Cultura

[...] aquilo que é nosso

A partir de amanhã, o seminário Cultura em Debate, promovido pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, discute perspectivas e realidades em torno do patrimônio material e imaterial da cidade
Ao falarmos em patrimônio da cidade ou do Estado, logo associamos o termo a prédios antigos, lugares históricos e edificações tombadas. Contudo, pouco se sabe, de fato, o que é um bem tombado, qual a importância de se eleger patrimônios locais e quais os critérios utilizados na escolha desses lugares, pessoas ou práticas

Diante das significativas mudanças que a cidade de Fortaleza vem sofrendo, em função, sobretudo, da escolha da Capital como uma das sedes da Copa 2014, este aparenta ser um momento crucial para discutir a importância de se preservar o que é nosso, aquilo que conta a história da nossa sociedade. 

A partir de amanhã, pesquisadores, autoridades públicas e membros da sociedade se reúnem no “Seminário Fortaleza Cultura em Debate”, encontro cujo tema central será o patrimônio: planejamento urbano, políticas culturais de incentivo, educação patrimonial para a sociedade e desenvolvimento socioambiental são alguns dos assuntos postos em pauta. O evento, promovido pela Secretaria de Cultura de Fortaleza, a Secultfor, acontece no auditório do Centro Cultural Dragão do Mar.

Gestão popular
Um dos temas em questão durante o evento será a importância da participação popular. Sobre isso, desde abril de 2008, uma lei que normatiza os mecanismos de proteção ao patrimônio de Fortaleza considera imprescindível a atuação da sociedade para a preservação dos bens. 

Assim, os cidadãos não apenas têm o dever de mantê-los, mas também o direito de fazer pedidos de tombamento. Para o mestre em Patrimônio Cultural pelo Programa de Especialização em Patrimônio (PEP/Iphan), João Paulo Vieira Neto, mais do que o tombamento por decreto, são necessárias ações que sensibilizem a população, promovendo o que se entende como uma educação patrimonial.

“Ao invés de envolver as populações nos processos, o poder público, geralmente, age de forma isolada. Isso causa um problema porque, algumas vezes, se impõe aos cidadãos a importância de um bem que não é sequer conhecido por eles. É necessário, portanto, que se faça uma consulta para que as pessoas possam indicar quais os bens que devem ser preservados”, diz.

João Paulo é um dos integrantes da segunda mesa redonda do evento “História, Memória e Educação Patrimonial”, que se inicia às 14h de amanhã. Coordenador do projeto Historiando, João Paulo foi requisitado pela Prefeitura para prestar consultoria acerca de dois museus comunitários que o governo municipal pretende criar, no Titanzinho e no Projeto Vila do Mar. 

O Historiando deverá justamente formar os cidadãos em noções de educação patrimonial, sensibilizando-os a gerir os museus de suas comunidades. O projeto é conhecido, entre outros, por ter-se envolvido no movimento popular que culminou no tombamento da Estação Rodoviária da Parangaba. A Estação seria destruída para a construção do Metrofor, mas foi mantida por pressão dos moradores do bairro. Segundo João Paulo, o fator preocupante das mudanças impostas pela Copa é a pressa em cumprir os prazos, que dificulta a consulta popular. “As obras estão com um prazo tal que não entra no cronograma perguntar para a sociedade a relevância dos bens que serão destruídos ou danificados no processo”, alerta o pesquisador. 

Valor do povo
Outro assunto importante na pauta do debate será a reflexão acerca dos bens imateriais. Para o ex-coordenador da Coordenação de Patrimônio Histórico-Cultural da Secultfor, André Aguiar, a divisão de patrimônios em materiais e imateriais já não comporta as estruturas e os fenômenos sociais, que devem ser resguardados pela sociedade. Em Fortaleza, o único bem imaterial tombado é a celebração religiosa da Igreja de São Pedro, conhecida como Igreja dos Pescadores, no Mucuripe.

Durante o seminário, André participa da última mesa “Políticas públicas e preservação do patrimônio cultural”. Nela, o pesquisador deve comentar as experiências das quais participou enquanto coordenador da CPHC e discutir o que atualmente tem sido seu projeto de doutorado: o tombamento da paisagem do Titanzinho. 

Ainda sobre isso, João Paulo, do Historiando, ressalta uma perspectiva importante: “Muitas vezes, protege-se bens das elites em detrimento dos populares. Casas de sobrado ao invés das casas operarias, igrejas em detrimento dos terrenos de umbanda. Certas comunidades podem não ter construído edificações imponentes, mas possuem ricas tradições, que merecem a preservação total”.

O evento segue durante todo o dia de amanhã e continua no dia seguinte. O prazo das inscrições encerra hoje. Para mais informações, basta consultar o site da Secultfor http://www.fortaleza.ce.gov.br/cultura . 

Fique por dentro
Bens de Fortaleza
Muitos fortalezenses desconhecem os bens materiais e imateriais da cidade. Na Capital, os decretos de tombamento começaram na gestão de Maria Luiz Fontenele, em 1986. Atualmente, há ao todo 15 patrimônios tombados em caráter definitivo e 13 provisórios. Dentre os mais conhecidos estão o Estoril, da Praia de Iracema, e a Ponte dos Ingleses. O que muitos não sabem é que os espelho de água das lagoas da Messejana e da Parangaba também são tombados, além do riacho Papicu e de suas margens.

Patrimônio em debate
Amanhã
8h às 9h30 – Mesa 1: Planejamento Urbano e Política Cultural: Avanços e Perspectivas, com Paulo Ormindo de Azevedo (Arquiteto, Professor da Universidade Federal da Bahia) 

9h45 às 11h15 – José Ramiro Teles Beserra (Arquiteto, chefe do escritório técnico de restauração Icó e Aracati) 
11h15 às 12h – Intervenções do público

12h às 14h – Almoço 

14h às 15h30 – Mesa 2: História, Memória e Educação Patrimonial, com João Paulo Vieira Neto (Mestre em Patrimônio Cultural e Coordenador do Projeto Historiando – Fortaleza)

15h45 às 17h15 – José Ricardo Oria Fernandes (Doutor em História da Educação pela Universidade de São Paulo e consultor legislativo da Câmara dos Deputados em Educação e Cultura)

17h15 às 18h – Intervenções do público 

Mayara de AraújoRepórter

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