Redação publicou: "Um ano é tempo demasiadamente longo em meio à crise política-institucional para supor inalteradas as variáveis do quadro político brasileiro; até porque muitas delas são ingovernáveis, como as da crescente judicialização da política (que, aliás, poderá co"
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A receita de Meirelles para liquidar a economia brasileira e viabilizar as privatizações, por J. Carlos de Assis
Não há a mais remota possibilidade de reverter a depressão econômica brasileira com aumento de impostos e restrição aos gastos públicos. No entanto, insiste-se com essa estupidez. Estamos, inequivocamente, numa depressão, medida tanto pela contração do PIB – cerca de 9% em três anos – quanto pelo alto desemprego – cerca de 14% da população ativa, sem considerar o subemprego. Por que então o governo de Meirelles insiste em cortar gastos públicos e se revela inteiramente indiferente ao drama do desemprego?
Existem dois tipos de explicação para isso, que se complementam. Primeiro, é preciso compreender que o Governo da Ponte para o Futuro de Temer renunciou a qualquer tipo de políticas de desenvolvimento, já que seu foco central é somente a redução do espaço público na sociedade e na economia em favor da ampliação do espaço privado via privatizações. Trata-se de um objetivo em si, que traria, por conseqüência, a confiança do empresariado no Governo no sentido de retomar o investimento e, supostamente, o consumo e o emprego.
A apresentação dessas relações é simples, mas, contando eu mais de 40 anos de economia política, estou convencido de que a esmagadora maioria da sociedade não compreende o que tentamos dizer. Nossa linguagem é obscura. Falamos em demanda no lugar de consumo, de investimento público em lugar de gastos públicos de infraestrutura, de efeito multiplicador do investimento público deficitário em lugar de dizer simplesmente que o Governo deve meter o pé no acelerador de gastos para garantir o crescimento.
Como explicar para o cidadão comum, vítima do massacre ideológico sistemático de décadas a fio de propaganda neoliberal, que comprar a crédito pelo Governo é tão saudável quanto uma família recorrer a financiamento para equipar um pequeno negócio e tentar enfrentar o desemprego? É fundamental compreender que a maioria das crises, no capitalismo, começa pela redução do consumo. Sem consumo, inclusive consumo a crédito, empresários não vão promover a ampliação da produção. Isso, em conseqüência, leva à queda do investimento e do emprego.
Para enfrentar a crise é necessário, antes de tudo, aumentar o consumo do Governo, induzindo ao mesmo tempo o consumo final das famílias e o consumo intermediário (matérias-primas e insumos) dos empresários, os quais seriam estimulados a fazer novos investimentos. É evidente que, sem consumo, o investimento dos empresários não aumenta porque eles não tem perspectiva de vendas. É preciso que uma força de fora, o Governo, empurre o consumo, de forma a empurrar por sua vez investimento e emprego.
A contrapartida financeira do déficit do Governo, quando aplicado em ampliar investimentos em infraestrutura e gastos com serviços públicos, é o aumento da dívida pública, sem risco de inflação (o consumo está deprimido) ou de perda de credibilidade dos títulos públicos (a dívida cai depois de um período inicial de alta). Quando o Governo investe está automaticamente comprando bens e serviços do setor privado. O resultado é a retomada do crescimento global da economia. Aumenta a receita fiscal, reduzindo a dívida pública.
Refaçamos o circuito: consumo – gasto público – investimento – emprego – receita pública – consumo – redução da dívida. É um círculo virtuoso. Será que Meirelles e seus asseclas não sabem disso? É claro que sabem. Entretanto, se o objetivo ideológico do Governo é ampliar o espaço da privatização de empresas estatais, não faria nenhum sentido promover políticas de retomada do desenvolvimento a partir das próprias empresas públicas. Ao contrário, é preciso demonstrar de forma inequívoca que o setor público deve ser liquidado.
Brasil ladeira abaixo
Pib cai e prova que a depressão Temer/Meirelles continua
do Brasil 247Dados do Monitor do PIB, da Fundação Getúlio Vargas, divulgados nesta segunda-feira 21 mostram que a política econômica de Michel Temer e Henrique Meirelles fracassou e o Produto Interno Bruto recuou 0,24% no segundo trimestre deste ano na comparação com o primeiro trimestre; segundo a pesquisa, no primeiro trimestre o PIB tinha registrado alta de 0,99%; na comparação com o segundo trimestre de 2016, o recuo foi ainda maior: 0,30%; principal destaque negativo neste tipo de comparação foi a queda de 1,8% da indústria, influenciada pela redução de 7,4% do setor da construção.
Crise incubada, por Miriam M. Morais
Fechou a loja, está desempregado, tirou a filha da escola particular, cancelou a viagem de férias com a família e as prestações do apartamento estão atrasadas. Por instantes ele pensa: " E se eu tiver errado e Dilma não tiver quebrado o país, se tudo foi mesmo uma trava política para que os verdadeiros ladrões ocupassem o poder e com isso arrebentaram o pais, a minha vida, a vida da minha família?"
Ele desvia o pensamento. "Não... A crise estava encubada, Dilma e Lula são ladrões, a culpa é toda deles".
Tem coisa que passa a ser questão de sobrevivência emocional. Se ele não culpar Dilma e Lula, essa carga de ódio será revertida contra ele mesmo.
