Carlos Brickman – Observatório da Imprensa
Comecemos com uma opinião pessoal: este colunista é contra a construção de um estádio com verbas públicas em São Paulo. Primeiro, porque o estádio, para dar retorno ao investimento, precisa ter administração privada, e não é correto gastar dinheiro público numa obra para entregá-la a empresas particulares que poderiam levantar recursos próprios para construí-la; segundo, porque os organizadores da Copa no Brasil garantiram que não haveria necessidade de dinheiro público para realizá-la. E eles devem estar ansiosos para manter sua palavra.
Mas já está cansando o lengalenga dos jornais e das associações de bem-pensantes contra o uso de dinheiro público num estádio de futebol. Eles até podem ter razão, mas pelos motivos errados: o problema é que acham que dinheiro público não pode ser gasto em atividades que divirtam pobres. Pobre não precisa de lazer, de diversão: apenas de ônibus e metrô, para que não perca o horário de serviço, e de hospitais, para que possa voltar ao trabalho mais rapidamente.
Este colunista pesquisou editoriais e manifestos empresariais da época em que o Governo paulista reformou uma antiga estação de trens e a transformou numa magnífica sala de concertos, a Sala São Paulo. Não há críticas, não. Nem à montagem de uma excelente orquestra sinfônica, orgulho nacional. São Paulo precisa, como maior cidade do país, de boas salas de concertos, de boas orquestras. Mas a argumentação é a mesma que pode ser utilizada para construir um bom e moderno estádio de futebol, capaz de atender também a outros eventos de massa.
E a quem serve a Sala São Paulo? A quem serve a Sinfônica de São Paulo? A um grupo relativamente pequeno de pessoas de classe média alta para cima, capaz de pagar caras assinaturas por um belo concerto semanal (e que, embora altas, não cobrem as despesas, exigindo subsídios estatais – desses, os bem-pensantes não falam). Ao contrário do que acontece com grandes orquestras européias, não há em São Paulo concertos gratuitos ao ar livre. Vá ao YouTube, procurando André Rieu: o maestro holandês comanda grandes espetáculos gratuitos ao ar livre, fascinando multidões. Será que só na Europa isso é possível?
Este colunista é contra a construção de um estádio com recursos públicos, como já disse. Mas não podemos argumentar que um estádio custa “x” casas populares e esquecer que outras atividades de lazer e cultura também podem ser medidas assim. Até porque, nos dois casos, a medição estará errada.
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