Porque um documentário sobre a formação de atletas em Cuba

Apesar dos limites econômicos, não há paralelo em investimentos nos esportes associados a saúde



Veja também o rascunho da proposta de abertura do documentário, clicando em http://www.youtube.com/watch?v=FnPU00j8AEY

Alunos-atletas que se destacam nas escolas básicas são
selecionados para as escolas superiores de alto rendimento, desde os 10

 anos de idade,  onde estudam em regime de internato e,
além das aulas curriculares,  treinam 4 horas por dia

 

Cuba é uma ilha cercada de esportes por todos os lados. Ou Cuba é uma República federativa de esportes. Exageros à parte, as duas definições cabem muito bem nesse país caribenho de 11 milhões de habitantes, que emergiu na década de sessenta como a maior potência olímpica da América Latina – e uma das maiores do mundo - , apesar do impiedoso bloqueio econômico comandado pelos Estados Unidos, que a obriga a racionar seus alimentos básicos desde 1961. A transformação de Cuba num arquipélago de escolas voltadas para o esporte e de ensino esportivo em centenas de praças se deu dentro do conjunto de medidas para criar "o homem novo", incorporando a ele uma capacidade de resistência provada ao longo de meio século. Antes de ganhar sua primeira medalha em jogos olímpicos nesse novo ambiente, em 1964, o país que também investia o que tinha e o que não tinha no crescimento cultural de sua população, já não lembrava o que era um troféu: o último em competições olímpicas mundiais fora ganho em 1904, em Saint Louis, nos Estados Unidos. Fora dessa competição, só em outra conseguira duas minguadas medalhas – 1900, em Paris. Para que Cuba pudesse exibir hoje o número recorde de 187 medalhas, contando apenas as conquistadas em jogos olímpicos mundiais, o governo revolucionário tomou uma decisão de natureza defensiva – utilizar o esporte como primeira terapia preventiva na área da saúde. 


Em 1961, quando criou o seu instituto nacional de esportes, Cuba sofria com a emigração para os EUA de mais da metade dos seus 6 mil e 500 médicos, que faziam parte de uma elite voltada para a clientela privada.


Enquanto buscava ajuda em profissionais da América Latina e redirecionava a sua medicina – hoje respeitada no mundo inteiro – Cuba teve que fazer um criativo dever de casa. Pelos cálculos dos Estados Unidos, a que estava atrelada desde a independência no final do século 19, a ilha rebelde não resistiria a cinco anos de bloqueio implacável. Toda sua atividade econômica tinha como matriz o vizinho do norte e não haveria como sobreviver racionalmente com o corte de seus suprimentos.


Passados 50 – e não 5 anos – a ilha teimosa se apresenta ao mundo com índices de saúde superiores, em alguns casos, aos das grandes potências, com um padrão educacional de primeiro mundo e com a exuberância de seus triunfos nas praças de esportes. Isso, apesar de apertos monumentais, como os que se seguiram ao colapso da União Soviética e do bloco socialista que funcionavam como válvulas de escape providencial. Foi a compra de petróleo na Rússia, a partir de 1961, que garantiu o seu suprimento, ante o boicote norte-americano. Em 1989, 85% do comércio exterior cubano se processava com o bloco que desmoronou com a "Perestroika" de Gorbachev e o muro de Berlim.


Com a mudança brusca nos países socialistas da Europa, em 1989, Cuba teve que adotar medidas excepcionais a partir de setembro de 1991, que incluíam apagões de até 14 horas diárias e a compra de 1 milhão de bicicletas na China. Um mês antes, em agosto de 1991, como estava compromissado, Fidel Castro recebeu 4 mil 119 atletas para os 11º Jogos Pan-Americanos, que deram prejuízo à já combalida economia cubana, devido ao boicote comandado pelos EUA, que queriam mudar a sede. As redes de televisão e poderosos patrocinadores não tomaram conhecimento do evento, em que Cuba surpreendeu mais uma vez, ao classificar-se em primeiro lugar, com 265 medalhas – sendo 140 de ouro – superando os Estados Unidos, que obtiveram 130 medalhas de ouro entre as 352 conquistadas. Nessa competição, o nosso Brasil ficou em quarto lugar, com 21 medalhas de ouro entre as 79 conquistadas. 