Durma em paz. Uma boa noite de sono! Talvez seja este o último desejo e refúgio possível para os milhares de brasileiros que estão perdendo tudo o que conquistaram em pouco mais de uma década em que experimentaram a prosperidade e foram felizes.
José Dirceu: Crise e Oportunidade
Quais são as prioridades na atual conjuntura do país? Vivemos um momento especial, de crise e oportunidade. O PT, por exemplo, tem a oportunidade de se unificar e reunir, dentro e fora do Parlamento, uma frente de forças políticas e sociais em torno de um programa mínimo para os próximos dois anos, com o objetivo de aprovar reformas que viabilizem a retomada do crescimento, sem abandonar nosso objetivo maior de combater a pobreza e a desigualdade, de distribuir a renda.
Objetivo que depende, em primeiro lugar e para além de ajustes fiscais, de uma ampla e geral reforma tributária. É imperativo também fazer a reforma política, para por fim ao atual sistema eleitoral e ao financiamento exclusivo empresarial.
As duas reformas exigem maioria no Congresso Nacional que não temos. A maior parte dos parlamentares é contra a taxação das grandes fortunas, das heranças e doações, da progressividade do Imposto de Renda, da taxação dos lucros financeiros e extraordinários. No máximo, o Congresso que aí está pode aprovar uma reforma do ICMS – que será um avanço – e do PIS-Cofins.
A maioria dos parlamentares não quer mudar nada
A reforma política encontra os mesmos obstáculos. A maioria dos parlamentares não quer mudar nada, não aceita o fim das coligações proporcionais e a cláusula de barreira, nem o voto em lista. Muito menos o fim do financiamento empresarial. Quando muito apóia o distritão; nem sequer o voto distrital misto parece ter maioria. O atual sistema é o principal responsável pelos custos das campanhas e pelo peso, cada vez maior, do poder econômico na eleição dos parlamentares.
É necessário organizar uma frente parlamentar-popular, para além do PT, e criar um programa e uma mesa diretiva para um movimento de médio prazo. É preciso começar a preparar uma nova aliança política que, mesmo derrotada em suas propostas no Congresso Nacional, lance as sementes de um programa de frente para o futuro. Defender o mandato da presidenta Dilma e nosso legado é fundamental, mas não basta. É necessário preparar uma linha de resistência para avançar no futuro.
É fundamental que o PT e o campo popular saiam em defesa da Petrobras, vítima da maior e mais sórdida campanha enfrentada em sua história, que põe em risco o modelo de partilha e obrigatoriedade de 60% de conteúdo nacional na operação do pré-sal. O PT e os segmentos populares precisam se lançar na resistência contra as forças que querem aproveitar a crise da empresa para colocar fim ao regime de partilha e levá-la à privatização.
Risco da maioria da Câmara converter-se em novo Centrão conservador
O risco maior é que a nova maioria formada na Câmara dos Deputados, com a eleição do novo presidente da Casa, se consolide e dirija as reformas à semelhança do Centrão na Constituinte de 1988.
O debate público em todos os foros, inclusive pelas redes sociais, e dentro da esquerda, o diálogo com os movimentos sociais e com lideranças e personalidades, têm por objetivo criar uma força político-social para se contrapor à agenda e à ação da direita neoliberal. Esta se rearticula e, agora, ganha espaço nas decisões mais importantes sobre a política econômica, com implicações que colocam em risco nosso projeto de desenvolvimento nacional.
Ao lado da defesa das conquistas e programas sociais, também é preciso colocar na pauta temas como os juros, o papel da dívida interna e do sistema bancário e financeiro. Além da questão do monopólio da mídia e uma estratégia de desenvolvimento para essa nova fase que se abre no país.
Fracasso do euro faria recrudescer nacionalismos arcaicos
O Presidente da República considera que o euro simboliza a vanguarda da integração europeia e alerta para os perigos da queda da moeda única.
Aníbal Cavaco Silva afirmou esta segunda-feira que o "fracasso da zona euro" seria perigoso até para os Estados-membros da União Europeia. "O euro representa a vanguarda da integração europeia. Um fracasso da zona euro poria em causa o mercado interno, faria recrudescer nacionalismos arcaicos e poria em causa o papel do próprio Estado", sublinhou o Presidente da República, num discurso proferido no Centro Cultural de Belém, no âmbito da celebração dos 40 anos de existência do semanário 'Expresso'.
Para além da importância da adesão portuguesa à União Europeia e à moeda única, o chefe de Estado destacou três elementos fundamentais para a afirmação de Portugal no mundo: "a língua, a diáspora e o mar, traços identitários através dos quais o país se tem afirmado" e que têm contribuído para o papel de "protagonistas ativos na construção e aprofundamento da União Europeia".
O Presidente da República voltou a sublinhar a necessidade de o país se reorientar para o mar e para a reindustrialização, apelando ainda aos líderes europeus que definam uma agenda para o crescimento económico e para o combate ao desemprego.
