Coluna Econômica

O avanço do capital de risco no país

O longo período de juros exorbitantes na economia brasileira atrasou a explosão dos fundos de "private equity" e do mercado de capitais de uma maneira geral.

Trata-se da face mais legitima do mercado. Quando ocorrem grandes transformações estruturais, novos setores nascendo, há a necessidade de reestruturações no sistema produtivo. É aí que entram os fundos de investimento, alocando poupança e aplicando nos setores nascentes.

O Brasil já conviveu com grandes investidores, do Barão de Mauá, no século 19, a Walther Moreira Salles, no século 20. Nos anos 90 e 2000 sobressaíram-se Jorge Paulo Lehman, mais recentemente André Esteves. No início, capitalizaram-se por caminhos oblíquos, valeram-se do acesso a informações privilegiadas, a autoridades econômicas. Depois, desenvolveram um know how para fusões, aquisições e incorporações.

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Mas só agora o Brasil começa, de fato, a entrar no ciclo dos investimentos em novas empresas e em reestruturação de setores.

Ontem foi divulgado o 2o Censo de Private Equity, uma parceria da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) com a Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro.

Foram pesquisados 144 gestores, cerca de 80% da indústria de PE.

Os dados impressionam. De 2004 a 2010 a evolução do capital comprometido aumentou 6 vezes, passando de US$ 6 bi para US$ 36 bilhões.

Desse total, US$ 28 bi foram aplicados em setores tradicionais, em indústria, serviços e agricultura; US$ 350 mi em subsidiárias de corporações industriais; US$ 4 bi em infraestrutura; US$ 2,7 bi em imóveis e US$ 970 milhões na área florestal.

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A estrutura mais utilizada para esses investimentos são fundos de investimento (37%), investimentos diretos (15%), holdings (4%), fundos registrados na CVM (26%).

Quanto aos principais tipos de investidores, sobressaem os fundos de pensão (22%), a organização-mãe (18%), trustes e doação (9%), investimentos de famílias (9%) entre outros.

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Entre 2004 e 2008 a análise dos investimentos por setores mostrava uma boa concentração em alimentos e bebidas (24%), construção civil e imóveis (13%), varejo (12%), serviços financeiros (11%), energia e óleo (4%), educação (4%), comunicação (4%), agribusiness (3%).

Em 2009 o cenário muda. Energia e óleo recebem 54%, serviços financeiros 10%, entretenimento e turismo 11%.

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É de 2006 a 2008 que ocorre o boom da criação de novos veículos de investimento. Saltam de 13 em 2005 para 31, 37 e 47 respectivamente em 2006, 2007 e 2008.

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Dado interessante é a comparação da Taxa Interna de Retorno Líquida de Private Equity para diversas regiões. Em cinco anos, foi de 19% para a América Latina e Caribe, de 13% para mercados emergentes, de 10,5% paara EUA e de -2% para a Europa ocidental.

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Quando comparado com mercados maduros, os principais indicadores de retorno comportam-se assim no Brasil:

Alavancagem (endividamento): ajuda a desenvolver empresas em mercados maduros, não no Brasil, dado o alto custo financeiro.

Crescimento: componente chave no Brasil para a criação de TIR

Expansão múltipla: no caso brasileiro, há muito mais oportunidades para negócios proprietários.

Ganhos de eficiência: as empresas de PE conseguem agregar muito mais habilidade e conhecimento aos negócios do que em economias maduras.




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