[...] Um governo ou dois?
A presidente Dilma Rousseff chega aos 100 dias em boa situação nas pesquisas, com extenso apoio no Congresso Nacional e beneficiária da torcida. No mundo político, quem não está na situação quer entrar. Ou pelo menos ficar de bem.
A oposição? Por enquanto vai entretida no debate sobre como fazer oposição. Que é também uma maneira de não fazer. De empurrar com a barriga.
Tudo estaria bem, não fosse um detalhe. O governo encontra dificuldade para transmitir confiança na condução da economia.
Ainda não parece ter contaminado a popularidade, pois o crescimento segue e a inflação apenas ensaia o sprint.
Mas algo não vai bem.
O governo vinha sustentando a relação dólar/real nos 1,65-1,70. Para não agravar ainda mais as exportações e as contas externas, já amplamente deficitárias e dependentes da injeção maciça de investimento externo.
Mas nos últimos dias parece ter cedido à tentação habitual das duas últimas décadas: usar o real forte para conter os preços internos.
O que ameaça abrir uma rachadura e tanto na administração.
Do BNDES e dos ministérios “não monetários” a grita vem forte. Mas no lado que se convencionou chamar de equipe econômica a preocupação central voltou-se para os preços.
Que parecem dar pouca importância ao arcabouço macroprudencial, vendido pelo governo como medicamento capaz de proporcionar um retorno suave aos bons dias da inflação baixa.
Restringir o crédito não está, parece, sendo suficiente.
Como não foi suficiente conter agora o salário mínimo e as aposentadorias. Foi só cruel. Pois o compromisso legal assumido de um reajuste na faixa dos 14% para janeiro (7,5% do PIB/2010 mais 6,5% da inflação/2011) forneceu a âncora futura de pessimismo nas contas públicas.
Ainda que a inflação, como é praxe nesses casos, acabe ajudando pelo lado da receita.
O salário mínimo parece ter sido um trade-off duvidoso. Em vez de ficar de bem com a ortodoxia agora e com os pobres depois, ficou de mal com estes agora e com os ortodoxos, pelo visto, também.
Um pouquinho a mais de inflação para um pouquinho a mais de crescimento fazia parte do instrumental na luta política interna de uma Dilma chefe da Casa Civil e portadora da bandeira do desenvolvimentismo.
Mas a Dilma presidente sabe -ou vai saber um dia- que no Brasil inflação costuma ser o pior veneno dos governos.
Escrevi aqui tempos atrás que o tour do presidente do Banco Central pelos ambientes de macroformadores de preços e opinião não andava com cara de sucesso.
O BC procurou vender a perspectiva de que os 6,5% de inflação este ano vão recuar naturalmente para 4,5% em 2012. O resultado prático da blitz propagandística foi que pela primeira vez as projeções para o ano que vem embicaram para um ponto acima do centro da meta, passaram de 5%.
O mercado não é Deus, sempre é preciso medir o vetor das profecias autorrealizáveis, da turma que projeta cenários difíceis para pressionar o governo por mais juros. Mas o cerne é outro.
É saber por que encontram campo fértil para plantar pessimismo.
Talvez porque o governo e o BC estejam a transmitir sinais seguidos de tolerância à ascensão inflacionária.
Daí que a chapa tenha esquentado. E daí que a velha âncora câmbial venha sendo olhada com carinho.
Baratear as importações para esfriar a escalada aqui dentro. Um remédio com conhecidos efeitos colaterais. O mais vistoso é acelerar a desindustrialização.
Dilma vai à China buscar soluções para o desequilíbrio estrutural no comércio com os chineses. Para quem vendemos comida e minério de ferro e de quem importamos bens de maior valor agregado.
Na teoria, portanto, o governo está preocupado com o efeito colateral, quer impedir a destruição da indústria nacional.
É um só governo ou são dois?
A oposição? Por enquanto vai entretida no debate sobre como fazer oposição. Que é também uma maneira de não fazer. De empurrar com a barriga.
Tudo estaria bem, não fosse um detalhe. O governo encontra dificuldade para transmitir confiança na condução da economia.
Ainda não parece ter contaminado a popularidade, pois o crescimento segue e a inflação apenas ensaia o sprint.
Mas algo não vai bem.
O governo vinha sustentando a relação dólar/real nos 1,65-1,70. Para não agravar ainda mais as exportações e as contas externas, já amplamente deficitárias e dependentes da injeção maciça de investimento externo.
Mas nos últimos dias parece ter cedido à tentação habitual das duas últimas décadas: usar o real forte para conter os preços internos.
O que ameaça abrir uma rachadura e tanto na administração.
Do BNDES e dos ministérios “não monetários” a grita vem forte. Mas no lado que se convencionou chamar de equipe econômica a preocupação central voltou-se para os preços.
Que parecem dar pouca importância ao arcabouço macroprudencial, vendido pelo governo como medicamento capaz de proporcionar um retorno suave aos bons dias da inflação baixa.
Restringir o crédito não está, parece, sendo suficiente.
Como não foi suficiente conter agora o salário mínimo e as aposentadorias. Foi só cruel. Pois o compromisso legal assumido de um reajuste na faixa dos 14% para janeiro (7,5% do PIB/2010 mais 6,5% da inflação/2011) forneceu a âncora futura de pessimismo nas contas públicas.
Ainda que a inflação, como é praxe nesses casos, acabe ajudando pelo lado da receita.
O salário mínimo parece ter sido um trade-off duvidoso. Em vez de ficar de bem com a ortodoxia agora e com os pobres depois, ficou de mal com estes agora e com os ortodoxos, pelo visto, também.
Um pouquinho a mais de inflação para um pouquinho a mais de crescimento fazia parte do instrumental na luta política interna de uma Dilma chefe da Casa Civil e portadora da bandeira do desenvolvimentismo.
Mas a Dilma presidente sabe -ou vai saber um dia- que no Brasil inflação costuma ser o pior veneno dos governos.
Escrevi aqui tempos atrás que o tour do presidente do Banco Central pelos ambientes de macroformadores de preços e opinião não andava com cara de sucesso.
O BC procurou vender a perspectiva de que os 6,5% de inflação este ano vão recuar naturalmente para 4,5% em 2012. O resultado prático da blitz propagandística foi que pela primeira vez as projeções para o ano que vem embicaram para um ponto acima do centro da meta, passaram de 5%.
O mercado não é Deus, sempre é preciso medir o vetor das profecias autorrealizáveis, da turma que projeta cenários difíceis para pressionar o governo por mais juros. Mas o cerne é outro.
É saber por que encontram campo fértil para plantar pessimismo.
Talvez porque o governo e o BC estejam a transmitir sinais seguidos de tolerância à ascensão inflacionária.
Daí que a chapa tenha esquentado. E daí que a velha âncora câmbial venha sendo olhada com carinho.
Baratear as importações para esfriar a escalada aqui dentro. Um remédio com conhecidos efeitos colaterais. O mais vistoso é acelerar a desindustrialização.
Dilma vai à China buscar soluções para o desequilíbrio estrutural no comércio com os chineses. Para quem vendemos comida e minério de ferro e de quem importamos bens de maior valor agregado.
Na teoria, portanto, o governo está preocupado com o efeito colateral, quer impedir a destruição da indústria nacional.
É um só governo ou são dois?
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