espaço geográfico, com este objetivo. Nada de agressões verbais.
Estas não levam a nada. Só causaram transtornos no passado. Serviram àqueles que desejam dominar a América do Sul. Seu progresso, no entanto, exige união e ausência de quaisquer agressões.
Nosso sangue é comum.
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