Quem quiser que gaste tinta escrevendo sobre a ONU. E que o governo brasileiro pretende uma cadeira permanente no conselho qual minha opinião?...Pura babaquice, perda de tempo.
É a segunda abstenção significativa do Brasil. Fizera o mesmo na votação sobre a Líbia, na resolução que abriu as portas para a intervenção da Otan e a remoção de Muamar Gadafi de Trípoli.
O Brasil pede um lugar permanente no Conselho de Segurança, então é razoável imaginar que se já tivesse a cadeira cativa votaria do mesmo jeito. Não haveria por que ser diferente. Flutuar conforme a própria capacidade de interferir seria oportunismo.
Se o Brasil fosse membro permanente com direito a veto no Conselho de Segurança teria, na prática, aprovado a intervenção na Líbia. Pois abster-se significaria abrir mão de vetar.
Assim como não teria impedido a passagem da censura contra o governo de Bashar al Assad.
Então por que o Brasil não votou a favor em nenhum dos dois casos? Aí também já seria demais, né? Nosso governo prefere caminhar sobre o fio da navalha a arriscar o carimbo de aliado da Europa e dos Estados Unidos. O que iria dizer em casa?
Só não tem coragem suficiente para bater de frente. Como faz por exemplo a Venezuela de Hugo Chávez.
O Brasil gosta mesmo é de jogar para a plateia. Não troca por nada o direito de discursar apresentando-se como paradigma de qualquer coisa. O eterno crítico dos outros. A palmatória do mundo. Mas tampouco rasga dinheiro.
O Brasil diz defender uma solução política negociada para o impasse na Síria. O governo de Damasco também defende a negociação, mas antes pede um tempo para eliminar fisicamente os adversários.
Era a estratégia de Gadafi, antes de topar com a intervenção da Otan. O presidente líbio havia advertido que caçaria seus oponentes de casa em casa antes de promover uma abertura política. E estava prestes a conseguir. Acabou ele próprio corrido.
Nos últimos tempos o Brasil vem privilegiando um certo eixo de alianças no Oriente Médio, com o centro em Teerã. O governo anterior operou, na prática, para ajudar o Irã a ganhar tempo no desenvolvimento do programa nuclear.
É possível que o Brasil tenha feito isso por acreditar sinceramente no caráter 100% pacífico do programa nuclear iraniano.
Mas é também razoável suspeitar que o Brasil vê no empreendimento nuclear dos aiatolás uma forma de enfraquecer a posição relativa dos Estados Unidos e da Europa no Oriente Médio. E nutre a esperança de ocupar parte do espaço.
Além do mais, desde há muito existe no establishment civil e militar em Brasília quem proponha rever a adesão brasileira ao Tratado de Não Proliferação.
Exatamente para quê, não se sabe.
Toda ação deve ser medida pelos resultados. Os comerciais parecem bons. O Irã tornou-se um ótimo consumidor da carne brasileira. Na política, entretanto, parece que a coisa não anda tão bem assim.
Na ponta do lápis a influência política do Brasil na região está diminuindo, não aumentando. É só olhar país a país.
Lá atrás o Brasil colocou as fichas na estabilidade perene das ditaduras árabes e islâmicas e saiu a cultivar a amizade dos ditadores. E também por isso vai firme na defesa do carniceiro de Damasco. Que mata seu próprio povo nas ruas e ameaça conflagrar a região para permanecer indefinidamente no poder.
Se bem que em casos assim o radicalismo verbal e as ameaças do déspota costumam ser o prelúdio da queda. É o que diz a experiência. Quem fala muito grosso é por talvez não ter como agir na mesma intensidade.
Ah, sim, e os direitos humanos? E o protagonismo inegociável deles na política externa brasileira?
Sobre essa pauta, ela cumpriu seu papel propagandístico naquela hora e foi ao arquivo. Na categoria das falas descartáveis e descartadas. Nem vou mais desperdiçar, leitor e leitora, o seu precioso tempo com o assunto.
por Alon Feurwerker
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