O Carnaval em Brasília


por Carlos Chagas

A partir de hoje, é só Carnaval. Importa menos saber se somos um país de doidos, de imprevidentes, de malandros ou de sonhadores, porque a verdade é essa: planos, projetos e propostas se interrompem por conta folia, onde mergulha a maior parte da população, submetendo-se os demais à pressão dos fatos.
                                                       
Como tudo é fantasia, vale imaginar as próprias, ou seja, as fantasias, capazes de ser usadas aqui em Brasília.
                                                       
Abriria o desfile a Ala das Ministras Abandonadas, com Gleise Hoffmann, da Casa Civil,  à frente, como Branca de Neve. Com todo o respeito, Ideli Salvatti, da Coordenação Política, apareceria como a Bruxa Malvada,  perseguida pelos Caçadores, no caso   Henrique Eduardo Alves e Waldemar da Costa Netto.  Graça Foster, recém empossada na presidência da Petrobrás, seria  Chapeuzinho Vermelho, fugindo do Lobão Mau, o ministro das Minas e Energia. Ana de Holanda, da Cultura, voltada para o passado,  meio sem futuro, desfilaria de Semana da Arte Moderna, agora comemorando 90 anos. Teresa Campello, do Desenvolvimento Social, e Mirian Belchior, do Planejamento, fariam a dupla do Gato na Tuba, miando mais do que soprando. Isabela Teixeira, do Meio Ambiente, passaria como Beduína no Deserto do Saara. 
                                                       
Agastada com a recusa de sua pretensão de ser a porta-bandeira da Escola de Samba Desunidos do Congresso, Martha Suplicy pediria ingresso no bloco palaciano, apresentando-se como a Bela Adormecida. Erenice Guerra, como Nora Ney, entoando “Ninguém Me Ama, Ninguém Me Quer”.
                                                       
Muitos ministros  seguiriam como Cavaleiros de Granada, aqueles que alta  madrugada, brandindo lança e espada, saíram em louca cavalgada. Para que? Para nada.
                                                       
Na comissão de frente do Bloco do Ali Babá estarão os ex-ministros demitidos por acusações de corrupção: Antônio Palocci, Alfredo Nascimento, Wagner Rossi, Pedro Novais. Orlando Silva, Carlos Lupi e Mário Negromonte – todos distribuindo notas de dólar para as arquibancadas e levantando cartaz dirigido ao restante do ministério,  com os dizeres “Eu Sou Você Amanhã”. Os ministros Fernando Pimentel, Fernando Bezerra e Guido Mantega viriam a seguir na Ala dos Blindados, usando armaduras medievais.
                                                       
Logo atrás, de presidiários, arrastando bolas de ferro presas nas canelas, os 38 mensaleiros cantando “Está Chegando a Hora”. Em evoluções surpreendentes, entrariam e sairiam de um carro-gaiola, com destaque para Marcos Valério e Delúbio Soares, impedidos de descer por conta de passistas do Ministério Público e da Polícia Federal.   
                                                       
Apesar de onze e  não quatro, os ministros do Supremo Tribunal Federal vão aparecer como os “Cavaleiros do Apocalipse” mas o destaque será a ministra-corregedora do CNJ, Eliana Calmon,  chicote em punho, fantasiada de Zorro.  
                                                       
A multidão entrará em delírio quando entrar a Escola de Samba Dependentes  do Bigode, com o próprio em carro aberto, vestido de general McArthur segurando a faixa “Eu Voltarei”. Liderando a bateria, Renan Calheiros, autor do samba-enredo “Não é Preciso Morrer Para Estar no Céu”. Cuícas, surdos e tamborins em atividade, os  senadores desfilariam com camisolões e asas de anjo, exceção de pequeno grupo vestido de diabinhos, entre eles Pedro Simon, Roberto Requião, Jarbas Vasconcelos, Demóstenes Torres e Álvaro Dias.
                                                       
Sensação causará o Bloco da Compensação, com deputados do PT, PMDB, PP e penduricalhos trajando mortalhas  e farrapos,  cantando a altos brados “Mamãe Eu Quero Mamar”. Marco Maia, em vez de porta-bandeira, será o porta-mamadeira.
                                                       
A madrugada estará alta quando a Escola de Samba dos Tucanos Perdidos fizer sua aparição.  Fernando Henrique, num trono carregado por Mendonça de Barros, Pedro Malan, Nelson Jobim e outros, usará cetro, coroa e manto vermelho. O singular é que logo depois  se verá Geraldo Alckmin, na mesma situação, sustentado por Andrea Matarazzo, Bruno Covas, José Aníbal e Ricardo Trípoli, só que o governador virá vestido como  Papa, distribuindo  bênçãos em profusão. Segue-se a Ala dos Indecisos, com José Serra usando o uniforme do  Dr. Silvana, Inimigo da Humanidade, e Aécio Neves, de Harry Potter.
                                                       
O PT, em coro, cantará “Zum, Zum, Zum, Está Faltando Um”, por ter sido  o Rei Momo impedido de comparecer, neste Carnaval. Uma peculiaridade: os companheiros se apresentarão sem os tradicionais macacões de operário, mas, dessa vez, de fraque e cartola, desfilando de costas para as arquibancadas.
                                                       
Encerrando a apoteose, numa carruagem puxada por dúzias de guerrilheiros fardados e armados, será a vez DELA. Há controvérsias, mas a fantasia parece da Princesa Isabel. Ou de Catarina, a Grande?

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