Nelson Rodrigues era um fanfarao de boteco

Nelson Rodrigues nunca revelou algo interessante sobre o comportamento humano. Nadinha. Não se é um escritor da "natureza humana" por ser escroto, ainda que se possa ser genial sendo um escritor escroto. Nelson é genial, mas "mulher gosta de apanhar" não é algo para ser complementado com "só as normais" e, sim, com o seguinte adendo: essa frase de Nelson não é para ser repetida por quem quer escrever filosofia ou literatura. Não é para ser repetida por filósofos porque estes podem fazer frases melhores, também não por literatos porque ela só tem sentido se nos imaginarmos em bailes de um passado distante quando, estando só entre rapazes, dizíamos "vou contar um chiste para homens", no estilo de Fernando de Azevedo.

Rubem Fonseca é diferente. Aí sim há alguém capaz de falar do drama humano. Aliás, Rubem Fonseca é tão bom que ao falar dele como quem é um escritor da "natureza humana", tenho vontade de utilizar essa expressão sem o uso das aspas, como se faria ou se fez no século XVIII ou mesmo XIX. Ele é genial para além do que um escritor é aceito como genial. É um escritor nota dez porque diz que vai terminar um conto de uma tal maneira e, cumprindo o prometido, ainda assim consegue surpreender. Li um conto dele recentemente em que um homem que aprecia morder, ao final do conto diz que gostaria de matar o assassino de sua amante com mordidas, e então cai em si confessando "mas eu só sei dar mordidas de amor" – e de fato são essas as mordidas que aparecem durante o conto, como fio condutor da história.


Prazer e sexo, amor e felicidade – essas duplas são legítimas? 

A virgindade de todos nós.

Quão grande tem de ser o cemitério?

. Almas sensíveis terão ficado penalizadas, mas o mundo logo volta às suas refeições habituais porque, afinal, quem se preocupa com negros pobres que tentam alcançar a segurança de um porto europeu?

Naufrágios como o de quinta-feira são rotina no Mediterrâneo, a ponto de terem também sumido do noticiário a não ser quando o número de mortos é elevado como agora ocorreu.
A prefeita de Lampedusa, Giusi Nicolini, tenta sacudir os governantes, não apenas os italianos. Chegou a escrever uma carta à União Europeia com a pergunta: "Quão grande tem que ser o cemitério da minha ilha?"

Se depender da resposta da comunidade internacional, cara Nicolini, terá que ser tão grande quanto o mar para que caibam todos os náufragos dessa "globalização da indiferença", como a definiu o papa Francisco, ao falar exatamente em Lampedusa a propósito do descaso para com os migrantes.
Clóvis Rossi

Eduardo Campos vai reproduzir, simplificado, o discurso da direita


O PSB saiu do governo Dilma com o discurso de liderar um novo projeto político, tendo à frente Eduardo Campos, pré-candidato da sigla à presidência. Entretanto, as alianças e novas filiações apontam na direção de um projeto político antigo e superado. Ao buscar um distanciamento da aliança histórica petista, se aproxima principalmente do PSDB  em estados de grande densidade eleitoral, como São Paulo e Minas Gerais, e ainda traz para o seu campo nomes conhecidos da direita nacional, como Paulo Bornhausen, secretário do Desenvolvimento de Santa Catarina. "Fazemos um apelo aos socialistas sérios do PSB para que reflitam sobre o rumo que o partido está tomando", disse o deputado Raul Pont.

A coerência política, inclusive, está sendo motivo de várias desfiliações do PSB nos últimos dias. Os irmãos Ciro e Cid Gomes, e a maioria dos integrantes do governo de Ceará, promoveram uma desfiliação em massa da sigla e classificam Campos como "oportunista". "Eu acho que ele está em uma aventura pessoal, vai afundar o PSB nisso, mas é problema dele", disse Ciro Gomes no último dia 1º. O grupo liderado pelo governador Cid Gomes é favorável ao apoio à reeleição da presidenta Dilma Rousseff.

Da mesma forma, o PSB no Espírito Santo e Amapá reafirmaram seus compromissos com o projeto nacional liderado por Dilma e o conjunto dos partidos que lhe dão sustentação. Isso expressa o isolamento de Eduardo Campos no interior de seu próprio partido.

