Na sua última visita o Lula acabava de ser eleito pela primeira vez, mas ainda não tinha sido empossado. As perspectivas não eram boas. Empresários preparavam-se para fugir em massa do país se suas piores conjeturas sobre o PT no poder se confirmassem. Banqueiros tremiam, temendo estatização sem indenização. Donas de casa escondiam a prataria. Anunciavam-se anos de privação e sacrifício sob o socialismo iminente.
Oito anos depois o MH volta e, para começar, não encontra vaga para estacionar a sua nave. A movimentação de Natal nas ruas e nas lojas é tamanha que o deixa transtornado. Onde está? Certamente não na Grande Cuba preconizada oito anos antes.
MH entrevista pessoas na rua com seu português de novela, aprendido nas ondas da TV, e descobre que a maioria está contente, está empregada, teve dinheiro ou crédito para as compras e julga que as coisas vão melhorar ainda mais.
— Quer dizer que, qui, il socialismo ha funzionato? — pergunta MH, com sotaque do Tony Ramos.
— O sociaque?
A perplexidade de MH aumenta. O Lula foi deposto, será isso? O PT não conseguiu implantar seu programa, a reação venceu e o Lula foi corrido do governo. Que nada, lhe informam. Lula ficou oito anos e ainda escolheu sua sucessora. Sucessora?! Sim, uma mulher. Dilma, ex-ativista política, ideologicamente mais à esquerda do que Lula e que, todos esperam, só completará o seu trabalho de consolidação do capitalismo no Brasil. A esta altura MH decidiu que precisava de um drinque. Entrou num bar e pediu "Amoníaco. Duplo!".
Sempre impressionou muito ao MH a quantidade de siglas de esquerda na política brasileira. Em nenhum outro lugar do mundo há tantas graduações de "esquerda" para se escolher, e tantas já chegaram a ser governo, com ou sem coligações, sem que isto afetasse muito o conservadorismo dominante.
MH pretende desenvolver uma tese, na viagem de volta ao seu planeta. A esquerda brasileira é estilhaçada desse jeito de tanto bater na cidadela do poder real sem conseguir penetrá-la. É uma tese complexa, mas a viagem é longa.
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