Num ano em que se "vão comemorar cinco séculos desde a chegada dos portugueses à China", Cavaco Silva salientou também o "capital de confiança e simpatia" de que a nação goza e lembrou que "foi na vertigem da viagem que Portugal se encontrou consigo próprio e com aquilo que tem de melhor".
por Octávio Lousada Oliveira
Leonídio Paulo Ferreira: os ricos não pagam a crise
Célebre por viver numa mansão de 27 andares com fama de ser a casa mais cara do mundo, o indiano Mukesh Ambani é o único dos 20 maiores magnatas mundiais que viu a fortuna em 2012 crescer abaixo do ritmo da economia do seu país. É que o ano que passou foi mesmo muito bom para os mais ricos. Fantástico ao ponto de nos primeiros 40 da lista elaborada pela Bloomberg só a australiana Gina Rinehart ter visto a riqueza minguar (-1,2%), espécie de mini castigo à mulher que herdou tudo mas manda trabalhar e parar de beber os que invejam os seus 14 mil milhões de euros.
Carlos Slim continua a ser o homem mais rico do planeta, com uma fortuna avaliada em 57 mil milhões de euros, mais 10,2% do que há um ano. No mesmo tempo, a economia do seu México terá crescido 4%. Quanto a Bill Gates, por enquanto o vice-rei dos magnatas, festejou um acréscimo de riqueza de 5,3%, bem mais do dobro do que Barack Obama conseguiu para a América.
O mais incrível desempenho vem de Amancio Ortega, terceiro homem mais abastado do mundo, que viu os seus milhares de milhões aumentarem 16,8% ao longo de 2012. Não esquecer que o dono da Zara vem de uma Espanha que enfrenta a recessão.
Claro que vivemos num mundo globalizado e que o dinheiro que os ricos ganham é conseguido muitas vezes fora de portas. O caso de Ortega é exemplar: é na Ásia que os negócios correm melhor ao filho de um ferroviário que começou por costurar na sala. Mas a economia mundial só cresceu 3,2% no ano passado e pelo menos os dez principais magnatas fizeram bastante melhor.
Até quando mundo bancará o quebrado EUA?
A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovou, nos últimos minutos do prazo fixado, projeto parcial de ajuste nas contas públicas que evita o chamado “abismo fiscal” e consequente nova recessão. Por 257 votos a favor e 167 contra, os congressistas mantiveram os cortes de impostos para a classe média e o aumento das taxas sobre os mais ricos. Como não houve acerto sobre gastos públicos, foi adiado para março o risco de o país enfrentar um corte automático de US$ 560 bilhões no setor até 2022 – US$ 110 bilhões somente neste ano – e uma possível suspensão dos pagamentos das obrigações da dívida, de fornecedores e servidores.
Os mercados, tanto nos EUA quanto na Europa, reagiram bem à medida.
A nova rodada de negociações será o primeiro desafio do segundo mandato de Barack Obama, que começa no dia 21.
As conversas serão dificultadas pela piora do ambiente para diálogo entre republicanos e democratas.
‘Acordo não reduz déficit’
Para o presidente do fundo de investimento Pimco, Mohamed El-Erian, o acordo aprovado ontem pelos congressistas faz “muito pouco para melhorar o panorama de médio prazo do déficit e da dívida do governo federal”.
Os mercados, tanto nos EUA quanto na Europa, reagiram bem à medida.
A nova rodada de negociações será o primeiro desafio do segundo mandato de Barack Obama, que começa no dia 21.
As conversas serão dificultadas pela piora do ambiente para diálogo entre republicanos e democratas.
‘Acordo não reduz déficit’
Para o presidente do fundo de investimento Pimco, Mohamed El-Erian, o acordo aprovado ontem pelos congressistas faz “muito pouco para melhorar o panorama de médio prazo do déficit e da dívida do governo federal”.
No Brasil o governo petista diminui a pobreza. No EUA aumenta
E tucademos seguem a mesma receita de lá. Depois não sabem porque perdem eleições
A grande mídia continua a insistir que a economia está "cada vez melhor", mas os números de pobreza para crianças e jovens apenas continuar a explodir. Por exemplo, você sabia que a taxa de pobreza para as famílias com um chefe de família sob a idade de 30 é um 37 por cento gritante? Crianças e jovens com certeza não causar a nossa recente crise econômica, mas com certeza estão sendo mais duramente atingidos por ela. De acordo com o Departamento de Educação dos EUA, pela primeira vez, cada vez mais de um milhão de estudantes de escolas públicas dos EUA estão desabrigadas. Isso parece um número impossível, mas é realmente verdade . Como no mundo poderia a "nação mais rica da Terra" chegar ao ponto onde mais de um milhão de crianças não pode contar com uma cama quente para dormir à noite? Infelizmente, um grande número de crianças norte-americanas não podem contar com um jantar quente também. Cerca de um quarto deles estão matriculados no programa de cupons de alimentação. O que você faz se você é um pai nesse tipo de situação? Como você explica para seus filhos que você não pode pagar uma boa casa, como todo mundo tem ou que você não pode dar ao luxo de ir ao supermercado e comprar o jantar? Leia mais>>>
A grande mídia continua a insistir que a economia está "cada vez melhor", mas os números de pobreza para crianças e jovens apenas continuar a explodir. Por exemplo, você sabia que a taxa de pobreza para as famílias com um chefe de família sob a idade de 30 é um 37 por cento gritante? Crianças e jovens com certeza não causar a nossa recente crise econômica, mas com certeza estão sendo mais duramente atingidos por ela. De acordo com o Departamento de Educação dos EUA, pela primeira vez, cada vez mais de um milhão de estudantes de escolas públicas dos EUA estão desabrigadas. Isso parece um número impossível, mas é realmente verdade . Como no mundo poderia a "nação mais rica da Terra" chegar ao ponto onde mais de um milhão de crianças não pode contar com uma cama quente para dormir à noite? Infelizmente, um grande número de crianças norte-americanas não podem contar com um jantar quente também. Cerca de um quarto deles estão matriculados no programa de cupons de alimentação. O que você faz se você é um pai nesse tipo de situação? Como você explica para seus filhos que você não pode pagar uma boa casa, como todo mundo tem ou que você não pode dar ao luxo de ir ao supermercado e comprar o jantar? Leia mais>>>
Artigo semanal de José Dirceu
O diagnóstico e as respostas à crise, por José Dirceu
A crise financeira que abala o velho continente e o receituário da austeridade que aprofunda a recessão em países como Espanha e Itália continuam colocando um grande ponto de interrogação sobre o futuro do continente e dos demais países que sofrem seus efeitos colaterais.
