O noticiário nacional nem sempre reflete os fatos econômicos favoráveis registrados nas regiões desvinculadas do hegemônico Centro-Sul. Por isso, há pouca divulgação, em termos nacionais, quando a produção industrial do Ceará registra o maior crescimento, no País, como ocorreu em agosto passado, comparado com igual período de 2009.O avanço de 17,4% situa-se bem acima da média nacional, de 8,9%.
Na economia frágil do Ceará, sujeita a variáveis diversificadas, o incremento da produção, de 16,6%, entre janeiro e agosto, em relação aos mesmos meses do ano passado, representa um grande esforço de seus empreendedores. Em igual faixa de tempo, a expansão brasileira só conseguiu alcançar 14,1%. O feito do Ceará, longe de ser um fato isolado, representa o sexto maior avanço em relação às 14 regiões levantadas pelo IBGE e integrantes de sua Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física Regional.
Esse desempenho positivo tem igual repercussão quando se projeta para todas as regiões geoeconômicas analisadas, demonstrando, assim, não ser apenas fato isolado de um ou outro segmento industrial. Os outros Estados com aquecimento na produção de agosto foram o Pará (2,4%), Rio de Janeiro (1,6), São Paulo (1,3%) e Santa Catarina (0,1%). Em nove outras regiões houve recuo acentuado.
Para os especialistas, o fato denota a inserção da indústria do Ceará num ciclo ascendente, iniciado desde o ano passado, embora variando para maior ou menor, conforme os fatores sazonais. Esse desembaraço da indústria não é um fenômeno isolado. Reflete a expansão econômica como um todo, na qual o segmento industrial representa 25% de seus resultados. Como tem de ser vista no contexto estrutural, comprova-se assim um estágio econômico em ascensão.
Pelo estudo mensal do IBGE, o crescimento econômico de 17,4% resulta da contribuição ascendente do setor de alimentos e bebidas, com 36,6%, em face do aumento da produção da castanha de caju e de refrigerantes. Outras participações surgiram dos setores de máquinas, aparelhos e materiais elétricos, com 208,9%, decorrentes dos avanços na fabricação de transformadores. Calçados e artigos de couro concorreram com 9%; e produtos químicos, com 13,9%.
Esse dinamismo incomum registrado na indústria foi desencadeado, também, pela fabricação de tintas e vernizes e pela indústria da construção civil. Além do mais, houve aumento acentuado no consumo interno de alimentos e no volume de exportações para a União Europeia, retomando uma tendência constante registrada bem antes da crise econômica internacional já superada.
O Ceará tem ainda muitos desafios pela frente para elevar, cada vez mais, sua estrutura econômica em bases sólidas. Para tanto, isso irá depender do comportamento da economia nacional, com a superação de alguns obstáculos intransponíveis, até agora, como a retomada de uma política cambial capaz de assegurar o crescimento das exportações, a elevação da cotação do dólar e a estabilização do real sem o artificialismo de sua valorização exagerada.
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