No ano seguinte, ainda sob o impacto das mudanças no leste europeu, Cuba confirmou sua performance, apesar das medidas de restrição impostas pelo período especial: classificou-se em 5º lugar nos 25º jogos olímpicos em Barcelona, obtendo 31 medalhas, entre as quais 14 de ouro. Ficou atrás apenas do bloco de países da antiga União Soviética, que ainda disputaram como se fossem uma única nação, dos Estados Unidos, da Alemanha unificada e da China, desta por duas medalhas de ouro. Nessa competição, o Brasil, segundo país latino-americano na ordem de classificação, ficou em 25º lugar, com apenas duas medalhas de ouro e uma de prata. México e Peru obtiveram uma medalha de prata; Argentina e Colômbia, uma de bronze.


Na 12ª edição dos jogos pan-americanos, em 1995, na cidade de Mar Del Plata, Argentina, Cuba confirmou seu poderio olímpico, ao classificar-se em segundo lugar com 112 medalhas de ouro, de um total de 238. Os anfitriões ficaram em quarto, com 40 ouros, somando ao todo 159. O Brasil ficou em sexto, com 18 ouros, de um total de 82 medalhas.


Em 1996, nos jogos olímpicos de Atlanta, mesmo em meio ao sacrifício, Cuba manteve-se como o país latino-americano melhor posicionado. Classificou-se em oitavo lugar, com 9 medalhas de ouro, de um total de 25. O Brasil ficou em 25º lugar com 3 medalhas de ouro de um total de 15, mantendo-se como o segundo latino-americano. Equador e Costa Rica tiveram uma medalha de ouro. Os demais do continente ficaram na rabeira.


Cuba confirmou sua liderança latino-americana nos jogos pan-americanos de Winnipeg, Canadá, em 1999, colocando-se em segundo lugar à frente dos anfitriões; nas olimpíadas de Sidney, Austrália, em 2000; no pan-americano de Santo Domingo, em 2003; nas olimpíadas de Atenas, em 2004, no pan-americano do Brasil, em 2007. Nas olimpíadas de Pequim, em 2008, com uma delegação reduzida, teve apenas 2 medalhas de ouro, contra 3 do Brasil, somando 11 de prata e 11 de bronze, contra 4 de prata e 8 de bronze, do Brasil.
A superação das dificuldades é acrescida de outro elemento de pressão: formadas por amadores, nos quais o Estado investe desde lactantes, as equipes cubanas são rotineiramente assediadas por empresas especializadas na sedução dos seus atletas. Aqui, nos jogos pan-americanos de 2007, dois boxeadores cederam a uma promessa de contrato de uma empresa alemã e, mais recentemente, em 2009, quatro jogadores de basquete pediram asilo na Espanha após um amistosa nas Ilhas Canárias, expediente totalmente fora de propósito, porque nenhum deles sofria perseguição política em seu país – antes, pelo contrário: o que eles almejavam mesmo era faturar muitos dólares por conta do que aprenderam a custo zero em seu país.


Conhecer por dentro a saga dos desportistas cubanos não foi difícil. Independente da abertura que se desenha a partir dos últimos três anos, viajar a Cuba é tão fácil como visitar uma cidade brasileira. Qualquer um pode pegar um avião e comprar o visto de entrada por 20 dólares no último aeroporto de embarque para a Ilha. A própria companhia aérea vende o tíquete. Se você esquecer, não tem problema: pode obter o "visto" no Aeroporto de Havana, pagando a mesma taxa.


Daí para ter acesso aos centros de formação de atletas não há mistério, até porque a maioria deles, como na gigantesca Cidade Desportiva de Havana, muitos treinamentos são realizados em espaços abertos.


Mas foi o conhecimento das entranhas do mega projeto esportivo cubano que me permitiu oferecer aos brasileiros e ao mundo o conhecimento dos segredos de uma verdadeira fábrica de campeões olímpicos.


Com esse documentário, ficam as autoridades e povo brasileiro sabendo que poderão fazer bonito nas olimpíadas de 2016, desde que concentrem investimentos na formação de nossos atletas. Afinal, a cada competição internacional, o Brasil tem registrado avanço, apesar da ausência de um projeto estratégico de esportes em nosso país. 

 


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