[...] e com elas o retesar de músculos. E será inevitável que a somatória dos cenários locais se conecte novamente no noticiário à projeção das disputas futuras de poder.
É uma sinfonia conhecida.
Mas as eleições locais têm influência apenas relativa no quadro político. Dois motivos contribuem.
Primeiro, a dependência financeira de estados e municípios ao governo federal impede os poderes locais de fazerem oposição. No fim das contas é todo mundo governo. Precisa ser.
Segundo, o eleitor exerce bastante bem a liberdade de escolha. Não é por ter votado de um jeito para prefeito que votará do mesmo jeito para governador, ou presidente.
A política local acaba tendo, sim, mais peso quando o eleitor avalia o alinhamento municipal-estadual-federal como decisivo para receber benefícios públicos.
Esse pensamento persiste, e é mais observável conforme mais pobre e dependente é a localidade.
Governos federais costumam desempenhar bem em áreas muito pobres, desprovidas de economia que permita maior independência política.
Felizmente, a pobreza vem declinando no Brasil. Tendência que produz, também felizmente, mais graus de independência no eleitorado.
Mas o poder federal, com suas verbas, continua um instrumento não desprezível na disputa local.
Com o PT, entretanto, acontece um fenômeno curioso. Até agora, a capilarização do partido anda aquém do padrão histórico governista.
Contribui o PT ser um partido relativamente fechado, para padrões brasileiros. Beneficia-se pouco da capacidade atrativa do governo. Mesmo quando estimula o adesismo, não faz isso de portas abertas.
Também por ter sido construído de baixo para cima e continuar dividido em tendências formalmente organizadas. É um equilíbrio interno delicado, pouco permeável a intervenções externas.
O governo comandado pelo PT no Planalto sustenta-se numa ampla coalizão congressual. E um custo da coalizão é dar sobrevida a aliados na disputa do poder local.
É um foco permanente de tensão no governo.
O deputado do partido aliado vota a favor na Câmara, mas na base precisa enfrentar o quadro petista que, instalado num cargo de prestígio e capacidade orçamentária, ameaça tomar o reduto.
Operando por dentro da máquina para minar na base a força do aliado de Dilma Rousseff em Brasília.
Vem também daí a guerra por cargos de escalões inferiores.
O petista olha para o Planalto e enxerga um governo do PT. E quer apoio do governo para tomar os votos locais.
Já o governo precisa em Brasília dos votos dos adversários locais do PT, que por sua vez pedem ao Planalto conter o apetite dos partidários.
Mas o governo não pode tampouco desestabilizar o PT, a espinha dorsal.
A solução óbvia seria verticalizar as alianças, coisa possível na prancheta mas altamente improvável na vida real. Aqui e ali Brasília pode dizer façam isso, façam aquilo, mas está longe de ser viável como regra.
É um equilíbrio muito instável, e exige o máximo de perícia para não desandar.
Dilma herdou de Luiz Inácio Lula da Silva uma coalizão amplíssima e já no primeiro ano as tensões andam mais pronunciadas, na comparação. Com a operação política no Ministério dos Transportes, acrescenta um foco a mais de temor nos aliados.
Todos cabreiros com a hipótese de o PT avançar no espaço orçamentário alheio, e com os prováveis reflexos na capacidade de cada um desempenhar eleitoralmente ano que vem.
No governo dizem que não. Que a balança não penderá para o lado do PT. Que é apenas um movimento para reverter o descontrole e evitar o prejuízo administrativo e político.
Mas está difícil achar em Brasília quem acredite, do fundo do coração. Dilma anda performando bem em tempo real diante dos holofotes, mas se não garantir o espaço de quem a apoia pode ter surpresas desagradáveis no virar da esquina.
É uma sinfonia conhecida.
Mas as eleições locais têm influência apenas relativa no quadro político. Dois motivos contribuem.
Primeiro, a dependência financeira de estados e municípios ao governo federal impede os poderes locais de fazerem oposição. No fim das contas é todo mundo governo. Precisa ser.
Segundo, o eleitor exerce bastante bem a liberdade de escolha. Não é por ter votado de um jeito para prefeito que votará do mesmo jeito para governador, ou presidente.
A política local acaba tendo, sim, mais peso quando o eleitor avalia o alinhamento municipal-estadual-federal como decisivo para receber benefícios públicos.
Esse pensamento persiste, e é mais observável conforme mais pobre e dependente é a localidade.
Governos federais costumam desempenhar bem em áreas muito pobres, desprovidas de economia que permita maior independência política.
Felizmente, a pobreza vem declinando no Brasil. Tendência que produz, também felizmente, mais graus de independência no eleitorado.
Mas o poder federal, com suas verbas, continua um instrumento não desprezível na disputa local.
Com o PT, entretanto, acontece um fenômeno curioso. Até agora, a capilarização do partido anda aquém do padrão histórico governista.
Contribui o PT ser um partido relativamente fechado, para padrões brasileiros. Beneficia-se pouco da capacidade atrativa do governo. Mesmo quando estimula o adesismo, não faz isso de portas abertas.
Também por ter sido construído de baixo para cima e continuar dividido em tendências formalmente organizadas. É um equilíbrio interno delicado, pouco permeável a intervenções externas.
O governo comandado pelo PT no Planalto sustenta-se numa ampla coalizão congressual. E um custo da coalizão é dar sobrevida a aliados na disputa do poder local.
É um foco permanente de tensão no governo.
O deputado do partido aliado vota a favor na Câmara, mas na base precisa enfrentar o quadro petista que, instalado num cargo de prestígio e capacidade orçamentária, ameaça tomar o reduto.
Operando por dentro da máquina para minar na base a força do aliado de Dilma Rousseff em Brasília.
Vem também daí a guerra por cargos de escalões inferiores.
O petista olha para o Planalto e enxerga um governo do PT. E quer apoio do governo para tomar os votos locais.
Já o governo precisa em Brasília dos votos dos adversários locais do PT, que por sua vez pedem ao Planalto conter o apetite dos partidários.
Mas o governo não pode tampouco desestabilizar o PT, a espinha dorsal.
A solução óbvia seria verticalizar as alianças, coisa possível na prancheta mas altamente improvável na vida real. Aqui e ali Brasília pode dizer façam isso, façam aquilo, mas está longe de ser viável como regra.
É um equilíbrio muito instável, e exige o máximo de perícia para não desandar.
Dilma herdou de Luiz Inácio Lula da Silva uma coalizão amplíssima e já no primeiro ano as tensões andam mais pronunciadas, na comparação. Com a operação política no Ministério dos Transportes, acrescenta um foco a mais de temor nos aliados.
Todos cabreiros com a hipótese de o PT avançar no espaço orçamentário alheio, e com os prováveis reflexos na capacidade de cada um desempenhar eleitoralmente ano que vem.
No governo dizem que não. Que a balança não penderá para o lado do PT. Que é apenas um movimento para reverter o descontrole e evitar o prejuízo administrativo e político.
Mas está difícil achar em Brasília quem acredite, do fundo do coração. Dilma anda performando bem em tempo real diante dos holofotes, mas se não garantir o espaço de quem a apoia pode ter surpresas desagradáveis no virar da esquina.
por Alon Feurwerker
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