Em Cádiz, neste mês, durante a realização da Cúpula Ibero-Americana, o tema foi dominante. A presidenta brasileira, Dilma Rousseff, que discursou na abertura do evento, foi das mais críticas às políticas que pregam corte de gastos governamentais e aumento de impostos para reduzir o déficit público, defendendo a flexibilização dessas medidas e a volta do investimento e do consumo como caminho para evitar o agravamento da situação.
Nesta semana, um dos autores do "Manifesto pela Razão Econômica", o professor britânico Richard Layard, apresentou posição semelhante em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, esclarecendo que as respostas que estão sendo dadas pelos líderes europeus não estão funcionando, pois o diagnóstico das causas que levaram à crise foi equivocado.
Segundo Layard, ao contrário do que se dissemina, a crise não foi provocada por orçamentos públicos irresponsáveis, mas sim pela inconsequência do setor privado na concessão e na tomada de empréstimos, resultando no colapso bancário que levou à recessão, a qual, por sua vez, produziu o déficit público.
O professor explica que o endividamento excessivo do setor privado foi possível pela fragilidade da regulação do sistema bancário e pelos riscos injustificados assumidos pelos bancos.
Layard lembra que até 2008, a maioria dos países europeus tinha orçamentos responsáveis, inclusive Espanha e Itália, que hoje estão entre os que mais sofrem dificuldades econômicas e sociais decorrentes da atuação de seus governos para socorrer os bancos.
O desemprego, principal sintoma desta doença recessiva, atinge níveis alarmantes nestes países. Na Itália, em setembro, o desemprego bateu recorde histórico e chegou a 10,8%, o maior índice desde 2004. Entre os mais jovens, a taxa de desemprego subiu para 35,1%.
Já na Espanha, o número de desempregados no terceiro trimestre do ano alcançou 25% da população ativa, também um recorde.
Quando perguntado sobre as consequências da manutenção destas políticas, que têm mais cortes previstos para 2013, Layard é taxativo ao apontar o prolongamento da recessão. Para ele, a falta de investimentos pelas empresas e a contenção feita pelas famílias para tentar reduzir suas dívidas tendem a aumentar o desemprego, se o Estado não atuar para "preencher o vazio".
Segundo o professor, é preciso, sim, que os governos se disponham a incorrer em déficit para estimular a economia. O que está acontecendo, ressalta, é que ao cortar gastos públicos e aumentar os impostos para diminuir a dívida, gera-se uma crise de confiança que atrasa a recuperação e torna ainda mais difícil atingir este objetivo. Portanto, conclui, se continuarem a colocar a redução do déficit como prioridade, a situação só irá piorar.
O baixo crescimento das economias europeias e o aumento de seus déficits fiscais sinalizam que as políticas que enfatizam a austeridade já mostram seus limites. Portanto, não faz sentido continuar impingindo aos cidadãos enormes sacrifícios como as reduções de salários, desemprego e perda de seus direitos sociais. Além disso, a demonstração de rigor não será, por si só, suficiente para garantir a confiança do mercado internacional.
Como salientou a presidenta Dilma em Cádiz, a confiança não se constrói apenas com sacrifícios, mas também com resultados concretos que apresentem às pessoas um horizonte de esperança e não apenas a perspectiva de mais anos de sofrimento.
A presidenta fez ainda uma lembrança muito bem colocada sobre a situação vivida pelo Brasil nos anos 1980, conhecida como a "década perdida", quando enfrentávamos alto endividamento e estagnamos economicamente, por conta de políticas de rígido ajuste fiscal, que só aprofundaram nossas desigualdades sociais.
Em contrapartida, o modelo de crescimento econômico com inclusão social, adotado pelo governo Lula, fundamentado na geração de emprego e renda e no estímulo ao mercado interno, se mostrou crucial para assegurar o desenvolvimento sustentado ao longo dos últimos anos.
Por todas as evidências de poucos resultados que se mostram até aqui, é difícil sustentar as alegações de que o receituário da austeridade seja o mais recomendável para a maioria dos países europeus.
O que é certo, entretanto, é que tais políticas podem levar a uma espiral de recessão e de desemprego que, ao invés de resolver o problema da dívida, o agravará.
As respostas à crise são outras e os exemplos são fartos. O que falta agora é coragem de reorientar a rota e priorizar o investimento, o emprego e o bem-estar da maioria dos cidadãos.
