Massacre em Realengo

A violência não combina com o ethos brasileiro, assim entendido como o modo de ser do nosso povo. Daí a perplexidade nacional e a repercussão internacional da tragédia registrada na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Um excêntrico ex-aluno teve acesso à unidade de ensino, no dia em que seria comemorado o seu 40º aniversário, argumentando ser um dos palestrantes.

No intervalo de 15 minutos, promoveu um massacre de crianças e adolescentes, reunidos em sala de aula, deixando o saldo de doze mortos e doze gravemente feridos, para depois praticar o suicídio. Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, antigo morador da região, frequentou a escola ao longo de todo o curso fundamental, sem haver nos seus assentamentos escolares quaisquer observações sobre comportamento violento ou sintomas de distúrbio psicológico.

Depois das cenas de morticínio, familiares e contemporâneos seus na escola fizeram indicações sobre o comportamento do assassino, mas ainda não foi possível lhe traçar o perfil psicológico. Sua mãe biológica, portadora de esquizofrenia, tentou o suicídio e, por muitas razões, não teve condição de criá-lo, tarefa atribuída a uma família de seu círculo de parentesco. Os pais adotivos faleceram, e ele estava só no mundo.

Desde cedo, o matador em série demonstrava muita timidez, retraimento e fixação em histórias mórbidas. Essa tendência era apenas parte da configuração maior de sua patologia mental, por ser portador de psicose maníaco-depressiva, como os fatos externaram. Desintegrado de qualquer grupo social na comunidade, partidário de crenças religiosas radicalizadas, o matador do Realengo premeditou a carnificina, vingando-se, de preferência, nas adolescentes. A inutilização do microcomputador no qual varava noites inteiras, a destruição dos utilitários da casa em que residia, a carta confessando o desejo de praticar a violência, nela incluída o suicídio, e o ritual estipulado para seu enterro.

Há indícios apontando o assassino como possível vítima, na escola, do "bullying", o fenômeno difundido pelo mundo inteiro, consistindo na rejeição, pelo grupo, de um companheiro de estudo, contra o qual são feitas ameaças e intimidações, submetendo-o a cenas humilhantes e, na maioria dos casos, a agressões, sem qualquer justificativa plausível. O "bullying" representa um dos desafios do ambiente escolar.

Das sugestões emocionais que o caso pode ensejar, deve ser descartada a designação de policiais para fiscalizar a entrada das escolas. Tal medida seria inócua, porque a transformação do espaço livre da escola em fortaleza não impede a eclosão de violência. O caso de Realengo é isolado e anômalo. Seu maior perigo será o de estimular outros casos por imitação.

Mais importante será investigar como esse jovem matador adquiriu as armas do crime, apesar das campanhas de desarmamento, bem como conseguiu a habilidade de seu manuseio

O crime premeditado, pelos sinais da investigação preliminar, tem raízes fincadas na cultura da morte ditada por motivações de crenças arcaicas, no pensamento do psicótico e na infelicidade do ser humano. É um grave sinal dos tempos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário