Sou antiraças

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Turismo

[...] Viagem no tempo
Há, em Paris, mil maneiras de viajar no tempo.

A mais evidente é passear em qualquer um dos museus da cidade. Do gigantesco Louvre à deliciosa Maison de Balzac, com o mínimo de sensiblidade qualquer visitante é rapidamente abduzido para uma época distante.
No fundo, em Paris nem é preciso entrar em lugar algum para se viajar no tempo. Basta andar pelas ruas: as fachadas de seus grandes boulevares, as placas na porta de cada escola em homenagem às crianças judias entregues aos nazistas, as estátuas degoladas na Notre-Dame, seus paralelepípedos que viraram armas em 1968 - tudo conta uma história.
Mas recentemente encontrei um novo DeLorean (para quem não lembra, era o carro do filme De volta para o futuro): os sebos de livros e, principalmente, de jornais e revistas.
Os primeiros já eram velhos conhecidos - é difícil ignorá-los, especialmente os do Boulevard Saint Michel. Imagine: livros em bom estado por dois euros. Alguns por vinte centavos. E não pense que é qualquer livro, não: Beauvoir, Proust, até mesmo os latino-americanos Cortázar e García Marquez são figurinhas fáceis por ali.
Visitar esses sebos - nutrindo aquela duvidazinha gostosa, será que hoje encontro uma preciosidade? - é perigoso à beça. Já vi (de perto) gente se viciar ao ponto de não sobrar uma prateleira vazia em casa.
Minha nova diversão são os sebos de jornais e revistas. Sempre é divertido ler notícias velhas - mas por aqui é ainda melhor. Sobejam publicações não de 1960 ou 1970, mas do século XIX...
Revistas parentais sugerindo punições impublicáveis, de ciências prevendo inventos nunca realizados, de fofoca com a Brigitte Bardot na capa, sem falar nas revistas Playboy com mulheres vestidas...
Meu mapa da mina fica na rue des Archives, em pleno Marais - a loja batizada de Les Archives de la Presse, organizada mas empoeirada, tem até um site na internet.
Único porém: não espere encontrar grandes pechichas. Por lá, só (alguns) almanaques e livros de suspense de quinta categoria custam ninharias. Uma revista com a Audrey Hepburn na capa, por exemplo, passa dos 20 euros. Mas, pensando bem, para uma viagem no tempo, até que não é caro.

Carolina Nogueira