Nem todos os gregos são solidários
O cidadão tem apenas 1 euro para pagar pelas frutas que Aggeliki acaba de lhe entregar em um saco plástico. Diz a feirante: “O senhor me paga os 4 euros quando tiver dinheiro”.
As condições financeiras de Aggeliki, diga-se, não são muito melhores do que as do cidadão nascido em Bangladesh, um faxineiro de 44 anos. Aos 55 anos e a trabalhar no mercado de Ferameikos, no centro de Atenas, a feirante oriunda de Corinto, cidade na periferia do Peloponeso, chegou no trabalho às 5 da manhã e até agora, meio-dia, faturou menos de 20 euros. Dois anos atrás, ganhava cerca de 80% a mais do que hoje. Aggeliki vive com o marido desempregado e três filhos, de 22 a 28 anos, todos com diplomas universitários, e, como o pai, em busca de trabalho.
“Eles aceitam qualquer emprego, nem precisa ser da área deles, porque não temos aquecimento em casa e falta comida”, diz Aggeliki.
Ela sofre de dores de cabeça terríveis, mas quando foi ao hospital diagnosticaram um problema psicossomático. Uma senhora, de passagem, oferece uma nota de 5 euros para o faxineiro de Bangladesh. Ele hesita, mas a senhora insiste. Ele troca a nota por 5 moedas de 1 euro e paga a dívida com Aggeliki. No entanto, nem todos os gregos são solidários. Leia mais>>>
O Brasil rejeita a malandragem
Na Espanha, a presidente Dilma está comprovando a certeza de que crises econômicas não se resolvem com redução de salários, aumento de impostos, demissões em massa no serviço público, nas empresas privadas, privatizações e supressão de direitos sociais.
Essa receita, tão a gosto dos países e das comunidades financeiras que controlam o planeta, vem determinando de Norte a Sul a reação dos explorados. Tanto em Cadiz como em Madri, as multidões em protesto tumultuaram e até impediram a passagem de comitivas estrangeiras empenhadas em impor a fórmula dos ricos e dos especuladores sobre as massas que, como sempre, vêem-se condenadas a pagar a conta das falcatruas de quantos as dirigem.
Desde o início da crise que a presidente brasileira insurgiu-se contra a solução das elites, infelizmente ainda dominante.
Foi bom que ela assistisse ao vivo e em cores a demonstração do esgotamento e da falência do modelo que rejeitou desde o primeiro momento. Terá reforçadas suas convicções. Leia mais>>>
Economia: a crise está na moda
[...]pelo menos na Europa ou em alguns de seus países. Contra ela, têm saído às ruas portugueses, gregos e espanhóis em manifestações como as de Madri e Atenas, com direito a violenta repressão policial. Dá vontade de dizer: vocês são nós ontem. Também já gritamos “abaixo o FMI” e “o povo unido jamais será vencido”.
Quem nos anos 70 acompanhou a transição da ditadura para a democracia de Portugal e Espanha, contemporânea à nossa, dando-nos lições de competência política, ensinando-nos como atingir equilíbrio econômico sem hiperinflação, sem traumas, enfim, quem sentiu inveja do renascimento português, da movida madrilhenha e de todos os sinais da outrora pujante península ibérica, não se conforma com o que está acontecendo hoje.
Se os efeitos perversos do empobrecimento já são visíveis no campo social — presença de mendigos nas ruas, delinquência — imagine no terreno da cultura. Portugal cortou até o seu ministério, sem falar nas 40 fundações fechadas ou à míngua.
É estranho ler num jornal de Lisboa a previsão de que “2013 será o pior ano de nossas vidas”, como se 2012 tivesse sido muito melhor. Ou então no “El País”: “A cultura enfrenta o ano mais difícil da história da democracia”, tendo ao lado a informação de que os museus do Prado, da Reina Sofía e o Teatro Real — três ícones culturais — já sofreram cortes de até 65%.
Várias vezes voltei de Portugal entusiasmado com a opulência e a fartura de lá. Os portugueses gastavam de dar gosto. Pois é, foram além das chinelas. O euro da União Europeia era farto, mas um dia tinha que ser devolvido — com juros.
Como sabia disso, o governo é o principal responsável, não só o de agora como o do socialista José Sócrates, que em 2011 assinou o “memorando da Troika“ (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI), declarando ser um acordo “muito bom”, porque permitia controlar o déficit público sem mexer com o 13º salário, nem com o 14º, muito menos com os empregos, nem cortes, ou seja, uma maravilha: o contrário de tudo que está ocorrendo hoje.
Enquanto isso, leio que aqui 41% dos consumidores são ou já foram inadimplentes. Conheço pessoas de baixa renda ou sem recursos suficientes, comprando carro do ano, usando dois celulares, computador de último tipo, tudo pago com cartões de crédito em prestações intermináveis.
A exemplo dos portugueses de ontem, os brasileiros estão gostando de gastar. Não entendo de economia, mas, apesar das diferenças, não sei se será essa a maneira mais sensata de manter a crise afastada de nós.
Crônica semanal de Luis Fernando Verissimo
A narrativa
Fizeram um filme do romance apocalíptico do Don DeLillo chamado “Cosmópolis”. O diretor é David Cronemberg e o filme é sobre um dia na vida de um jovem financista, um dos mestres do universo, que comanda seus negócios internacionais de dentro de uma limusine impermeável enquanto lá fora o mundo — ou pelo menos Nova York — desmorona.
