por A. Capiberibe Neto
Jovens não escrevem cartas de amor. Nem e-mails. Não que não amem, eles se amarram e se curtem. A linguagem é outra. É a vida. Outros contextos, outras épocas. Tudo diferente, muito diferente. Nós, mais velhos e tentando segurar o tempo para ele não correr assim, tão depressa, conseguimos nos atualizar, entender a razão de eles não entenderem muita coisa. É isso mesmo. Somos de outro milênio, de outro século, vejam só! Não adianta querer que eles sejam diferentes. Diferentes nos tornamos para eles: "caretas", por exemplo...
Interessante, eles imaginam que serão sempre assim. Que pena! Que curtam a sua ilusão. No fundo, no fundo, a gente sente alguma inveja dos sonhos deles, do viço da pele, da alegria moleque, da algazarra e de certas doses de desrespeito e sua forma perigosa de serem afoitos. Aqui e ali morre um, prematuramente, vítimas de si próprios e porque ousaram ultrapassar a tênue linha que separa a ousadia do perigo iminente, imediato e aí, a dose a mais, a experiência com uma dessas drogas que engordam os bolsos dos traficantes, uma curva, um poste e a luz da vida se apaga. Não se pode fazer nada. Jovem não gosta de sermões, de lições, de que se lhes tolha a irresponsabilidade da sua testosterona ou se lhes imponha um limite para a saia curta, para a calcinha aparecendo, para o sutiã cheio de forros para aumentar o volume do peito pequeno e transformar a menina em mulher feita que ainda não é. É isso mesmo...
Os tempos são outros. Quem é jovem pode, quem apenas já foi fica assim mesmo, de olho comprido, cheio de saudade e uma sadia e respeitada frustração...
Jovens não sabem o que é reumatismo, artritismo, gripe que mata, falta de fôlego no último degrau de escada nem tão alta assim. Jovem não entende nem liga para o significado de ruga. Ruga é coisa de velho. Quem pode, estica, esconde, raspa, joga fora, fica com aparência pouco mais jovem, mas nem por isso menos ridícula, mas continua com falta de ar se subir escada. Tudo em nome da autoestima tão em moda.
Não, não, não é uma crise de saudosismo dos meus tempos de menino afoito, correndo contra o vento, sem ainda precisar de documentos, cabelo espalhado no rosto, boca suja de manga derrubada a estilingue. Não é tão difícil aceitar que o tempo não não faz curva nem espera por ninguém. Este hoje, este aqui, este exato momento daqui a pouco será ontem, semana passada, mês passado e vira "um dia, nem lembro mais...
" porque os segundo são vorazes, os minutos têm fome, as horas insaciáveis, os dias apressados e os meses passam muito depressa. Vocês já se deram conta que logo será maio e o mês seguinte já anuncia a chegada do meio do ano? Pois é. Quando éramos criança, queríamos que logo chegasse o fim do ano por conta do sonho de Papai Noel. Hoje, queríamos que o Natal só acontecesse daqui a mil dias e que o nosso corpo tivesse preguiça em envelhecer, em apresentar as mazelas que acontecem com o passar dos anos.
Esta crônica é dedicada a uma jovem que me pediu para escrever uma carta apaixonada para um namorado "desligado":
"Tu pode escrever uma carta para mim? "E contou lá a sua história, nascida numa paixonite aguda e fulminante numa festinha dessas. "Não sei escrever como vocês escrevem, essa coisa de "kd", de "vc", por aí. "Escreve do teu jeito, depois eu traduzo". Escrevi. Escrevi poucas linhas e expliquei para ela o que significavam e que ela traduzisse lá do seu jeito. Ela traduziu e me mostrou:
"Tô amarradona em você, tá ligado? Tô afinzona de você. Topa uns amassos", segundo a minha tradução do que consegui entender. E eu não escrevi nada disso. As cartas de amor são bem diferentes...
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