[...] Terror na escola
Bem-vindo o retorno da campanha pelo desarmamento. Mas não acredito que os dois revólveres, usados pelo assassino em massa Wellington Menezes de Oliveira, tenham sido a causa do massacre de crianças na escola de Realengo. A falta dos "38" não desviaria esse rapaz de seu objetivo, pois haveria outras "receitas" para a prática desse tipo de terror. Aos 23 anos, ele julgava-se treinado para agir como uma espécie de "homem-bomba".
A tragédia também não aconteceu por falta de segurança na escola: Wellington foi reconhecido como ex-aluno. Entrou para pegar seu histórico escolar, mostrando-se à vontade diante das câmaras de vigilância. Chegou numa sala de aula dizendo à professora que estava ali para fazer uma palestra. Tudo dentro da normalidade.
De costas para a turma, pousou em cima da mesa a bolsa que carregava. Abriu-a e quando se virou para os alunos, já empunhava as armas. Não é necessário descrever o que aconteceu depois. As cenas terríveis estão na internet. Os sobreviventes, os mortos e suas famílias emocionaram o Brasil e o mundo.
Segundo depoimentos de colegas, o assassino-suicida foi um menino quieto, esquisito, diferente; não reagia, não se queixava. Não desabafava. Por isso, era sistematicamente provocado e ridicularizado; alvo de chacotas, humilhações. Chegou a ser jogado numa lixeira sob a risada geral da turma. Teria se sentido "torturado" emocionalmente até o "assassinato" de sua auto-estima? A crueldade a qual o submeteram destravou o gatilho para uma doença mental aguda?
Neste rastro de suposições seria "lógico" ele ter premeditado a volta à escola para uma "retaliação". Executaria os colegas que o atormentavam (no passado), sem enxergar, em seu delírio, que o tempo já era outro. Não discernira que há uma quarta dimensão. Fez o que fez sem perceber, talvez, que as crianças alvejadas (no presente) não tinham culpa do seu sofrimento.
Na história real de todo esse horror, as que se salvaram continuam traumatizadas e recebem ajuda profissional. Entretanto, outras crianças estão sendo expostas à tragédia macabra por meio da mídia sensacionalista que replica emoções negativas amedrontando-as; fazendo com que se sintam inseguras nas escolas.
Procurar entender não é justificar a monstruosidade. É apenas buscar alguma lição. Por exemplo, o bullying definitivamente não presta. Pelas estatísticas, os Wellington da vida são raríssimos. E a timidez nunca foi, não é, nem vai ser agora sinal de perigo.
Atenéia Feijó
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