Miguel Ángel Moratinos, ex-ministro espanhol de Asuntos Exteriores y de Cooperación - El País, 14)
Em toda esta crise, complexa e diferente, a classe política está paralisada e não exerce sua capacidade de prever, influir e regular os acontecimentos. Sua resposta tem sido unívoca: “acalmar os mercados!”. Todas as decisões são tomadas com a esperança de que os mercados terminem por tranquilizar-se apaziguar-se em sua rotina.
Ter esta atitude em uma primeira fase poderia ser compreensível. Mas estes últimos meses demonstraram que essa disposição não é só errônea, mas contraproducente. Em lugar de acalmar o mercado, estimula sua voracidade como Pantagruel de Rabelais, que engole insaciavelmente qualquer iniciativa, exigindo mais dietas hipocalóricas aos cidadãos, as instituições e aos serviços dos Governos.
Deve-se sublinhar que chefes de governo, ministros e quase a totalidade dos estamentos políticos e econômicos ocidentais compartilham apenas a angústia de observar como evoluem esses mercados, enquanto se perguntam se são capazes de prever como os tratarão na próxima semana.
O que realmente está em perigo não é a economia, mas a política. A solução passa por reivindicar a política. Agora deveríamos gritar alto e forte: “é a política, estúpido!”. Ninguém duvida que algumas recomendações e atuações teriam que ser aplicadas. E poucos poderão criticar o princípio de estabilidade orçamentária, mas sempre e quando esta leve a bom termo a política promovida pelos Governos. Quando superemos os efeitos paliativos da convalescência econômica, nossa anorexia política e social nos impedirá levantar e caminhar.
Ninguém com senso comum questiona o sistema de mercado. Mas qualquer cidadão lúcido se pode perguntar hoje quem governa seu Estado: os mercados ou seus representantes democraticamente eleitos. É aí onde a Política com maiúscula tem que responder e oferecer soluções. É agora quando os cidadãos tem que constatar que todos os políticos e todas as políticas não são iguais. Uma coisa é corrigir as deficiências dos mercados e, outra, bem distinta, é que a política abdique de suas responsabilidades e capacidade de influenciar os mercados que não funcionam ou vão contra os últimos interesses da cidadania.
Esse é um desafio político cujo enfoque diferencia as correntes políticas e os partidos. É o tempo da política, mas de uma política global, regional, estatal e local mais audazes e mais eficazes.
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