Além de Bornhausen (SC) e Heráclito Fortes (DEM-PI), das figuras mais reacionárias e antiesquerda do país, revela que o projeto Eduardo Campos é muito mais de fortalecimento e unidade com a direita tucana (MG e SP) do que um caminho próprio e alternativo ao governo Dilma. "Esperamos que grande parte dos socialistas gaúchos não embarquem nessa aventura", disse Pont.

Magistrados pisando em ovos

Assistindo ontem à sessão do TSE me deu a impressão que os ministros estavam pisando em ovos. Parece que o julgamento dos Embargos Infringentes na AP 470 deu uma sacudida forte na magistratura, e fez o trem voltar aos trilhos. É muito perigoso, e os ministros sabem disso, rasgar a Constituição ao sabor de interesses políticos. Afinal, seja para uns ou outros a Carta Magna é uma garantia, uma âncora na qual juízes responsáveis podem se ancorar se medo de errar.
Gilmar Mendes é - sempre foi - um elemento utilizado pelos tipos mais reacionários e extremistas do país apenas para conseguir manchetes e argumentos para a sua eterna parceira, a grande mídia. No mais, como disse certa vez Joaquim Barbosa, sua alma gêmea, S Exª não tem qualquer pudor em destruir a credibilidade do poder judiciário.
Por Zuleica Jorgensen 

A Globo quer transformar o país inteiro num puteiro

"Nada contra o nu, pelo contrário. O nu dentro de um contexto artístico é lindo e muito bem vindo. Mas na TV (sempre a Globo, claro) apelando para o ibope sem nenhum contexto, só mostrar a genitália por mostrar no intuito apenas de chocar, é de uma vulgarização sem limites do corpo. Enfim, a intenção sempre foi essa mesma, transformar o Brasil inteiro num puteiro."

via Dani Tristão e Lúcia Adélia Fernandes

Conselho da noite

Pare de olhar para trás. Pelo passado você já passou. Agora é o presente que interessa.

Dia do poema

Amo-te Sem Saber Como
 Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou seta de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Amo-te como a planta que não floriu e tem
dentro de si, escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te directamente sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,

a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.

Pablo Neruda, in "Cem Sonetos de Amor"

Espera! Pare! Não olhe!

Esta não é uma boa matéria!
Se for muito delicado (a) não leia este texto.
Feitos os devidos avisos, retiradas as crianças da sala, podemos ir direto ao assunto.
Bom, se você é homem, se é heterossexual, então você tem um certo problema com as mulheres — e deve ficar feliz por isso.
A natureza do seu problema é franca e cruamente apresentada por Robert Crumb em sua narrativa confessional Meus Problemas com as Mulheres. E, acredite, Robert Crumb é um especialista nesse assunto.
E qual é esse problema?
O seu problema com mulheres é que você gosta muito, demais, de mulheres.
3
Mais exatamente, você é obcecado por uma determinada e bem definida dimensão da complexa natureza feminina: seus corpos, pura e simplesmente.

Dia do Poeta

Autopsicografia

O poeta é um fingidor. 
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor 
A dor que deveras sente. 

E os que lêem o que escreve, 
Na dor lida sentem bem, 
Não as duas que ele teve, 
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda 
Gira, a entreter a razão, 
Esse comboio de corda 
Que se chama coração.
do 
Portuga
Fernando Pessoa

Vingança de Lewandowiski?

É possível que sim
É presumível que Lewandowski tenha vazado para a mídia o pedido de Joaquim Barbosa para afastar do STF a mulher de um jornalista do Estadão a quem chamou de “palhaço” porque ele ousou perguntar sobre a famosa reforma de 90 000 reais nos banheiros de seu aparamento funcional.
Se foi isso, Lewandowski respondeu com vendetta à vendetta de JB. Não apenas ao vazar a manobra maldosa subterrânea de JB mas, ainda mais, ao dizer não. Num momento de explosão truculenta nas últimas sessões do Mensalão, JB acusou Lewandowski de promover “chicana”.
A argumentação de Barbosa para pedir a cabeça da funcionária é um escárnio: por ela ser mulher de um jornalista, haveria um problema de ética em ela trabalhar no STF.
É claro que este problema não existiria se o marido dela fosse, por exemplo, Merval Pereira. Digamos assim: o marido tem o nome errado.
JB falando de ética? É ético ele arrumar um emprego para seu filho na Globo, a sonegadora bilionária – e impune, até aqui – de impostos? É ético ele inventar que é dono de uma empresa para evitar impostos na compra de um apartamento em Miami? É ético ele bancar viagens de jornalistas em viagens que faz ao exterior em aviões da FAB apenas para conseguir cobertura positiva?
Muitas barbaridades são cometidas em nome da ética: um olhar para a biografia de Joaquim Barbosa – a real, não a fabricada pela mídia corporativa chapa branca dedicada a usá-lo com finalidades inconfessáveis — mostra isso.
Paulo Nogueira

