Um legado de valores
Pergunta da semana: qual o legado que deixa José Alencar, o ex-vice presidente da República?
Na linguagem corrente, o conceito de legado abriga diversos significados: herança política, acervo de princípios, traços de personalidade, exemplos de atitudes e comportamentos.
No caso deste mineiro, que travou uma luta de 13 anos contra um câncer, o legado político se esvai com seu desaparecimento. Permanece, porém, o legado valorativo, que salta aos olhos na trajetória vitoriosa de um brasileiro, que, de balconista de loja de tecidos, constrói, tijolo a tijolo, um dos mais sólidos empreendimentos empresariais do país.
Nesse percurso, o ator político tira a máscara e se mostra real, um ser humano com alegrias e aflições. Para início de conversa, não tinha papas na língua. Percorria, muitas vezes, a contramão na estrada do governo de que fazia parte.
Exercia a vanguarda da defesa da obra governamental, mas brandia as armas da crítica contra a política de juros. A aparente contradição não diminuiu a lealdade, a colaboração e o entusiasmo que demonstrava para com a administração comandada pelo companheiro de chapa, Luiz Inácio.
O vedetismo no poder procura seduzir mais que convencer, encantar mais que argumentar, iludir mais que cair na real. Daí se explicar a propensão para o Estado desenvolver certo “autismo”, um mergulho voltado para si mesmo, acentuado quando as rédeas do governo são guiadas por um perfil carismático, que se imagina onipotente e onisciente, como Lula.
Zé Alencar, com sua humanidade, simbolizava o mundo real, ao escancarar a luta contra o mal que o afligia, e também ao não economizar palavras contra os altos juros.
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Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político e de comunicação. Escreve aos domingos em O Estado de S. Paulo. Twitter @gaudtorquato
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