por Brizola Neto

Um sistema autofágico ameaça os EUA. E o mundo.


Mais cedo ou mais tarde, isso ia acontecer. E aconteceu, hoje, com o rebaixamento para “negativa” pela agência Standard & Poor’s  da classificação de risco dos títulos do Tesouro dos EUA.
É, como dizia uma velha música de Geraldo Vandré, “a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”.
Os EUA praticam tudo ao inverso do que ditam como regra aos países em desenvolvimento: déficit orçamentário, déficit comercial e taxas de juros muito baixas. E se financiam emitindo papéis em sua própria moeda , o dólar. Por que? Porque o dólar, desde a Conferência de Breton Woods, no final da 2ª Guerra, tornou-se o padrão internacional de valor, substituindo o ouro e a libra esterlina, referências até antes de o conflito mundial detonar a ordem econômica do início do século.
E quem compra os papéis do Tesouro americano, com seus juros baixinhos, em troca da segurança que oferecem? Ora, ora, ora… Nós, os países em desenvolvimento, que precisamos capitalizar nossas reservas em segurança, porque não podemos imprimir “dinheiro mundial”, como eles.
A China é  principal detentora da dívida americana, somando  quase  US$  1 trilhão em Treasuries Bonds. O Japão, é o segundo maior credor dos Estados Unidos, logo abaixo da China. Depois vêm os ingleses, o conjunto de países árabes e, em quinto, o Brasil, que segue uma trajetória inversa á dos demais Brics:  aumentou o total investido em dívida do Tesouro americano em 8 %, para US$ 197,6 bilhões, nos três meses até janeiro deste, enquanto a Rússia reduziu em 21 % e a China em 1,8 %.
O efeito de um rebaixamento do “rating” dos títulos da dívida pública americana, se for seguido pelos demais classificadores do mercado, pode ser devastador.Ontem, o ex-presidente do Fed (uma espécie de presidente eterno, para os analistas) grito pelo aumento de impostos internos, pedindo que voltem aos níveis do Governo Clinton, depois dos cortes tributários promovidos por Bush.
Mas  os perigos não apenas para os Estados Unidos, que não vêem, no curto prazo, uma perspectiva de desvalorização de suas letras como aconteceu na crise de 2008. São para todo o mundo, porque o melhor remédio para captar recursos com títulos do Tesouro dos EUA é a chamada “aversão ao risco”, que ocorre em meio às crises globais da economia.É um movimento que leva os capitais para os EUA e valoriza a moeda americana.
O movimento, nos últimos tempos, tem sido o inverso, com os juros baixos dos EUA fazendo o mundo inundar-se de dólares. Mas uma crise pode virar isso, como fez em 2008.
E crise é como incêndio em palha seca, numa economia presa a alavancagens absurdas de capital, onde o lastro em valor real é várias vezes menor do que o capital “virtual” que governa as relações econômicas.

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