por Carlos Chagas

Ao longo dos últimos anos  a Polícia Federal construiu robusta imagem de seriedade e competência no exercício de suas funções, em especial investigando denúncias de corrupção e levando os responsáveis à barra dos tribunais. Tanto nos meios privados quanto nos governos, a PF causou e causa arrepios naqueles envolvidos em maracutaias, desvios, vigarices, roubos, contrabando e sucedâneos.

A instituição reciclou-se, depois de um  período em que foi  braço armado  da ditadura, utilizada pelos detentores do poder para combater o terrorismo através de  métodos truculentos e medievais.  Virou uma versão melhorada do FBI americano e estendeu sua presença a todo o território nacional. Ninguém brinca com a Polícia Federal. Arrependem-se os raros que tentam subornar e envolver seus delegados e agentes.

Sucessivas operações vem obtendo êxito na  elucidação de práticas deletérias adotadas no seio da máquina administrativa estatal e suas ligações com grupos e empresas privadas. Basta sair às ruas e  verificar o respeito popular e os aplausos do cidadão comum a cada iniciativa objeto de investigações sigilosas, primeiro, depois reveladas em prol da moralidade pública.

Sendo assim, por que diabos os federais vem-se deixando levar por exteriorizações que só fazem empanar suas atividades?  Que resultado obtém ao  maltratar suspeitos, indiciados  e até bandidos comprovadamente identificados? Algemas, transferências realizadas pela madrugada, camburões,   fotografias humilhantes e divulgadas   para a imprensa – esse conjunto  depõe contra quem o  promove e utiliza, muito  mais do que contra os culpados transformados  em vítimas.

As operações realizadas nos  ministérios dos Transportes, da  Agricultura e  do Turismo, nas últimas semanas,   despertaram apoio e até entusiasmo na opinião pública e na opinião publicada. Só que  certos episódios dispensáveis, a elas ligados,  geraram indignação. A presidente Dilma irritou-se, os partidos da base parlamentar do governo encontraram argumentos para misturar e contestar  o conteúdo e   as conclusões das investigações. Para que? Demonstrar que a Polícia Federal  é um estado dentro do estado, não dá.  Resolver dúvidas de poder entre a instituição e o ministério da Justiça,  também não. Afinal, a subordinação é constitucional. Relembrar os anos de chumbo, de jeito nenhum.

Arriscam-se, os federais, a ver deitada ao  mar parte da carga acumulada com tanta eficiência e sacrifício. Fica difícil entender.

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