Carne aos leões
O governo enfrenta dificuldades no Congresso, mas na frente decisiva, a economia, o receituário ortodoxo agora reabilitado cumpre bem o papel de matar as previsões de descontrole da inflação.
Só de janeiro a abril o superávit primário já acumulou metade do previsto para o ano. O resultado primário é o balanço das contas públicas antes de contabilizar os custos financeiros.
Quando o saldo é positivo o governo está poupando dinheiro para conseguir honrar os juros que deve.
Menos crédito, mais juros, mais aperto orçamentário, e os resultados vão aparecendo. Já faz algumas semanas o mercado financeiro não mais põe lenha na fogueira das projeções para os preços.
Esse é o lado bom. Deram carne para os leões e eles pararam de rugir.
O lado preocupante veio junto. A indústria, já baleada pela relação cambial desvantajosa para as exportações, dá sinais de sofrer com o aperto no mercado interno. Recuou 2,1% de março a abril e 1,3 diante de abril de 2010.
No acumulado de 12 meses o índice ainda é enganadoramente bom: 5,4%. Mas as previsões mais realistas são de crescimento medíocre este ano, algo entre 2 e 3%.
Se os 10,5% do ano passado compensaram parcialmente o desastre recessivo de 2009, parece que vamos voltando mais uma vez à valsa da mediocridade.
É assim que a banda toca por aqui. O país tenta crescer, daí vem a inflação, daí vêm também as pressões de reindexação, até que o governo da hora, mais preocupado com o próprio pescoço, puxa o freio.
O governo Dilma Rousseff piscou no duelo com o mercado, achou melhor não pagar para ver. A correr o risco de permitir uma indexação em patamares inflacionários indesejáveis, enfiou o pé no breque.
Quando as convicções (“um pouquinho mais de inflação para um tantinho a mais de crescimento”) passaram a ameaçar a estabilidade, esta última recebeu a preferência.
E faz sentido. Se o governo der sinais de que vai perder o controle da escalada de preços as dificuldades políticas agora vividas deixarão saudade no Palácio do Planalto. Vão parecer ter sido brincadeira de criança.
O mercado já aceita a possibilidade de a inflação ficar em 2011 ligeiramente aquém do teto da meta, 6,5%, o que aumenta também o fôlego do governo para convencer de que vai conseguir voltar aos ortodoxos 4,5% no ano que vem.
E assim o Palácio do Planalto vai revertendo o cenário de más expectativas nos preços. E reduz o potencial de propagação das turbulências políticas.
Noutra frente, movimenta um carta sempre útil: as privatizações. Desta vez a favor, claro.
Quando o sujeito sabe operar bem, ganha com as privatizações na baixa e na alta. Ganha votos na eleição falando mal delas e ganha apoio depois da eleição implementando-as.
O governo desistiu de procurar uma solução estatal para os aeroportos. Vai privatizar (“conceder à iniciativa privada”). Aliás, seria interessante fazer nesta altura um balanço das concessões nas estradas federais.
Eis um mistério. Se o Estado é capaz de achar e extrair petróleo no pré-sal, por que não consegue tocar a administração de um aeroporto? É tão difícil assim?
Dar carne aos leões é mesmo útil em diversas circunstâncias.
Só de janeiro a abril o superávit primário já acumulou metade do previsto para o ano. O resultado primário é o balanço das contas públicas antes de contabilizar os custos financeiros.
Quando o saldo é positivo o governo está poupando dinheiro para conseguir honrar os juros que deve.
Menos crédito, mais juros, mais aperto orçamentário, e os resultados vão aparecendo. Já faz algumas semanas o mercado financeiro não mais põe lenha na fogueira das projeções para os preços.
Esse é o lado bom. Deram carne para os leões e eles pararam de rugir.
O lado preocupante veio junto. A indústria, já baleada pela relação cambial desvantajosa para as exportações, dá sinais de sofrer com o aperto no mercado interno. Recuou 2,1% de março a abril e 1,3 diante de abril de 2010.
No acumulado de 12 meses o índice ainda é enganadoramente bom: 5,4%. Mas as previsões mais realistas são de crescimento medíocre este ano, algo entre 2 e 3%.
Se os 10,5% do ano passado compensaram parcialmente o desastre recessivo de 2009, parece que vamos voltando mais uma vez à valsa da mediocridade.
É assim que a banda toca por aqui. O país tenta crescer, daí vem a inflação, daí vêm também as pressões de reindexação, até que o governo da hora, mais preocupado com o próprio pescoço, puxa o freio.
O governo Dilma Rousseff piscou no duelo com o mercado, achou melhor não pagar para ver. A correr o risco de permitir uma indexação em patamares inflacionários indesejáveis, enfiou o pé no breque.
Quando as convicções (“um pouquinho mais de inflação para um tantinho a mais de crescimento”) passaram a ameaçar a estabilidade, esta última recebeu a preferência.
E faz sentido. Se o governo der sinais de que vai perder o controle da escalada de preços as dificuldades políticas agora vividas deixarão saudade no Palácio do Planalto. Vão parecer ter sido brincadeira de criança.
O mercado já aceita a possibilidade de a inflação ficar em 2011 ligeiramente aquém do teto da meta, 6,5%, o que aumenta também o fôlego do governo para convencer de que vai conseguir voltar aos ortodoxos 4,5% no ano que vem.
E assim o Palácio do Planalto vai revertendo o cenário de más expectativas nos preços. E reduz o potencial de propagação das turbulências políticas.
Noutra frente, movimenta um carta sempre útil: as privatizações. Desta vez a favor, claro.
Quando o sujeito sabe operar bem, ganha com as privatizações na baixa e na alta. Ganha votos na eleição falando mal delas e ganha apoio depois da eleição implementando-as.
O governo desistiu de procurar uma solução estatal para os aeroportos. Vai privatizar (“conceder à iniciativa privada”). Aliás, seria interessante fazer nesta altura um balanço das concessões nas estradas federais.
Eis um mistério. Se o Estado é capaz de achar e extrair petróleo no pré-sal, por que não consegue tocar a administração de um aeroporto? É tão difícil assim?
Dar carne aos leões é mesmo útil em diversas circunstâncias.
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