Banco Bom financia para todos

O Banco do Brasil financia a diversidade

Coisas da oposição ociosa, cristovonica, blablarina e psolistas


Pimenta nos olhos dos outros...

O PSOL é o maior crítico do tal Plano de Cargos e Salários de Eduardo Paes para os professores cariocas, que tornou um caos o centro do Rio de Janeiro esta semana.
Beleza. 
Mas em Macapá, a primeira capital que o partido governa e tem a chance de mostrar que pode fazer diferente, o salário do professor é um dos piores do Brasil. 
Aos números:
Enquanto Eduardo Paes (PMDB) propõe um vencimento mínimo inicial de 4 147,37 reais para um professor com jornada de 40 horas – o que ainda é pouco, ressalte-se -.
Clécio Luis (PSOL) está pagando 1 347 reais por um profissional nas mesmas condições. Trata-se da única capital que tem salário abaixo do piso nacional de 1 567 reais.

Só dê ouvidos a quem te ama


Outras opiniões, se não fundamentadas no amor, podem representar perigo.

Tem gente que vive dando palpite na vida dos outros. O faz porque não é capaz de viver bem a sua própria vida. É especialista em receitas mágicas de felicidade, de realização, mas quando precisa fazer a receita dar certo na sua própria história, fracassa.

Tem gente que gosta de fazer a vida alheia a pauta principal de seus assuntos. Tem solução para todos os problemas da humanidade, menos para os seus. Dá conselhos, propõe soluções, articula, multiplica, subtrai, faz de tudo para que o outro faça o que ele quer. 

Só dê ouvidos a quem te ama, repito. Cuidado com as acusações de quem não te conhece. Não coloque sua atenção em frases que te acusam injustamente. Há muitos que vão feridos pela vida porque não souberam esquecer os insultos maldosos. Prenderam a atenção nas palavras agressivas e acreditaram no conteúdo mentiroso delas.

Mais uma mensagem da lavra de Valéria Caldas

Conversa Afiada - Blablarina só pensa nela

Sirkis sabe bem: ela é autoritária e dissimula sob xales
Saiu na Rolha de São Paulo
jornal que fez a pesquisinha para subjugar Celso de Mello, no dia do julgamento dos infringentes:

(…)

BATE-BOCA
A discussão sobre o futuro de Marina gerou inclusive um bate-boca dela com o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ). Ao defender a candidatura dela em 2014, o congressista citou que todas as legendas enfrentam problemas e que o grupo da Rede é eclético, tendo entre seus quadros gente de direita, de esquerda, progressistas e evangélicos de direito. 

Ela reagiu: “então só por que sou evangélica sou de direita?”, questionou. 

O deputado disparou ataques em tom de desabado, afirmando que ela estava pensando apenas na situação dela, sem entender o lado dos outros apoiadores da Rede, em especial com mandatos, e tinha demorado para criar a legenda. Nos últimos dias, Sirkis vinha apontando que estava preocupado com sua filiação no PV, sendo que o partido o teria isolado depois de ingressar no processo da Rede. 

Após o mal-estar, Marina chegou a deixar o local da reunião. 

Visivelmente irritado ao deixar a reunião, que ocorreu na casa de uma amiga de Marina, o deputado disse que não daria entrevistas e que estava voltando para o Rio de Janeiro. 