No filme há uma fala, não sei se do DeLillo ou do roteirista, que define tanto o poder do jovem protagonista, que pode arruinar nações inteiras com um toque no seu celular, quanto o caos que o cerca. “Toda riqueza se transformou em riqueza apenas pela riqueza, e o dinheiro, tendo perdido sua qualidade de narrativa, passou a só falar com ele mesmo.” Perfeito.
O dinheiro perdeu seu papel na grande narrativa do capitalismo que vem da acumulação primitiva de capital e da industrialização e chegou à globalização, e hoje é apenas um interlocutor de si próprio. A narrativa acabou, a riqueza se acumula entre poucos e beneficia ainda menos e o dinheiro, desobrigado de fazer sentido e de seguir qualquer espécie de roteiro, só produz monstros como o jovem financista do filme.
O capital financeiro dita a historia econômica do mundo e inventou uma nova categoria literária: o dialogo de um só.
Gostei de saber que um grupo de economistas de varias partes do mundo lançou um manifesto criticando o que parecia ser uma quase unanimidade — as exceções eram Paul Krugman e três ou quatro outros — a favor das medidas de austeridade e sacrifício de gastos sociais para combater a atual crise econômica global provocada pelo capital financeiro.
O grupo reage à ortodoxia monetarista que faz a vítima pagar pelos desmandos do vilão e tenta interromper o autodiálogo do dinheiro endossado por tantos economistas. Felizmente, não por todos.
A grande narrativa do capitalismo foi excitante, enquanto durou. Revolucionou a vida humana e, junto com suas barbaridades, fez coisas admiráveis. Tudo que era sólido se desmanchava no ar, para ser recriado no ciclo seguinte. Mas nem Marx previu que seu fim seria este: no meio de um mundo em decomposição, o dinheiro falando sozinho.
Economia: "ACALMAR OS MERCADOS” SÓ AUMENTA A CRISE!
Miguel Ángel Moratinos, ex-ministro espanhol de Asuntos Exteriores y de Cooperación - El País, 14)
Em toda esta crise, complexa e diferente, a classe política está paralisada e não exerce sua capacidade de prever, influir e regular os acontecimentos. Sua resposta tem sido unívoca: “acalmar os mercados!”. Todas as decisões são tomadas com a esperança de que os mercados terminem por tranquilizar-se apaziguar-se em sua rotina.
Ter esta atitude em uma primeira fase poderia ser compreensível. Mas estes últimos meses demonstraram que essa disposição não é só errônea, mas contraproducente. Em lugar de acalmar o mercado, estimula sua voracidade como Pantagruel de Rabelais, que engole insaciavelmente qualquer iniciativa, exigindo mais dietas hipocalóricas aos cidadãos, as instituições e aos serviços dos Governos.
Deve-se sublinhar que chefes de governo, ministros e quase a totalidade dos estamentos políticos e econômicos ocidentais compartilham apenas a angústia de observar como evoluem esses mercados, enquanto se perguntam se são capazes de prever como os tratarão na próxima semana.
O que realmente está em perigo não é a economia, mas a política. A solução passa por reivindicar a política. Agora deveríamos gritar alto e forte: “é a política, estúpido!”. Ninguém duvida que algumas recomendações e atuações teriam que ser aplicadas. E poucos poderão criticar o princípio de estabilidade orçamentária, mas sempre e quando esta leve a bom termo a política promovida pelos Governos. Quando superemos os efeitos paliativos da convalescência econômica, nossa anorexia política e social nos impedirá levantar e caminhar.
Ninguém com senso comum questiona o sistema de mercado. Mas qualquer cidadão lúcido se pode perguntar hoje quem governa seu Estado: os mercados ou seus representantes democraticamente eleitos. É aí onde a Política com maiúscula tem que responder e oferecer soluções. É agora quando os cidadãos tem que constatar que todos os políticos e todas as políticas não são iguais. Uma coisa é corrigir as deficiências dos mercados e, outra, bem distinta, é que a política abdique de suas responsabilidades e capacidade de influenciar os mercados que não funcionam ou vão contra os últimos interesses da cidadania.
Esse é um desafio político cujo enfoque diferencia as correntes políticas e os partidos. É o tempo da política, mas de uma política global, regional, estatal e local mais audazes e mais eficazes.
Em toda esta crise, complexa e diferente, a classe política está paralisada e não exerce sua capacidade de prever, influir e regular os acontecimentos. Sua resposta tem sido unívoca: “acalmar os mercados!”. Todas as decisões são tomadas com a esperança de que os mercados terminem por tranquilizar-se apaziguar-se em sua rotina.
Ter esta atitude em uma primeira fase poderia ser compreensível. Mas estes últimos meses demonstraram que essa disposição não é só errônea, mas contraproducente. Em lugar de acalmar o mercado, estimula sua voracidade como Pantagruel de Rabelais, que engole insaciavelmente qualquer iniciativa, exigindo mais dietas hipocalóricas aos cidadãos, as instituições e aos serviços dos Governos.
Deve-se sublinhar que chefes de governo, ministros e quase a totalidade dos estamentos políticos e econômicos ocidentais compartilham apenas a angústia de observar como evoluem esses mercados, enquanto se perguntam se são capazes de prever como os tratarão na próxima semana.
