Eleição de 2014 sem definições fundamentais

por Carlos Chagas

Aceita-se como regra o raciocínio de que eleições municipais decidem-se em função de reivindicações e de queixas do eleitor relacionadas com o seu dia-a-dia. Rua esburacada,  sem asfalto, abastecimento de água precário, má escola para os filhos, posto de saúde com falta de  médicos, ausência de policiamento, cabine policial abandonada, transporte insuficiente e quanta coisa a mais  a infernizar a vida do cidadão comum levam-no a selecionar o candidato a prefeito e a vereador que mais prometa corrigir tais deficiências. Claro que nas capitais dos estados e em grandes cidades pesam outros fatores, aqui e ali até ideológicos e partidários, mas, no geral, vota-se no candidato  diretamente disposto a superar a agruras de  cada um. Admita-se que assim transcorrerão as eleições de outubro, na maioria do país.

Bem diferente  é o processo de escolha quando se trata de eleger o presidente da República, os governadores, deputados e senadores. Outros valores entram em consideração, não raro envolvendo diretrizes mais profundas. O eleitor é chamado a optar por políticas distintas, sejam nacionalistas, neoliberais, socialistas ou puritanas. Sempre haverá a hipótese de se municipalizarem  as eleições nacionais, mas o normal é transcorrerem conforme debates distintos.

No passado o Brasil já apresentou lutas emocionados entre propostas de esquerda e de direita, reformismo ou conservadorismo, anti-comunismo e socialismo, economia de mercado ou estatizante, ditadura e democracia, tudo, evidentemente, sob lances de demagogia, histrionismo e corrupção, mas sempre sob inspirações maiores. Claro que com o personalismo dos candidatos minimizando  doutrinas ou, pelo menos, dando a elas cores populares.

Estamos a um passo das eleições gerais de 2014, e a pergunta que se faz é em torno de que postulados ou princípios maiores elas  irão se ferir. O Lula elegeu-se sob a égide de o poder transferir-se para o andar de baixo. Um operário na presidência da República significava, ao menos na teoria, conquistas  mais acordes com as necessidades das massas, acima e além da política anterior de Fernando Henrique, favorável às elites. Dilma veio na esteira da mesma aspiração majoritária, ainda que oriunda da tecnocracia.

E em 2014? Qual o debate capaz de sensibilizar e polarizar o eleitorado? Em condições normais de temperatura e pressão já era para as diversas correntes políticas estarem definidas, fosse com a manutenção das mensagens do PT, fosse com o plano de vôo dos tucanos ou outras correntes. O diabo é que até agora, nada. A única tendência captada na opinião pública até agora parece a rejeição à corrupção e à impunidade, mas os companheiros, por razões óbvias, fogem da hipótese de fazê-la o divisor de águas nacional. Estão governando há nove anos e se progrediram essas pragas, deve-se também a eles. Só que o PSDB não se anima, no Congresso e fora dele, a fazer da luta contra a roubalheira sua bandeira eleitoral. Pode ser por conta de o governo Fernando Henrique haver contribuído com sua parcela de culpa para o desenvolvimento da impunidade e da corrupção.

Sendo assim, caso não se inverta a equação, as duas maiores forças em condições de empolgar o eleitor mantém-se de braços cruzados. Perdem tempo e não encontram rumos para disputar as preferências populares, exceto uns prometendo continuar as coisas como estão e outros sem saber onde nem o que mudar. Pobres prenúncios...

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