Maioria de aliados querem Blablarina em outro partido

A decisão do TSE de negar registro à Rede Sustentabilidade mergulhou num dilema a estrela da legenda, Marina Silva. A maioria dos seus correligionários defendia na noite passada que ela se filiasse a outro partido para se manter no jogo presidencial. Em privado, Marina não chegou a afastar essa hipótese em termos categóricos. Mas hesitava. Para virar candidata, Marina terá de se portar como uma anti-Marina.
Marina desfila em cena enrolada na bandeira do “novo modo de fazer política”. Se optar por permanecer na briga, terá de fazer política à moda antiga. Dispõe de menos de menos de 48 horas para se filiar a um partido com o qual não se identifica e providenciar um discurso que justifique a adesão a práticas que diz abominar.
Ao deixar o plenário do TSE, Marina alteou a fronte. “Já somos um partido”, ela declarou (veja no vídeo). Os ministros “disseram que nós temos um programa, representação social e ética.” A voz de um repórter soou ao fundo: Qual é o plano B? E Marina: “Eu tenho um plano A. E continuo no plano A.”
Um dos seguidores de Marina contou ao blog que ela de fato não elaborou um Plano B. Mesmo longe dos refletores não admitia que prosperassem as conversas sobre o que fazer caso o Plano A não desse certo. A imprevidência levou alguns deputados que seguem Marina a improvisar, em cima da perna, seus próprios planos de contingência. Um já negocia o ingresso no recém-fundado Solidariedade. Outro flerta com o PSB. Um terceiro espera por uma palavra final da ‘líder’.
As conversas que se seguiram ao Waterloo do TSE foram inconclusivas. Marina deve decidir o que fazer após encontro a se realizar nesta sexta-feira. Presidente do PPS, um dos sete partidos que cobiçam Marina, o deputado Roberto Freire (SP) disse que, em respeito ao pedaço do eleitorado que a mantém na segunda colocação das pesquisas eleitorais, ela deveria buscar uma filiação partidária.
“Se Marina quer transformar a política, precisa fazer política” disse Freire, que espera por um sinal da ex-senadora. Um correligionário de Freire tocou o telefone para dois amigos que gravitam ao redor do enigma da Rede. Ambos contaram que é grande a torcida para que Marina não repita agora o que fez em 2010.
Naquele ano, após obter quase 20 milhões de votos na sucessão de Lula, Marina se trancou em seus rancores e se absteve de apoiar um dos candidatos que passaram para o segundo turno: José Serra e Dilma Rousseff. Agora, os aliados rogam para que Marina dê uma chance a si mesma. Imagina-se que o eleitor que pende para ela vai preferir um ajuste na estratégia a vê-la fora da disputa.
Embora o Ibope tenha informado na semana passada que a taxa de intenção de votos de Marina caiu de 22% para 16%, ela não é uma competidora qualquer. Permanece no segundo lugar, à frente de Aécio Neves e Eduardo Campos. E a eventual ausência do nome de Marina na urna eletrônica diminui as chances de um segundo turno.
Josias de Sousa

TSE não arma a Rede da Marina

Principal candidata da oposição ao governo Dilma Rousseff de acordo com as últimas pesquisas, a ex-senadora Marina Silva viu o pedido de registro da sua Rede Sustentabilidade ser rejeitado na noite desta quinta-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Por 6 votos a 1, o tribunal entendeu que o partido não conseguiu obter o respaldo popular exigido em lei, que é de pelo menos 492 mil eleitores — faltaram quase 50 mil assinaturas de apoio.

Para atingir o número mínimo de assinaturas, a Rede pedia que o TSE tornasse válido um lote de quase 100 mil assinaturas que haviam sido rejeitadas pelos cartórios eleitorais de forma injustificada, segundo o partido.

A relatora, Laurita Vaz, negou esse pedido sob o argumento de que é "inconcebível com o ordenamento jurídico a validação [das assinaturas] por mera presunção". A favor da Rede, ficou apenas Gilmar Mendes.