O que realmente está em perigo não é a economia, mas a política. A solução passa por reivindicar a política. Agora deveríamos gritar alto e forte: “é a política, estúpido!”. Ninguém duvida que algumas recomendações e atuações teriam que ser aplicadas. E poucos poderão criticar o princípio de estabilidade orçamentária, mas sempre e quando esta leve a bom termo a política promovida pelos Governos. Quando superemos os efeitos paliativos da convalescência econômica, nossa anorexia política e social nos impedirá levantar e caminhar.
Ninguém com senso comum questiona o sistema de mercado. Mas qualquer cidadão lúcido se pode perguntar hoje quem governa seu Estado: os mercados ou seus representantes democraticamente eleitos. É aí onde a Política com maiúscula tem que responder e oferecer soluções. É agora quando os cidadãos tem que constatar que todos os políticos e todas as políticas não são iguais. Uma coisa é corrigir as deficiências dos mercados e, outra, bem distinta, é que a política abdique de suas responsabilidades e capacidade de influenciar os mercados que não funcionam ou vão contra os últimos interesses da cidadania.
Esse é um desafio político cujo enfoque diferencia as correntes políticas e os partidos. É o tempo da política, mas de uma política global, regional, estatal e local mais audazes e mais eficazes.
Rapinagem Germany
por Luis Fernando Veríssimo
A melhor observação que li sobre a crise das dívidas na Europa foi a de um leitor da “London Review of Books” que, numa carta à publicação, comenta as queixas dos alemães inconformados com a obrigação de mandar seus euros saudáveis para sustentar a combalida economia grega.
O leitor estranha que ninguém se lembre de perguntar sobre as grandes reservas de ouro que os alemães levaram da Grécia durante a Segunda Guerra Mundial — e nunca devolveram. Só os hipotéticos juros devidos sobre o valor do ouro roubado dariam para resolver, ou pelo menos atenuar, a crise grega.
O autor da carta poderia estranhar também o silêncio que envolve um exemplo mais antigo de pilhagem, a dos tesouros artísticos da Grécia Antiga levados na marra e de graça para os grandes museus da Alemanha. Seu valor garantiria com sobras a ajuda aos gregos que os alemães estão dando com cara feia.
É claro que se, num acesso de remorso, os alemães decidissem devolver ou pagar o que levaram da Grécia estaria estabelecido um precedente interessante: a América poderia muito bem reivindicar algum tipo de retribuição da Europa pelo ouro e pela prata que levaram daqui sem gastar nada e sem pedir licença, durante anos de pilhagem.
Que não deixaram nada no seu rastro salvo plutocracias que continuaram a pilhagem e sociedades resignadas à espoliação. Alguém deveria fazer um calculo de quanto a metrópole deve às colônias pelo que não pagou de direitos de mineração no tempo da rapinagem desenfreada. Só por farra.
Quanto às reservas de ouro levadas da Grécia pela Alemanha nazista, a observação do leitor da “London Review” mostra como a História não é linear, é um encadeamento. A atual crise do euro e da comunidade europeia é a crise de um sonho de unidade que asseguraria a paz e evitaria a repetição de tragédias como as das duas grandes guerras.
Sua meta era uma igualdade econômica, que dependia de um equilíbrio de forças, que dependia de a Alemanha como potência econômica ser diferente da Alemanha que invadiu e saqueou meia Europa.
Os alemães atuais não têm culpa pelos desmandos dos nazistas, mas não podem renunciar à força desestabilizadora que têm, que continuam a ter. Como a Grécia não pode evitar de ter saudade do seu ouro, do qual nunca mais ouviu falar.
Economia: é apenas um museu de novas crises
O texto abaixo foi escrito em 1872, por Eça de Queirós
"Nós estamos num estado comparável apenas à Grécia: a mesma pobreza, a mesma indignidade política, a mesma trapalhada económica, a mesmo baixeza de carácter, a mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se em paralelo, a Grécia e Portugal"
(em As Farpas)
Tucademospiguiniânus: otimistas irracionais
Especulações e Fatos, por Marcos Coimbra
De uns tempos para cá, começou a ganhar circulação a ideia de que estamos marchando em direção à confluência de duas crises. Ambas graves.
De um lado, uma crise na economia, cujos sinais seriam já evidentes: redução do ritmo do crescimento, diminuição do investimento externo, retração na industria, queda no comércio internacional.
De outro, uma crise política, ainda não explicitada por completo, mas latente. Indicando-a, os recentes problemas no relacionamento político dentro da coalizão governista e uma presumida desarmonia na administração federal.
Não se estabelece com clareza quando as duas se encontrariam. Mas fica subentendido que antes de outubro de 2014. Ou seja, em tempo de influenciar - ou mesmo revolucionar - o ambiente em que ocorrerá a próxima eleição presidencial.
Não se estabelece com clareza quando as duas se encontrariam. Mas fica subentendido que antes de outubro de 2014. Ou seja, em tempo de influenciar - ou mesmo revolucionar - o ambiente em que ocorrerá a próxima eleição presidencial.
Trocando em miúdos: a sucessão de Dilma, antes previsível, estaria se tornando incerta. O amplo favoritismo que tem hoje seria engolido pelas crises, uma reforçando e amplificando a outra.