Caso mantenha a intenção de se manter na disputa, Marina terá que se filiar entre essa sexta e o sábado a uma outra legenda — o nanico PEN (Partido Ecológico Nacional) e o PPS são cogitados.

da Folha

Juíza que prendeu adolescente com mais 30 homens vai "cuidar" de crianças e adolescentes

O TJ-PA (Tribunal de Justiça do Pará) decidiu nomear para  Vara de Crimes contra a Criança e Adolescente de Belém a juíza Clarice Maria de Andrade. A decisão foi publicada no Diário Oficial Eletrônico desta quinta-feira (3).
A magistrada foi a responsável pela decisão de manter por 26 dias uma adolescente presa em cela masculina com cerca de 30 homens, na delegacia de polícia de Abaetetuba, no interior do Pará, em 2007.
A jovem de 15 anos foi vítima de agressões e violência sexual no período e se tornou uma referência de violação aos direitos humanos em presídios no país.
Andrade chegou a ser aposentada compulsoriamente pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça), em decisão unânime em abril de 2010.
A Amepa (Associação de Magistrados do Pará) e a juíza recorreram da decisão e conseguiram, em agosto de 2012, no STF (Supremo Tribunal Federal), anular a decisão do CNJ. Em seguida, ela foi nomeada para a 6ª Vara Penal de Ananindeua, na região metropolitana de Belém.
OAB questiona
A nomeação foi criticada pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Pará, que vai tentar reverter a indicação para Vara de Crimes contra a Infância e Adolescência.
Segundo a presidente da comissão de Direitos Humanos da entidade, uma reunião com a cúpula do TJ-PA já está marcada para a próxima segunda-feira (7).
"A gente vai apurar o que aconteceu e entrar no diálogo com o TJ, pois ela é uma pessoa simbólica de algo que foi marcante por uma grave violação dos direitos humanos. Nós até entendemos que com a decisão do STF ela voltasse ao trabalho, mas nomear ela para essa vara é uma expressão de que o TJ parece não se importar com o que aconteceu", disse.
Para a Amepa, a juíza não foi responsável pelo caso, mas sim, "vítima da falência do sistema prisional brasileiro, que ela mesma já havia denunciado e requerido providências as autoridades competentes".
"[Ela] demonstrou a mais completa entrega a sua função de magistrada, em tudo dignificando a magistratura paraense", afirmou a a instituição, em nota de apoio à magistrada, logo após decisão do CNJ.
Decisão colegiada
O TJ-PA informou que a decisão foi tomada de forma colegiada, pelo pleno do órgão, e explicou que a nomeação ocorreu porque a juíza se inscreveu na seleção e venceu a disputa por estar habilitada para o cargo.
Ainda segundo o TJ-PA, para a escolha do juiz da vara, os desembargadores avaliam critérios definidos pelo CNJ, como presteza, agilidade e antiguidade --que determinam uma promoção por merecimento.
O TJ-PA afirmou que ela foi bem avaliada nos quesitos e que vem desempenhando um bom trabalho na magistratura.
O UOL tentou conseguir o contato da juíza Clarice Andrade, para que ela comentasse a decisão, mas não conseguiu. O CNJ não se pronunciou sobre a decisão.
O caso
Na decisão de sua aposentadoria compulsória, o CNJ alegou que a juíza foi condenada por ter se omitido em relação à prisão da menor, que sofreu torturas e abusos sexuais no período em que ficou presa irregularmente, em 2007.
A jovem de 15 anos foi detida por tentativa de furto, crime classificado como afiançável.
O CNJ entendeu que a juíza conhecia a situação da prisão --já que havia visitado o local três dias antes--, verificando a inexistência de separação entre homens e mulheres e as péssimas condições de higiene.
O conselheiro do processo, Felipe Locke Cavalcanti, disse ainda que a juíza nada fez para que adolescente fosse retirada da cela. A juíza também foi acusada de ter adulterado um ofício encaminhado à Corregedoria-Geral do Estado, que pedia a transferência da adolescente, após ter sido oficiada pela delegacia de polícia sobre o risco que a menor corria.
Em entrevista ao portal de notícias da AMB (Associação de Magistrados do Brasil), no último mês de junho,a juíza disse que foi vítima de uma injustiça.
"Fui afastada de uma forma violenta. Fui praticamente arrancada do cargo. Foi uma coisa que mexeu com toda a família. Fiquei doente, enfrentei um câncer e meu marido perdeu o emprego. Mas graças a Deus, temos um Deus poderoso e retomamos nossa vida", afirmou.
Segundo a AMB –que apoiou o retorno da juíza às suas atividades--, qualquer violação aos direitos no caso "foi de inteira responsabilidade da polícia, e nunca da juíza".