É desnecessário dizer que a tese da “crise perfeita que se avizinha” foi elaborada e está sendo difundida pelas oposições, muito especialmente a oposição não-partidária, na sociedade civil e na imprensa.
É difícil, atualmente, ler algum comentário ou interpretação que não a mencione ao discutir o cenário político atual e suas perspectivas. Tudo passou a ser visto em função dela.
Até coisas que nada têm de real.
Só um otimista irracional acreditaria que a economia brasileira poderia atravessar incólume as intempéries que atingem os países avançados. Vamos pagar um preço por elas e já o estamos pagando em alguns setores.
A questão não é, portanto, se teremos ou não dificuldades econômicas no futuro imediato, mas qual sua intensidade e quais suas consequências na política, mais especificamente na eleição de 2014. É isso que alguns pintam com cores sombrias, pois não gostam da perspectiva que sejam menos agudas.
Para estimar o que aguarda Dilma, convém não esquecer que Lula viveu a manifestação anterior dessa crise na economia global sem solavancos na popularidade.
Entre o final de 2008 e os primeiros meses de 2009, as pesquisas mostraram um expressivo incremento das preocupações da população a respeito de inflação, desemprego e perda de capacidade de consumo. Elas atingiram seu pico em dezembro de 2008, quando, em pesquisa da Vox Populi, 58% dos entrevistados disseram esperar a subida da inflação e 63% o aumento do desemprego.
Enquanto isso, a avaliação positiva do governo Lula sempre se manteve elevada, indo, de acordo com dados do Datafolha, de 55% em março de 2008 a 65% um ano depois, em março de 2009. Em outras palavras, atravessando a turbulência em ascensão.
O que vemos é que não há incompatibilidade entre percepção de problemas econômicos e aprovação governamental. Ao contrário do que pensam alguns, as pessoas são perfeitamente capazes de separar as duas coisas.
Quanto à “crise política”, o que estamos presenciando agora nada tem de diferente do que sempre acontece às vésperas de eleições municipais. Nelas, as alianças e coligações raramente repetem, em cada lugar, os acordos nacionais. Quem anda junto na hora de escolher presidente pode caminhar separado quando se discutem prefeituras.
Assim, as desavenças pontuais entre os partidos da base governista nada sinalizam quanto ao comportamento que adotarão daqui a dois anos. Lá, avançarão unidos - ou não - em função do que estiver acontecendo no momento, sem nem se lembrar que se enfrentaram neste ou naquele município.
Quem lê a imprensa internacional fica com impressão bem diferente do horizonte à nossa frente. Ninguém aposta - ou deseja - a “crise perfeita”.
No fundo, a tese nada mais é que a admissão de que, se nada de catastrófico ocorrer, a política brasileira continuará fundamentalmente como está.
O que equivale a reconhecer a força e a capacidade do “lulopetismo” e a julgar com severidade as oposições e suas lideranças.
Nouriel Roubini prevê: dias piores virão
[...] No ano que vem poderemos ter uma tempestade global perfeita.
[...] Penso que em 2013 os formuladores da política serão incapazes de evitar a perda de fôlego da economia, que o lento acidente de trem da zona do euro vai se tornar um acidente veloz, que os Estados Unidos parecem próximos de parar e mergulhar em uma nova recessão — segundo os dados econômicos mais recentes –, que o pouso da China está se tornando mais duro que suave, e que todos os mercados emergentes também estão reduzindo fortemente seu crescimento econômico, todos os BRICs — China, Rússia, Índia e Brasil — mas também o México e a Turquia, parcialmente por causa da recessão na Europa e no Reino Unido, do crescimento lento dos EUA, parcialmente porque não fizeram as reformas para aumentar a produtividade e potencializar o crescimento, e finalmente porque existe a bomba relógio de uma potencial guerra entre Israel, Estados Unidos e Irã.
As negociações fracassaram, as sanções vão fracassar, Obama não quer a guerra antes das eleições, mas depois das eleições, seja Obama eleito ou [Mitt] Romney, as chances são de uma decisão dos Estados Unidos de atacar o Irã, então você terá os preços do petróleo dobrando da noite para o dia. É uma tempestade perfeita: colapso da zona do euro, nova recessão nos EUA, pouso duro da China, pouso duro dos mercados emergentes e guerra no Oriente Médio.
Muito piores porque, como em 2008, agora você tem uma crise econômica e financeira, mas diferentemente de 2008 não há mais balas para usar. Naquela época podíamos cortar os juros de 6% para 0, 1, 2 ou 3, podíamos dar estímulos fiscais de até 10 por cento do PIB, podíamos resgatar os bancos e todos os demais. Hoje, mais QEs [Quantitative Easing, a impressão de dinheiro pelo Tesouro dos Estados Unidos] está se tornando menos eficaz porque o problema é de solvência, não de liquidez; os déficits fiscais já são solares, todos precisam reduzir os déficits, não dá para aumentar; e não dá mais para resgatar os bancos porque, um, existe oposição a isso, dois, os governos estão quase insolventes, não podem se salvar, o que dizer salvar os bancos. O problema é que estamos sem balas na agulha, estamos sem coelhos para tirar das cartolas políticas. Se um derretimento dos mercados e da economia acontecer não temos mais a rede de segurança para absorver os choques, porque gastamos os últimos quatro anos atirando 95% da munição. Poderá [2013] ser pior que 2008. Leia íntegra da entrevista Aqui
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